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Ministério Público Federal mapeia reunião com ex-senador Gim Argello

Com base em quebra de sigilos telefônicos, Ministério Público Federal identifica sinais do celular do empreiteiro Ricardo Pessoa na região onde fica a casa do ex-senador pelo Distrito Federal. Defesa do ex-parlamentar nega ilícitos

Eduardo Militão
postado em 28/04/2016 10:48
Argello é acusado de pedir propina para beneficiar empreiteiras

Um relatório do Ministério Público Federal (MPF) com a posição geográfica do empreiteiro Ricardo Pessoa durante uma ligação para um telefone do ex-senador Gim Argello (PTB-DF) é mais uma prova anexada nas investigações que apuram se o então parlamentar exigiu dinheiro para evitar que executivos de construtoras depusessem em CPIs da Petrobras. De acordo com o dono da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, e com o lobista Júlio Camargo, o ex-congressista teve várias reuniões para cobrar doações de campanha nas eleições de 2014, algumas na própria residência do político, na Península dos Ministros, no Lago Sul.

O dono da UTC Engenharia fez cinco telefonemas para o político em 28 de maio de 2014, de acordo com o Relatório de Informação 44/16, da Assessoria de Pesquisa e Análise da Procuradoria-Geral da República no Paraná. A primeira ligação foi às 12h47. A última, às 15h13. Mais tarde, os sinais transmitidos do celular de Ricardo Pessoa, entre as 17h55 e as 19h20, mostram que ele estava, durante todo esse tempo, nas proximidades da casa de Gim Argello. ;A localização da referida ERB (estação rádio-base, nome técnico da torre de celular) está a aproximadamente 535 metros de distância da residência indicada por Jorge Argello (Gim);, narra o documento, assinado em 25 de janeiro. Um mapa mostra no relatório a distância presumida entre a residência e a localização de Pessoa naquele momento.


"É importante registrar, para se afastar qualquer dúvida, que Gim não cometeu nenhum ato ilícito, sendo que os depoimentos dos delatores Ricardo Ribeiro Pessoa e Walmir Pinheiro Santana são inverídicos, como restará constatado
ao final das investigações;

Marcelo Bessa, advogado de Gim

[SAIBAMAIS]A mesma torre de celular transmitiu sinais do celular do empreiteiro nas datas de 18 de junho, às 10h46, e em 30 de julho, às 10h56. Ainda em 18 de junho, a agenda de Pessoa mostra uma reunião na casa de Gim.

Ricardo Pessoa doou R$ 5 milhões a campanhas eleitorais indicadas por Gim em 2014, uma delas para o ex-governador José Roberto Arruda. O primeiro pagamento foi de R$ 2 milhões, em 10 de julho, segundo ele declarou em delação premiada. Depois, pagou parcelas de R$ 600 mil, em 30 de julho, 15 de agosto, 25 de agosto, 15 de setembro e 1; de outubro. O publicitário Paulo Roxo, que trabalhava na campanha de Arruda e é apontado como operador do ex-senador, foi um dos responsáveis por buscar os pagamentos.

O relatório foi produzido depois que o juiz da Lava-Jato no Paraná, Sérgio Moro, autorizou a quebra de sigilos telefônicos de Gim e Roxo. Para embasar o pedido, o Ministério Público usa delações de Ricardo Pessoa e de seu diretor financeiro, Walmir Pinheiro Santana, a anotação na agenda do empreiteiro e registros de Roxo na portaria da empreiteira em São Paulo em 18 de agosto.

Depoimentos falsos

Em pedido de habeas corpus ao Tribunal Regional Federal da 4; Região, a defesa de Gim Argello negou que o cliente tenha participado de crimes. ;É importante registrar, para se afastar qualquer dúvida, que o paciente (Gim) não cometeu nenhum ato ilícito, sendo que os depoimentos dos delatores Ricardo Ribeiro Pessoa e Walmir Pinheiro Santana são inverídicos, como restará constatado ao final das investigações;, afirmou Marcelo Bessa, advogado do ex-senador. ;Não há documentos, diálogos, mensagens ou depoimentos de testemunhas ; exceto de réus ; que efetivamente corroborem a versão do Parquet de que o paciente tenha, de fato, solicitado ou aceito vantagem indevida para interceder junto às CPIs em favor da não convocação de dirigentes da UTC, da OAS, ou de qualquer outra empresa integrante do dito Cartel, e, muito menos que tenha atuado conscientemente para ocultar ou dissimular os valores pagos.;

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