Politica

Delações da Odebrecht levantam questão: quais políticos chegarão a 2018?

Depois da divulgação da lista-bomba, políticos estudam movimentos para as próximas eleições; dificuldade maior será para os candidatos ao Senado, aos governos estaduais e ao Planalto

Natália Lambert, Paulo de Tarso Lyra, Rodolfo Costa
postado em 13/04/2017 06:00

Janot, procurador-geral da República: lista da Lava-Jato carimbou a elite política do país, que agora estuda como encarar as urnas no ano que vem

Diante da impossibilidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) concluir os inquéritos da Lava-Jato até o ano que vem, os políticos citados na lista de Edson Fachin/Rodrigo Janot vão para as eleições gerais de 2018 carimbados com o rótulo de investigados. A situação ficará mais complexa para candidatos a cargos majoritários, como Senado, governos estaduais e presidência da República. Nas eleições proporcionais, a chance de se esconder em uma chapa de partidos ou na lista fechada pode aumentar as possibilidades de êxito nas urnas.


Essa dificuldade cria um outro embaraço, desta vez, para o governo. Os políticos, por uma questão de sobrevivência, também devem ter mais dificuldades em aprovar medidas impopulares, como as reformas da Previdência e trabalhista. ;A única alternativa seria se a aprovação das reformas conseguisse dar um choque de otimismo, os investidores despejassem recursos infinitos e o otimismo remontasse à 2010. Mas isso não vai acontecer, não dá tempo;, afirmou o cientista político do Insper, Carlos Melo.

Os inquéritos abertos a partir das delações da Odebrecht provocaram estragos em linhas sucessórias estaduais importantes. Minas, Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Maranhão e outras unidades da Federação que tiveram os principais caciques partidários avariados pelas denúncias. Os três presidenciáveis do PSDB ; Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra ; têm inquéritos. Maior estrela do PT e candidato do partido ao Planalto em 2018, Luiz Inácio Lula da Silva terá de se virar para explicar-se na Justiça Federal do Paraná.

;Não há ainda como cravar que em 2018 trocaremos completamente o establishment político brasileiro. Mas teremos o início de uma renovação, que poderá vir até por dentro, com a eleição de filhos e parentes dos citados na Lava-Jato;, avaliou o analista político da XP Investimentos, Richard Bach. ;Agora, com o levantamento dos sigilos, os vídeos dos depoimentos dos ex-executivos vão viralizar nas redes sociais;, completou Richard.


Ajuda

Para o diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto de Queiroz, a crise também pode ajudar o governo Temer em pelo menos um quesito: a continuidade da gestão do peemedebista. ;Com esse Congresso completamente envolvido na Lava-Jato, ninguém vai torcer pela derrubada de Temer via Tribunal Superior Eleitoral e deixar nas mãos dos parlamentares a missão de escolher um presidente temporário pelo voto indireto;, cravou Toninho.

Com o agravamento da crise, até mesmo os mecanismos de autoproteção do Parlamento ficarão comprometidos. Deputados experientes acreditam que ficará muito mais difícil, a partir de agora, aprovar propostas como anistia ao Caixa 2 e a lista fechada para deputados. ;A lista fechada é a melhor alternativa para uma eleição que terá de ser financiada com dinheiro público. Mas passará a impressão de que queremos nos esconder nela;, protestou um integrante da Comissão Especial da Reforma Política.

O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), ele próprio um citado nos escândalos da Lava-Jato e que conseguiu provar a inocência, alertou ontem que o Parlamento perdeu toda a credibilidade para votar qualquer proposta que envolva mudanças constitucionais. ;Essas matérias só poderão ser votadas após uma consulta popular, seja um plebiscito ou um referendo. Precisamos de respaldo do cidadão para aprovar essas mudanças;, acrescentou Delgado.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), mantém a confiança na aprovação da reforma da Previdência. ;O governo não parou nem vai parar. Não temos por que misturar Judiciário com Executivo e Legislativo. Cada um cumpre seu papel;, destacou Jucá, um dos recordistas em número de inquéritos no Supremo, com cinco pedidos de investigação envolvendo a Lava-Jato. ;Deixa o Judiciário cumprir o papel dele. Nós vamos apoiar. Eu apoio;, assegurou.

O parlamentar garante que a lista do Fachin não impõe dificuldades para a aprovação das reformas trabalhista e da Previdência. ;Pelo contrário. Estamos ajustando as propostas para melhorar o grau de facilidade;, disse. Jucá avalia que deputados e senadores continuarão tendo legitimidade e autoridade para tocar as discussões das propostas. ;Até que se prove a culpa, todos são inocentes. Não há demérito em ser investigado, mas, sim, em ser condenado;, avaliou.

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