Politica

Planalto vive semana decisiva para definir a permanência de Temer

Essa é uma aposta decisiva para esvaziar a crise, pois uma decisão favorável do Supremo Tribunal Federal, na próxima quarta-feira, serviria para estabilizar a base de apoio do governo no Congresso

Luiz Carlos Azedo
postado em 22/05/2017 06:00

Foi mais um domingo de longas reuniões, intermináveis conversas e avaliações com aliados próximos. A crise que não esfria,o que obrigou Temer a fazer dois pronunciamentos nas últimas 72 horas, ameaça a estabilidade

Disposto a lutar pelo cargo com todas as forças de que dispõe o governo, o presidente Michel Temer tenta matar no nascedouro a investigação aberta contra ele pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com autorização do ministro-relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin. Temer pleiteia que a gravação clandestina feita pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS, durante conversa privada no Palácio do Jaburu, seja desconsiderada, alegando que a mesma foi obtida de forma ilícita e os áudios foram fraudados. Se a prova for anulada, não haverá motivo para a investigação.

Essa é uma aposta decisiva para esvaziar a crise, pois uma decisão favorável do Supremo Tribunal Federal, na próxima quarta-feira, serviria para estabilizar a base de apoio do governo no Congresso. Ontem à noite, o advogado do presidente Michel Temer também protocolou um pedido para que a Polícia Federal esclareça 15 pontos sobre o áudio da conversa entre o presidente e o dono do frigorífico JBS, Joesley Batista. Segundo Gustavo Guedes, é preciso saber se há edições no áudio, como cortes, e saber se as frases foram alteradas da sequência. Laudos revelados pela imprensa sugerem que o áudio sofreu dezenas de edições. A defesa da JBS negou que o áudio da conversa tenha sido adulterado.

Os partidos vão aguardar a decisão do Supremo para tomar uma decisão, pois avaliam que a situação ainda é muito grave e somente o embargo das investigações pode estancar a crise. A posição da maioria dos ministros da Corte é uma grande incógnita. A votação dependerá da robustez das provas apresentadas pelo Ministério Público.

Reuniões


[SAIBAMAIS]No fim de semana, houve muitas conversas e reuniões reservadas entre os caciques dos partidos aliados, que estão divididos quanto à permanência no governo. O Palácio do Planalto conseguiu impedir que PSDB e DEM reunissem suas respectivas executivas para discutir o desembarque do governo. O PPS e o PSB já saíram do governo. No sábado à tarde, o secretário de Governo, ministro Antônio Imbassahy (PSDB), chegou a convidar ministros e líderes dos partidos para um jantar na noite de ontem no Palácio da Alvorada, mas o que seria um gesto formal de apoio dos aliados virou uma reunião informal. O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, minimizou o encontro: ;Não tem jantar, nem solenidade. Quem estiver aqui em Brasília vai passar pelo Palácio da Alvorada para conversar.;

Temer formou um estado-maior para gerenciar a crise, com Padilha e Imbassay e os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), Henrique Meirelles (Fazenda) e Raul Jungmann (Defesa). Ontem, no Alvorada, também recebeu o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Darcísio Perondi (PMDB-RS), Rogério Rosso (PSD-DF) e Carlos Marun (PMDB-RS); e os líderes do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), e no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Discutiu a agenda da Câmara, onde pretende manter a iniciativa política, aprovando medidas provisórias. ;O jantar foi ótimo, Temer demonstrou muita confiança;, disse Rosso.

A votação da reforma da Previdência, porém, continua em suspense. Também conversou com o presidente do Senado, Eunício de Oliveira (PMDB-CE), para manter na pauta de votação do Senadod o segundo turno do foro privilegiado. ;Ele disse que não renuncia e vai até o fim do governo;, assegurou o líder na Câmara, Agnaldo Ribeiro (PP-PB)

Impeachment


Os pedidos de impeachment do presidente Temer, que já são oito, não preocupam o governo. Todos podem ser arquivados por Rodrigo Maia, que tem atribuições para isso, graças à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) quando anulou a primeira votação da comissão especial da Câmara, que aceitou o impeachment e deu poderes monocráticos para arquivar ou dar andamento aos pedidos ao então presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que hoje está preso e, quanta ironia, é citado nas gravações.

A oposição, porém, pretende pressionar Maia para que encaminhe os pedidos à apreciação dos deputados, descartando qualquer possibilidade de acordo que possa dar um alívio para Temer. ;Nós queremos a saída de Temer e convocação de eleições diretas;, afirma o líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), que mantém boas relações com Maia. A denúncia de Joesley Batista, porém, não deixou de fora o PT, pois o empresário revelou que destinou US$ 150 milhões no exterior para os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, o que ambos negam.

Preocupação


A maior preocupação do governo é com o PSDB, que ocupa quatro ministérios ; Cidades, Relações Exteriores, Secretaria de Governo e Direitos Humanos ;, porque a bancada da Câmara, com 47 deputados, está muito insatisfeita. A saída do ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB-PE), que chegou a ser anunciada, foi contida a pedido dos dez senadores e da cúpula partidária. A legenda ainda se refaz do trauma causado pelas denúncias do empresário Joesley Batista contra o senador Aécio Neves (MG), que presidia a legenda, foi obrigado a renunciar e agora está com mandato suspenso por Fachin. Temer vem tendo, porém, o apoio do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que segura a bancada paulista.

Também é grande a tensão no DEM, onde o senador Ronaldo Caiado (GO) pressiona a cúpula da legenda para que deixe o governo. Essa não é a posição, porém, do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que vem sendo um esteio para Temer, embora seja o primeiro na linha de sucessão, caso o presidente da República renuncie ou tenha seu mandato cassado.

;Não teve jantar, nem solenidade. Quem esteve em Brasília passou pelo Planalto
para conversar;
Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil

;Nós, do PT, queremos a saída de Temer e a convocação de eleições diretas;
Carlos Zarattini, líder do PT na Câmara


; Dias de tensão


A maratona que Temer enfrentará nos próximos dias

; Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) vai levar ao Congresso o pedido de abertura de processo de impeachment contra o presidente

; Para tentar mostrar força, governo pede que aliados limpem a pauta de votações na Câmara ; Medidas Provisórias ; e analise o segundo turno da PEC do Foro Privilegiado no Senado

; Supremo Tribunal Federal analisará na quarta-feira o pedido feito pela defesa do presidente de perícia no áudio do empresário Joesley Batista e de que o inquérito seja suspenso enquanto a análise não for concluída

; O Instituto Nacional de Criminalística (INC) pode concluir a perícia, embora não haja prazo estipulado para isso

; No cronograma original, o governo pretendia votar, nesta semana, a reforma da Previdência no plenário. O planejamento será adiado

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