Politica

Após cassação, Eduardo Cunha está inelegível até janeiro de 2027

O ex-presidente da Câmara sofre uma derrota acachapante no plenário da Câmara e tem o mandato cassado por 450 votos. Apenas 10 aliados se mostraram fiéis e se posicionaram contra a perda do mandato. Peemedebista culpa o impeachment de Dilma pelo resultado adverso

Paulo de Tarso Lyra
postado em 13/09/2016 06:42

Quase cinco meses após conseguir aprovar o processo de impeachment de Dilma Rousseff na condição de todo-poderoso presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) sofreu às 23h50 de ontem a maior derrota da sua trajetória política: acabou cassado por 450 votos a favor e apenas 10 contrários, com nove abstenções. Acusado de ter mentido à CPI da Petrobras ao dizer que não tinha conta no exterior e alvo de um processo por quebra de decoro parlamentar que durou pouco mais de 10 meses, o mais longo da história do Conselho de Ética, Cunha acompanhou a votação em plenário e saiu atirando contra o Planalto. ;Eu culpo o governo, que se aliou ao PT, para eleger um presidente da Câmara (Rodrigo Maia, do DEM-RJ) com uma única missão: cassar o meu mandato;, acusou Cunha.

[FOTO780353]

O agora ex-deputado, que está inelegível até 2027, prometeu escrever um livro contanto todos os bastidores do impeachment de Dilma Rousseff, incluindo conversas com diversos agentes públicos e políticos. Negou que vá fazer delação premiada, como tem sido ventilado, há tempos, por aliados. ;Só faz delação quem é criminoso e eu não cometi crime nenhum.; Cunha citou nominalmente o secretário do Programa de Parceria de Investimentos (PPI), Moreira Franco, como um dos seus desafetos. ;Ele é sogro de Rodrigo Maia;, lembrou. Questionado se era uma ameaça ao Planalto, o peemedebista foi lacônico. ;Eu não sou homem de fazer ameaças veladas;, pontuou. Rodrigo Maia não participou da votação, conforme previsto no Artigo 17 do Regimento Interno da Câmara.

O ex-presidente da Câmara sofre uma derrota acachapante no plenário da Câmara e tem o mandato cassado por 450 votos. Apenas 10 aliados se mostraram fiéis e se posicionaram contra a perda do mandato. Peemedebista culpa o impeachment de Dilma pelo resultado adversoCunha disse ter sido alvo de vingança do PT e reclamou, também, do fato de a votação de ter sido marcada para ontem. ;Diziam que estavam me protegendo por ter marcado a sessão para depois da conclusão do processo de impeachment de Dilma. Mas ela aconteceu em uma semana solta, a 15 dias das eleições. Com um plenário onde temos 50 candidatos a prefeito e outros tantos apoiando amigos e familiares, o resultado não poderia ser outro;, afirmou.

O peemedebista também ironizou a decisão de Rodrigo Maia de não ter aceitado o requerimento apresentado pelo deputado Carlos Marun (PMDB-MS), que deixava uma brecha para um abrandamento da pena. ;Curiosamente, o Senado fatiou o impeachment da ex-presidente Dilma com base em um artigo da Câmara. E Maia, que preside a Casa, recusou-se a aceitar o pedido;. Duas questões de ordem foram apresentadas.

Conforme já havia sido combinado, Marun pediu a votação um projeto de resolução, que, passível de emendas, permitiria a sugestão de uma pena mais branda a Cunha, como a suspensão do mandato. Maia recusou a questão e Marun entrou com recurso pedindo efeito suspensivo, que poderia retardar ainda mais o processo, mas não teve o apoio de nem um terço do plenário para colocar a proposta em análise.

Tese do ;golpe;
Em discurso de defesa aos parlamentares, antes de ser cassado, Cunha negou ter mentido à CPI da Petrobras e afirmou que não tem contas no exterior. ;Cadê a conta? Qual o número da conta?;, questionou. Ao longo de seu discurso, que superou os 25 minutos previstos, o peemedebista buscou reforçar que a cassação alimentaria a tese de ;golpe; defendida pelos apoiadores de Dilma.



[SAIBAMAIS]Ele garante não se arrepender de ter aceito o pedido de impeachment da ex-presidente. ;Eu me arrependo de não ter aceitado antes.; Cunha disse ainda não temer o juiz Sérgio Moro, que conduz o inquérito da Lava-Jato em Curitiba. Com a cassação, o peemedebista perde o foro privilegiado e o processo deve deixar de ser analisado pelo Supremo Tribunal Federal. ;Eu vou continuar me defendendo, só que, agora, em outra instância. Mas eu não temo pela minha família nem temo ser preso. Eu só temo a Deus.;

O resultado dilatado surpreendeu até mesmo o presidente do Conselho de Ética, José Carlos Rodrigues (PR-BA). ;Dez? Só 10 mesmo? Tem certeza que é só isso?;, indagou o parlamentar, atônito, a um assessor ao lado dele. Um voto a mais do que Cunha obteve no colegiado presidido por Araújo.

Cunha, que se manteve o tempo todo no plenário ouvindo os ataques e críticas dirigidos a ele, deixou o recinto tão logo o resultado foi proclamado, para conversar com os jornalistas. No caminho até um púlpito montado no Salão Verde ; no mesmo local em que, em 2 de dezembro de 2015, anunciou que aceitara o pedido de impeachment contra Dilma Rousseff ;, ouviu xingamentos de um grupo de servidores, que cantaram ;na Terra do Senhor, não existe Satanás;.

O deputado Sílvio Costa (PTdoB-PE) elogiou a coragem de Cunha e de Carlos Marun, praticamente a única voz que se levantou em plenário contra a cassação. ;Eu voto pela sua cassação, deputado Cunha, porque era oposição ao senhor nos tempos em que era voz isolada aqui. Mas o senhor e o deputado Carlos Marun são coerentes. Estão do lado errado, mas não são como o PSDB, o DEM e o PMDB, que lhe abandonaram;. Costa acabou vaiado por deputados tucanos.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação