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PF vai investigar ligação de sobrinho de Lula em caixa dois de campanhas

Empresário é réu em ação penal por suspeita de participar de esquema de corrupção no país africano

postado em 19/10/2016 20:05

Empresário é réu em ação penal por suspeita de participar de esquema de corrupção no país africano

A Polícia Federal vai abrir um inquérito para apurar a suspeita de que o empresário Taiguara Rodrigues, sobrinho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atuou para abastecer o caixa dois de campanhas eleitorais em 2012, na disputa pelas prefeituras. O objetivo é investigar ;movimentações financeiras irregulares; na conta da Exergia Brasil, de Taiguara e seu sócio Emmanuel Camano, ;no interesse; do candidato do PT em São Bernardo, Tarcísio Secoli, e de seu aliado, o prefeito petista, Luiz Marinho, ;possivelmente relacionadas à campanha eleitoral; na cidade. Mas o relatório dos delegados que atuam na Operação Janus é mais amplo e cita repasses de dinheiro, trocas de e-mail e saques em espécie sobre a campanha em Taubaté (SP) e sobre o Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) em Minas Gerais.

Lula, o sobrinho e o presidente da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, são alguns dos réus em ação penal que os acusa de participar de um esquema de corrupção a partir de obras da empreiteira em Angola, financiadas com dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A construtora obteve US$ 2,7 bilhões em empréstimos para empreendimentos no país africano e subcontratou a firma de Taiguara por R$ 20 milhões.

Em 2012, a Exergia pagou valores às empresas ligadas a campanhas eleitorais. ;É possível, portanto, que as movimentações financeiras suspeitas tenham a finalidade de dissimular o pagamento de gastos de campanhas não contabilizados, já que ocorreram em ano eleitoral;, escrevem os delegados Fernanda Costa e Guilherme Siqueira em documento que integra a ação penal da Operação Janus.

A Exergia pagou R$ 220 mil para a Aquarela Print Serviços de Impressão Gráfica. De acordo com dados levantados pelo Correio, dos R$ 160 mil recebidos pela firma de comitês partidários naquelas eleições, R$ 104 mil foram do Diretório do PT em São Paulo e R$ 42 mil do diretório petista em São Bernardo do Campo, quando Luiz Marinho (PT) conseguiu a reeleição.

A PF acrescenta que, em trocas de e-mails, Camano e Tarcísio Secoli combinavam pagamento de fornecedores e entregas de recursos. Secoli foi o coordenador de campanha de 2012 de Marinho, ex-secretário municipal da prefeitura e candidato derrotado nas últimas eleições. A Exergia pagou R$ 53 mil para a Petris Comunicação Visual. Um e-mail para Camano informa que o pagamento será feito ;conforme solicitação do Tarcísio;. Na Petris, uma pessoa que se identificou como dona da empresa disse à reportagem ontem que o negócio se referia a ;material de impressão;, mas que foi fechado por um vendedor chamado Richard ; ele não foi localizado pelo Correio.

Em 4 de outubro de 2012, Camanho envia ao coordenador de campanha e-mail em que diz que ;o saldo estará disponível para saque;. Secoli indica o endereço: Avenida Redenção, 514. Segundo uma fonte disse ao Correio, esse era o comitê de campanha do próprio Marinho. A PF informa que, no dia combinado, a conta da Exergia registra um saque de R$ 33 mil em espécie. Outro pagamento feito pela Exergia e listado pela PF são R$ 117 mil para o posto BR-101 Autocenter.

A reportagem questionou a prefeitura de São Bernardo se Taiguara e suas empresas pagaram despesas da campanha vitoriosa de 2012, mas não obteve respostas. ;Todos os recursos recebidos pela campanha à reeleição do prefeito Luiz Marinho constam da prestação de contas entregue e aprovada pela Justiça Eleitoral;, limitou-se a explicar a assessoria do prefeito.

Depósitos

Relatório da polícia revela que a Exergia pagou R$ 110 mil à Artcen Promoções Artísticas em setembro de 2012. A empresa prestou serviços à campanha do ex-prefeito de Taubaté (SP) Roberto Peixoto (PMDB) e trabalhou para o candidato do PT em 2012, Isaac do Carmo, aliado dos peemedebistas à época. O comitê do PT em Taubaté pagou R$ 241 mil à Artcen, segundo o TSE. ;A Prefeitura de Taubaté e o prefeito Paulo Miranda (PP) desconhecem o assunto;, informou a assessoria do município.

A Exergia ainda recebeu R$ 500 mil da AFN Consultoria Ltda. em 2012, embora Taiguara tenha declarado que o único cliente da firma fosse a Odebrecht. O sócio da consultoria é Aristides França Neto, presidente do PRTB de Minas. ;Não foram encontradas razões que justifiquem os depósitos da AFN em benefício da Exergia, posto que Taiguara Rodrigues foi assertivo em afirmar, em suas declarações, que ;o único cliente da Exergia Brasil era a Construtora Odebrecht Angola;;.

Ainda em 2012, a Exergia pagou R$ 1,48 milhão à T7 Quattro Consultoria, ;uma empresa inativa; e sem clientes, de acordo com Camano. A Odebrecht e a defesa de Taiguara não quiseram comentar. A reportagem não obteve esclarecimentos das empresas Aquarela, Artcen e BR-101. Isaac do Carmo e Aristides França não foram localizados.

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