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Aldemir Bendine ia para Lisboa nesta sexta, só com passagem de ida

O ex-presidente do Banco do Brasil Aldemir Bendine foi preso na Operação Cobra, a 42ª fase da Lava-Jato. Segundo a investigação, ele estava com passagem só de ida, marcada para esta sexta-feira

Jacqueline Saraiva
postado em 27/07/2017 12:01

A força-tarefa da Lava-Jato no Ministério Público Federal (MPF) havia pedido a prisão preventiva do ex-presidente do BB. O juiz Sérgio Moro, no entanto, decidiu impor ao executivo a prisão temporária

Preso na manhã desta quinta-feira (27/7) em Sorocaba, no interior de São Paulo, o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine havia comprado uma passagem só de ida para Lisboa, em Portugal. De acordo com a Polícia Federal (PF), o embarque de Bendine, que também tem nacionalidade italiana, iria ocorrer nesta sexta-feira (28/7). Ele é o principal alvo da Operação Cobra, a 42; fase da Operação Lava-Jato, na investigação sobre o recebimento de propina de R$ 3 milhões da empreiteira Odebrecht.

A força-tarefa da Lava-Jato no Ministério Público Federal (MPF) havia pedido a prisão preventiva do ex-presidente do BB. O juiz Sérgio Moro, no entanto, decidiu impor ao executivo a prisão temporária, de custódia por cinco dias prorrogáveis por mais cinco. Para os investigadores, o fato de ter dupla cidadania poderia facilitar uma eventual fuga de Bendine para a Itália, destino de outros investigados em outros escândalos, como o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique PIzzolatto, condenado no Mensalão.

[SAIBAMAIS]Segundo a Operação Lava-Jato, o publicitário André Gustavo Vieira, investigado como ;operador financeiro; de Bendine, tinha negócios consolidados em Portugal. Ele e o irmão, Antônio Carlos Vieira da Silva Júnior, que são sócios em uma agência de publicidade, a Arcos Propaganda, foram presos no Recife. O procurador da República Athayde Ribeiro Costa informou que, a partir de documentos e outras provas colhidas nas buscas da Operação Cobra, o MPF deve reiterar o pedido de prisão em regime preventivo de Bendine.

Ao justificar a ação da 42; fase da Operação Lava-Jato, que prendeu o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine, o procurador da República Athayde Ribeiro Costa disse ser "incrível" topar com evidências que, mesmo com a Lava-Jato já em "estágio avançado", criminosos tiveram a "audácia" de continuar com o esquema de corrupção. "São a prova viva de que a prisão é necessária para frear o ímpeto criminoso de um esquema que vem desviando bilhões há mais de décadas", disse o procurador em nota.

Segundo a investigação do MPF, Bendine fez um pedido de R$ 17 milhões em propinas à época em que era presidente do Banco do Brasil. O motivo, segundo as delações do presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e do ex-executivo do grupo, Fernando Reis, seria viabilizar a rolagem de dívida de um financiamento da Odebrecht AgroIndustrial. O pedido, no entanto, foi negado pelos executivos "porque entenderam que Bendine não tinha capacidade de influenciar no contrato de financiamento do Banco do Brasil."

No entanto, na véspera de assumir a presidência da Petrobras, em 6 de fevereiro de 2015, Bendine e um de seus operadores financeiros teriam feito um segundo pedido de propina, no valor de R$ 3 milhões, para que o grupo empresarial Odebrecht não fosse prejudicado na Petrobras, inclusive em relação às consequências da Operação Lava-Jato. Desta vez, por receio de ser prejudicada na estatal petrolífera, a Odebrecht optou por pagar.

Empresa de fachada

Segundo a investigação, o valor foi repassado em três entregas com dinheiro em espécie, no valor de R$ 1 milhão cada, em São Paulo. "Esses pagamentos foram realizados no ano de 2015, nas datas de 17 de junho, 24 de junho e 1; de julho, pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht", afirma o MPF.

Neste ano, um dos operadores financeiros que atuavam junto a Bendine confirmou que recebeu R$ 3 milhões da Odebrecht, mas tentou atribuir o pagamento a uma suposta consultoria que teria prestado à empreiteira para facilitar o financiamento junto ao Banco do Brasil. A empresa, no entanto, era de fachada. A investigação aponta ainda que a falta de explicação sobre o destino dos valores, ausência de contratos escritos para o valor de uma consultoria milionária, dentre outros, confirmam o esquema criminoso.

Quando teve conhecimento das investigações da Lava-Jato, o operador tentou dar uma aparência de negócio lícito, segundo o MPF, recolhendo os tributos relacionados à suposta consultoria, cerca de dois anos após os pagamentos. "Há indícios que a documentação também foi produzida com intuito de ludibriar e obstruir as investigações", afirmaram os procuradores.

Prisão "desnecessária"

O advogado Pierpaolo Bottini, que defende Aldemir Bendine, disse ser "desnecessária" a prisão do ex-presidente do BB, já que ele, desde o início das investigações, se colocou à disposição da Justiça para esclarecer os fatos e juntou seus dados fiscais e bancários ao inquérito, demonstrando a licitude de suas atividades."
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Braço direito de Dilma

Aldemir Bendine era homem forte no governo de Dilma Rousseff. Foi presidente da Petrobras entre fevereiro de 2015 e maio de 2016 e substituiu Graça Foster no cargo da estatal. Já no Banco do Brasil, ele presidiu a entidade entre abril de 2009 e fevereiro de 2015. Ao deixar o cargo no Banco do Brasil, Bendine tinha como "missão" acabar com a corrupção na Petrobras. No entanto, segundo procuradores do Ministério Público Federal (MPF), nas delações constava que ele já cobrava propina no Banco do Brasil e continuou com o esquema criminoso na Petrobras. A abertura de inquérito contra ele foi autorizada pelo juiz Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava-Jato, em junho deste ano.

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