Politica

Protestos pró-Lava-Jato miram Renan e Maia

Manifestantes vão às ruas em todo o país contra a tentativa do Congresso de desmontar pacote do Ministério Público de combate à corrupção. E os principais alvos dos atos ao longo do dia acabaram sendo os presidentes da Câmara e do Senado

Patrícia Rodrigues - Especial para o Correio
postado em 05/12/2016 06:00

Ato em Copacabana, no Rio: Planalto, Câmara e Senado divulgaram nota logo após o fim dos protestos de ontem

A votação das 10 Medidas de Combate à Corrupção, na calada da noite, fez com que milhares de pessoas saíssem às ruas no domingo (04/12) para pedir o afastamento do presidente do Senado, o peemedebista Renan Calheiros.

Gritando palavras de ordem, manifestantes de mais de 200 cidades declararam apoio à Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, e repudiaram a emenda ao projeto que pune promotores e juízes por abuso de autoridade. Os protestos de ontem deixaram claro que Calheiros substituiu o papel de algoz, até então atribuído a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e atingiram também o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
[SAIBAMAIS]
As manifestações populares preocupam o andamento de votações importantes no Congresso Nacional. Calheiros afirmou que manifestações são legítimas e, quando ordeiras, devem ser respeitadas. O peemedebista relembrou o ano de 2013, quando o Senado votou 40 propostas contra a corrupção em menos de 20 dias.

;O Senado continua permeável e sensível às demandas sociais;, disse por nota. Já Maia afirmou que a Casa recebeu com atenção os protestos. ;Manifestações desse tipo, em caráter pacífico e ordeiro, servem para oxigenar nossa jovem democracia e fortalecem o compromisso do Poder Legislativo com o debate democrático e transparente de ideias;, informou, por nota, a Câmara dos Deputados.

Os atos foram organizados pelos movimentos ;Vem Pra Rua; e ;Movimento Brasil Livre; (MBL), dois dos principais organizadores dos protestos a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Convocados pelas redes sociais, mais de 131 mil pessoas confirmaram presença na página do evento. O Rio de Janeiro recebeu 600 mil pessoas, nos cálculos dos organizadores. Cidades como Curitiba e Belo Horizonte tiveram um público menor, cerca de 40 mil e oito mil, respectivamente, de acordo com as organizações.

A votação do relatório do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), na madrugada da última terça-feira, com mais de 10 destaques, no dia em que o país estava sob forte comoção por causa do acidente aéreo do time da Chapecoense, causou revolta na população. Questionado se a Câmara deveria fazer um mea culpa sobre as modificações no projeto das 10 medidas anticorrupção, o líder do PSD Rogério Rosso (DF) avaliou que ;os senadores, como revisores da matéria, precisam dar essa resposta;.

Em São Paulo, manifestantes se reuniram na Avenida Paulista com faixas que traziam os dizeres ;Congresso Corrupto;. Além disso, bonecos do ex-presidente Lula e de Renan Calheiros foram colocados ao lado do caminhão de som do coletivo Nas Ruas. Pequenos bonecos apelidados de ;Super-Moro; e ;Luladrão; foram vendidos a R$ 10 na Paulista.

A preocupação dos parlamentares é que as manifestações se acentuem e dificultem votações consideradas primordiais para o governo, como a reforma da Previdência. Na semana passada, o presidente Michel Temer chegou a afirmar que as manifestações não preocupavam o governo. Na noite de ontem, no entanto, a Presidência da República soltou uma nota afirmando que ;a força e a vitalidade de nossa democracia foram demonstradas mais uma vez;. O tom da presidência mudou após o grande protesto no dia de ontem. ;É preciso que os poderes da República estejam sempre atentos às reivindicações da população brasileira;.

Abuso de autoridade


Calheiros, que se tornou réu por desvio de dinheiro público no Supremo Tribunal Federal (STF), na última quinta-feira, foi o alvo principal. Autor do projeto que atualiza a Lei de Abuso de Autoridade, o senador quer criminalizar excessos cometidos por juízes, procuradores e promotores. A proposta é condenada pelos organizadores dos protestos, que veem o projeto como retaliação de Calheiros contra o Poder Judiciário e o Ministério Público.

O presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Roberto Veloso, ressaltou o apoio dos manifestantes aos magistrados e afirmou que as manifestações de ontem demonstram que a população não suporta mais conviver com tanta corrupção. ;O apoio demonstrado à magistratura e ao Ministério Público é a prova cabal do equívoco cometido pela Câmara dos Deputados em aprovar medidas de retaliação aos encarregados de apurar e julgar os casos envolvendo corruptos;, disse. Os manifestantes prometeram permanecer nas ruas até que o projeto original das 10 Medidas seja aprovado e que a Lei de abuso de autoridade seja esquecida.

Balanço dos organizadores

No Recife, a manifestação reuniu, segundo os organizadores, cerca de 16 mil pessoas. A porta-voz do Vem Pra Rua na capital pernambucana, a economista Maria Dulce Sampaio, comemorou o resultado do protesto. ;Deixamos claro o nosso apoio integral à Operação Lava-Jato e mostramos que, como cidadãos honestos e eleitores conscientes, não vamos permitir que joguem na lata do lixo os avanços das investigações. Exigimos punição para todos os envolvidos em casos de corrupção;, afirmou a mulher.

Os protestos também acabaram em Belo Horizonte e, segundo a Polícia Militar, não houve incidentes na capital, nem no interior. Também alvo das manifestações, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), não fez comentários.

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