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Prisão de Geddel Vieira Lima deixa em alerta aliados de Michel Temer

Aliados do Planalto se esforçam para dissipar a ideia de que detenção do ex-ministro numa semana decisiva no Congresso influenciará a avaliação de parlamentares quanto à autorização para o processo contra o chefe de Estado no Supremo Tribunal Federal

Natália Lambert
postado em 04/07/2017 07:03
Geddel Vieira Lima é acusado de obstrução à Justiça com base em informações do doleiro Lúcio Funaro
A prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima trouxe mais problemas ao governo em uma semana que já não seria fácil. O presidente Michel Temer precisa apostar todas as fichas na relação com a base governista na Câmara para derrubar a denúncia de corrupção passiva apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Com a possibilidade de o procurador-geral, Rodrigo Janot, apresentar outra denúncia hoje ao Supremo Tribunal Federal (STF), e com parte dos deputados receosos em assumir um compromisso público com o Planalto, a prisão de um dos homens que, até pouco tempo atrás, estava na ;cozinha; de Temer pode ser o motivo que alguns precisavam para autorizar a investigação contra o presidente.

Geddel foi detido preventivamente pela Polícia Federal, na tarde de ontem, na Bahia, acusado de obstrução de Justiça nas apurações da Operação Cui Bono?, expressão que significa ;A quem interessa?;. Desdobramento da Operação Sépsis, a investigação foca em irregularidades na Caixa Econômica Federal cometidas na época em que o peemedebista era vice-presidente de Pessoa Jurídica do banco. Com Geddel, passam a ser cinco os presos preventivos na operação: os ex-presidentes da Câmara, Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, o doleiro Lúcio Funaro e André Luiz de Souza.

[SAIBAMAIS]De acordo com a decisão do juiz federal da 10; Vara, Vallisney de Oliveira, o político baiano tem agido para evitar que o deputado cassado Eduardo Cunha e o doleiro Lúcio Funaro fechem acordo de colaboração premiada. Em depoimento à Justiça, Funaro citou mensagens e ligações para sua esposa que o ex-ministro teria feito. Ele entregou imagens da tela do celular para comprová-las. Com o codinome ;carainho;, Geddel sondava a mulher de Funaro sobre a disposição dele em fechar delação com o Ministério Público Federal (MPF). O advogado de defesa do ex-ministro, Gamil F;ppel, afirma que o peemedebista foi ;injustamente enredado no bojo da Operação Cui Bono?; e que ;deposita sua integridade física nas mãos da autoridade policial;.

Sem relação

Ao saber da prisão, aliados do presidente rapidamente se mobilizaram para afastar a situação de Geddel do trâmite da denúncia contra Temer. Líder do governo no Congresso, o deputado André Moura (PSC-SE) reconhece que é algo que traz instabilidade, mas afirma que não há qualquer relação com a peça que será apreciada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) a partir desta semana (leia mais na página 3). ;Não há nenhum tipo de conexão da prisão com a denúncia. A prisão é por conta de uma suposta tentativa de obstrução à Justiça. Espero que os membros da CCJ analisem a acusação em si, que tenham, acima de tudo, responsabilidade com país e com o momento que estamos vivendo (...) Não podemos permitir que esses fatores externos possam ser utilizados na CCJ na tentativa de trazer mais discussão;, comenta.

Entretanto, o descolamento dos fatos não será fácil. Por mais que esteja fora do governo desde novembro do ano passado (leia memória), Geddel é um dos principais aliados de Michel Temer e um dos pilares da sua carreira política, ao lado de Eliseu Padilha, ministro-chefe da Casa Civil, e de Moreira Franco, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência. O político baiano, aliás, é citado por Joesley Batista, um dos donos do grupo J, na gravação com Temer que originou a denúncia em análise na CCJ. No diálogo, Joesley comenta que perdeu o contato com Geddel porque ele virou investigado e o presidente o alerta que é ;perigosíssima a situação;, porque isso poderia ser considerado obstrução de Justiça.

Em outro trecho, Joesley fala que vinha se comunicando com o presidente por meio de Geddel, mas, como não era mais possível, pergunta quem seria a outra pessoa. É quando Temer indica o deputado Rodrigo Rocha Loures para o contato. Flagrado carregando uma mala com R$ 500 mil que seria para o presidente, Loures foi solto no sábado.

Para o deputado Julio Delgado, (PSB-MG), a detenção de mais um homem do ;núcleo duro; de Michel Temer corrobora a tese apresentada por Rodrigo Janot na denúncia. ;É claro que agrava o quadro do presidente. Demonstra claramente todo o esquema montado para interferir nas investigações e evitar delações premiadas;, diz. ;A situação está extremamente deteriorada. O governo terá de gastar muita energia para poder equilibrar o jogo. Ele está ficando sem aliados para defendê-lo;, comenta um integrante da base que prefere não se identificar.

O cientista político do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) Geraldo Tadeu Monteiro concorda que a situação se complica. ;O governo está sendo acossado por todos os lados. E, na Câmara, é um julgamento político, não é jurídico.;

;In-su-por-tá-vel!”

Colega de escola e desafeto do cantor e compositor Renato Russo, líder da banda Legião Urbana, Geddel era considerado pelo artista como ;in-su-por-tá-vel!”. A história é contada no livro Renato Russo: O filho da Revolução, do jornalista Carlos Marcelo. ;Filho do político baiano Afrísio Vieira Lima, o gordinho Geddel era um dos palhaços da turma. Chegava ao colégio dirigindo um Opala verde, o que despertava a atenção das meninas e a inveja dos meninos ; que davam o troco chamando-o de ;Suíno;. Tinha sempre uma piada na ponta da língua; as matérias, nem sempre. ; Eu vou ser político!”, destaca trecho da biografia.

Memória


Apartamento da discórdia

Em novembro de 2016, um apartamento em uma área tombada de Salvador foi o responsável pela queda do ex-ministro Geddel Vieira Lima. O problema começou quando o peemedebista comprou um imóvel do empreendimento La Vue Ladeira, na Barra, área nobre da capital baiana. Avaliado em R$ 2,6 milhões, o prédio ganhou destaque nacional depois que o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero pediu demissão do cargo e revelou que estava sofrendo pressão de Geddel para que intermediasse a liberação das obras pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Iphan), órgão vinculado ao Ministério da Cultura.

A construção do empreendimento havia sido inicialmente autorizada pelo Iphan da Bahia, controlado por um aliado de Geddel. Mas o Iphan nacional decidiu embargá-la por causa dos possíveis impactos em bens históricos da época da fundação da capital baiana, no Século 16. À época, Calero chegou a gravar a conversa que teve com presidente Michel Temer, no Palácio do Planalto, sobre a pressão de Geddel. Em depoimento à Polícia Federal, Calero disse que foi ;enquadrado; por Temer, que interveio em favor do então ministro da Secretaria de Governo. ;No episódio que agora se torna público, cumpri minha obrigação como cidadão brasileiro que não compactua com o ilícito e que age respeitando e valorizando as instituições;, afirmou.

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