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Com alta fidelidade na base, Michel Temer tenta acelerar pauta

Aliados de Temer pretendem aproveitar o embalo da aprovação do primeiro turno da PEC do Teto dos Gastos para tentar imprimir um ritmo maior das votações de interesse do governo no Congresso

Agência Estado
postado em 13/10/2016 07:55
O presidente Michel  Temer obteve nos cinco meses à frente do Palácio do Planalto uma taxa de apoio entre os deputados de 83%
O governo do presidente Michel Temer alcançou a maior taxa de fidelidade na Câmara dos Deputados desde o início das gestões petistas no Palácio do Planalto, em 2003. Simbolizada pela ampla maioria conquistada (366 votos a 111) na aprovação em primeiro turno da Proposta de Emenda à Constituição que institui por 20 anos um teto para os gastos públicos, a lealdade "recorde" da base aliada estimula o governo a acelerar sua agenda de votações no Congresso, em especial a reforma da Previdência.

Dados do Basômetro, ferramenta do jornal O Estado de S Paulo, mostram que Temer obteve nos cinco meses à frente do Palácio do Planalto - incluindo o período de interinidade - uma taxa de apoio entre os deputados de 83%, mais de 20 pontos porcentuais superior ao que a ex-presidente Dilma Rousseff conquistou em idêntico período do início do segundo mandato. É a maior adesão nos primeiros meses do mandato desde a primeira gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003.

Os dados mostram que o PMDB e o Centrão - grupo de partidos que integravam também a base aliada de Dilma, mas que depois aderiu ao impeachment - foram fundamentais nesse resultado. Em idênticos períodos, o apoio do PP ao Palácio do Planalto foi de 62% para 97%; do PTB de 70% para 93%; e do PR de 80% para 95%; e do PSD de 73% para 95%. O PMDB foi de 70% para 98%.

[SAIBAMAIS]Esse desempenho é atribuído a diversos fatores. Primeiro, Temer montou um ministério com nomes majoritariamente egressos do Congresso. Hoje, dos 24 ministros, dez são deputados federais e senadores licenciados, dois são ex-deputados e um é suplente de deputado. Outros dois são presidentes de partidos. Além disso, Temer já presidiu a Câmara por três vezes e faz de encontros e contatos com parlamentares uma rotina. O resultado das eleições municipais, no qual a oposição foi reduzida, também ajudou, segundo parlamentares, a impulsionar a agenda reformista no Congresso.

Agora, aliados de Temer pretendem aproveitar o embalo da aprovação do primeiro turno da PEC do Teto dos Gastos para tentar imprimir um ritmo maior das votações de interesse do governo no Congresso. O Palácio do Planalto conseguiu 366 votos de deputados a favor da proposta, 58 a mais do que o mínimo necessário. Com um voto favorável a mais, o governo repetiria na Casa o número alcançado na votação que aprovou a admissibilidade do impeachment de Dilma em abril deste ano.

Pauta
Mesmo assim, o Planalto quer afinar sua relação com a Câmara - houve 26 votos contra de partidos da base - preocupado com a futura apreciação da reforma da Previdência, que será encaminhada em breve ao Legislativo e é considerada a mais polêmica pauta da agenda do Executivo. O governo, que ameaça retaliar quem da base tenha votado contra o governo no primeiro turno da PEC, já começou a se debruçar sobre o mapa de votações para identificar insatisfações entre os aliados. As principais demandas se referem a nomeações em aberto do setor elétrico e nas vice-presidências do Banco do Brasil e da Caixa e a liberação de emendas parlamentares.

O presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), afirmou que o governo quer acelerar a votação de ao menos quatro propostas legislativas ao mesmo tempo em que vai começar a discutir a reforma da Previdência: a medida provisória que reformou o currículo do ensino médio; a conclusão do projeto que acaba com a obrigatoriedade de a Petrobrás ser a operadora exclusiva do pré-sal; a venda dos créditos tributários que foram parcelados; e a possibilidade de renovação e devolução das concessões - esta última medida, pendente de envio de uma medida provisória pelo Planalto, está em fase final de discussão com o Tribunal de Contas da União (TCU).

"Não pode ser uma novela, tem de ser uma minissérie, bem rápida", disse Jucá, sob o ritmo que o governo pretende imprimir na apreciação dessas propostas no Congresso. Por trás dessa velocidade, está a preocupação na base com o impacto do aumento do desemprego já esperado pelo governo - estimativas indicam que deve chegar a 14 milhões de pessoas até março. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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