Politica

'Não vejo como o PSDB possa continuar no governo', diz FHC

Fernando Henrique Cardoso volta a usar metáforas e diz que preferia a "pinguela", mas ela não pode continuar quebrando

Paulo de Tarso Lyra
postado em 16/06/2017 07:02
Fernando Henrique Cardoso volta a usar metáforas e diz que preferia a

Três dias depois de uma reunião executiva do partido decidir ; sem votação nominal ; sobre a permanência do PSDB no governo enquanto não surgirem fatos novos que possam agravar a situação do governo de Michel Temer, o presidente de honra do partido, Fernando Henrique Cardoso, incendiou o debate. Ele questionou a autoridade que o peemedebista tem hoje, alertou para um movimento vindo das ruas pedindo antecipação do processo eleitoral e usou, novamente, a metáfora que adora, da qual esse governo é um pinguela. ;Preferiria atravessar a pinguela, mas, se ela continuar quebrando, será melhor atravessar o rio a nado e devolver a legitimação da ordem à soberania popular;, disse ele.

As palavras do presidente repercutiram intensamente nas hostes tucanas. O partido ainda está cindido desde a última segunda-feira. Até a reunião da Executiva, apenas os cabeças-pretas, liderados pelo deputado Daniel Coelho (PE), defendiam ostensivamente o rompimento. No encontro, o racha aumentou, com o próprio presidente interino do partido, Tasso Jereissatti, do Ceará, e o senador Ricardo Ferraço (ES), relator da reforma trabalhista no Senado, admitindo que se posicionaram a favor do rompimento, mas acataram a decisão da maioria.

[SAIBAMAIS];Agora, além dos cabeças-pretas e dos cabeças-brancas, teremos o grupo dos votos vencidos, puxado por Tasso, Ferraço e o próprio Fernando Henrique Cardoso. Esse grupo tende, cada vez mais, a tensionar o debate com o restante da legenda;, afirmou um tucano que participou ativamente da reunião da Executiva Nacional. A sensação de paralisia do governo Temer, nas últimas semanas ; interrompida apenas pela votação da reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e por alguns indicadores positivos da economia ; aumenta a angústia de um grupo cada vez maior de tucanos. ;A Câmara não vota nada. A cada dia surgem fatos novos, aviões, helicópteros. Isso aumenta a sensação de desconforto;.

Esse quadro é classificado por Fernando Henrique como anomia ; ausência de lei ou de regra, desvio das leis naturais, anarquia, desorganização segundo o dicionário. ;A conjuntura política do Brasil tem sofrido abalos fortes e minha percepção também. Se eu me pusesse na posição de presidente e olhasse em volta, reconheceria que estamos vivendo uma quase anomia. Se tudo continuar como está, com a desconstrução contínua da autoridade, pior ainda, se houver tentativas de embaraçar as investigações em curso, não vejo mais como o PSDB possa continuar no governo;, completou FHC.

;Grandeza;

O ex-presidente reconheceu que o atual momento político está amparado na legalidade e nas regras constitucionais, o que, em tese, transformaria em golpe um pedido de eleições gerais antecipadas. Em tese. ;Não havendo aceitação generalizada de sua validade (da autoridade presidencial), ou há um gesto de grandeza por parte de quem legalmente detém o poder pedindo antecipação de eleições gerais, ou o poder se erode de tal forma que as ruas pedirão a ruptura da regra vigente exigindo antecipação do voto;, defendeu Fernando Henrique.

A manutenção do apoio ao governo foi possível graças à costura feita pelos governadores do partido ; especialmente Geraldo Alckmin (São Paulo) e Marconi Perillo (Goiás). O argumento apresentado por eles é a defesa da estabilidade econômica, afirmando que uma ruptura institucional neste momento abafaria os pálidos sinais de recuperação econômica. Tanto Alckmin quanto Perillo estiveram com Temer em um jantar na terça-feira, quando foi acertado o repasse de R$ 50 bilhões de linha de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) para obras de infraestrutura.


"Se tudo continuar como está, com a desconstrução contínua da autoridade, pior ainda, se houver tentativas de embaraçar as investigações em curso, não vejo mais como o PSDB possa continuar no governo;
Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente

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