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Aliados admitem que governo Temer passa por pior momento desde a posse

Licença do ministro Eliseu Padilha, pivô da instabilidade, deve se prolongar mais do que o previsto

Paulo de Tarso Lyra, Antonio Temóteo
postado em 25/02/2017 07:00
Licença do ministro Eliseu Padilha, pivô da instabilidade, deve se prolongar mais do que o previsto

O pedido de licença médica para uma cirurgia de próstata do chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, pode se prolongar por mais tempo que o esperado. Diante das graves denúncias feitas pelo ex-assessor da presidência da República José Yunes ao Ministério Público Federal, afirmando ter servido de ;mula; para levar a Padilha um envelope lacrado entregue pelo doleiro Lúcio Funaro, há quem acredite que os dias do peemedebista no governo estão contados. No Planalto, há uma nítida perplexidade e incômodo, não apenas porque dois dos aliados mais próximos do presidente Temer estão sob severas dúvidas, mas também porque o próprio presidente está envolvido no caso.

Ele encontrou-se com Yunes na quinta-feira, horas antes do pedido de licença médica feito por Padilha. ;Não dá para agir da mesma maneira que agimos em outros casos. Não é um delator preso de uma empresa que tinha contratos com o governo. É um amigo do presidente, que esteve trabalhando no Planalto até dezembro, acusando seriamente outro amigo do presidente;, lamentou, perplexo, um interlocutor palaciano. ;A situação não está boa;, resumiu.

[SAIBAMAIS]Pessoas próximas ao presidente consideram possível, caso Padilha tenha, de fato, de sair do governo, que o substituto natural seja o atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Ele comanda atualmente as finanças públicas, o orçamento e ainda pode gabar-se do fato de a economia já dar sinais de retomada. Na Casa Civil, teria influência sobre todos os setores do governo e condições de fazer o Executivo decolar.

A percepção é de que, sem os principais aliados, alvejados pela Operação Lava-Jato, Temer poderia adotar essa solução para tentar restabelecer a sua combalida credibilidade. Além disso, abriria espaço para Meirelles convidar para o governo mais um economista de peso que manteria o mercado tranquilo.

Investidores alertam que Temer não pode vacilar na escolha. Padilha tem sido fundamental na negociação da reforma da Previdência com o Congresso e tem ;a mente antenada com as mudanças que o país precisa;, elogiou um analista de mercado. Meirelles poderia se sair bem nesse papel, uma vez que tem conseguido apoio dos diversos partidos da base aliada, entre eles, o PSDB, para aprovar propostas para recuperar as finanças públicas.

Sua ida para a Casa Civil, entretanto, fortaleceria uma possível candidatura a Presidência da República em 2018 e incomodaria caciques de outros partidos. Inclusive do PSDB, que, neste momento, diminui o fogo amigo contra o titular da Fazenda, mas que, no fim do ano passado, defendia a troca de Meirelles pelo ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga.

Insegurança

Por enquanto, oficialmente, Padilha está de licença médica, que dura, em tese, até 6 de março. Nesta semana, ele já havia sido internado, por dois dias, por conta de uma obstrução urinária, decorrente do aumento da próstata. O procedimento a que ele vai se submeter é mais simples, pois trata-se de um tumor benigno e há o prazo para recuperação total. O que preocupa o meio político é a insegurança. Padilha já havia sido citado na delação do ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht Cláudio Mello Filho.

Segundo Mello Filho, a empreiteira teria doado R$ 10 milhões em 2014, a pedido do então vice-presidente Michel Temer, para campanhas do PMDB. Padilha teria ficado com R$ 6 milhões e outros R$ 4 milhões teriam sido destinados à campanha de Paulo Skaff ao governo de São Paulo. Ontem, a secretaria de comunicação da Presidência foi obrigada a soltar uma nota reafirmando a lisura da operação.

;Quando presidente do PMDB, Michel Temer pediu auxílio formal e oficial à Construtora Odebrecht. Não autorizou nem solicitou que nada fosse feito sem amparo nas regras da Lei Eleitoral. A Odebrecht doou R$ 11,3 milhões ao PMDB em 2014. Tudo declarado na prestação de contas ao TSE. É essa a única e exclusiva participação do presidente no episódio;, resumiu a nota.

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