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Lava-Jato investiga compra de voto para escolha do Rio como sede olímpica

Um dos alvos é Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Rio 2016

Jacqueline Saraiva
postado em 05/09/2017 07:01
Um dos alvos da Lava-Jato é Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Rio 2016
A força-tarefa da Operação Lava-Jato rompe as fronteiras do país para rastrear o caminho da propina que, desta vez, evidenciou um esquema criminoso de compra de votos para a escolha do Rio de Janeiro pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) como sede das Olimpíadas 2016. Um dos principais alvos da Operação Unfair Play (Jogo Sujo), realizada nesta terça-feira (5/9) pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF), é Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Rio 2016. A PF também apura o pagamento de propina em troca da contratação de empresas terceirizadas por parte do Governo do Estado do Rio de Janeiro, chefiado à época por Sérgio Cabral.
Buscas ocorreram na casa de Nuzman nesta manhã, no Leblon, e ele deve prestar depoimento na tarde de hoje na sede da Polícia Federal. Agentes também foram à sede do Comitê Olímpico Brasileiro. Outro alvo da Lava-Jato é o empresário Arthur Cesar de Menezes Soares Filho. Conhecido como o "rei Arthur", ele deve ter o nome incluído na lista de foragidos da Organização Internacional de Polícia Criminal, a Interpol, para que seja cumprida a ordem de prisão contra ele. Segundo as investigações, o empresário pode estar no Estados Unidos, onde tem uma residência em Miami. A sócia dele, Eliane Cavalcante, também é alvo de prisão. Os dois são acusados de lavar parte do dinheiro a partir de uma operação envolvendo offshores no exterior.

[SAIBAMAIS]Nas ações de hoje, a Lava-Jato conta com o apoio do Ministério Público das Finanças francês e de outras autoridades no país. Setenta policiais federais, acompanhados de autoridades da França e dos Estados Unidos, buscavam provas durante o cumprimento de dois mandados de prisão preventiva e 11 de busca e apreensão. As ordens foram expedidas pela 7; Vara Federal Criminal (RJ). Além do Leblon, ocorreram buscas nos bairros de Ipanema, Lagoa, Centro, São Conrado, Barra da Tijuca e Jacaré, todos na capital carioca. Outras também foram cumpridas no município de Nova Iguaçu e em Paris, na França. Os presos serão indiciados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Em nove meses de investigação, a PF afirma que encontrou indícios de propina com dinheiro em espécie e por meio da celebração de contratos de prestação de serviços fictícios, além de pagamentos de despesas pessoais. Além disso, teriam sido realizadas transferências bancárias no exterior para contas de doleiros. A investigação aponta a participação direta de Nuzman no processo, assim como de membros do Comitê Olímpico Internacional (COI).

O rei e a propina

Uma investigação similar já havia sido aberta pela Procuradoria Nacional Financeira (PNF) na França. As autoridades francesas, relatam suspeitas de corrupção sobre a atribuição dos Jogos Olímpicos ao Rio de Janeiro, decidida por meio de votação dos membros do COI, em 2 de outubro de 2009 em Copenhague, em detrimento de Chicago, Madri e Tóquio.

Documentos fornecidos pelo Tesouro dos Estados Unidos à Justiça francesa, revelados pelo jornal Le Monde em março de 2017, evidenciam que uma empresa (Matlock Capital Group) que gerenciava os interesses de um empresário brasileiro, o "rei Arthur", depositou três dias antes da votação 1,5 milhão de dólares a uma companhia pertencente a Papa Massata Diack, filho do então chefe da Federação Internacional de Atletismo (IAAF) e membro do COI Lamine Diack. O "rei Arthur" é ligado ao ex-governador do Rio Sergio Cabral, condenado a 14 anos de prisão por corrupção.

O COI havia anunciado que pediria investigação da Justiça francesa sobre o caso na época da publicação da reportagem. Em comunicado, o COI comentou que está ciente das operações realizadas pela PF. "O COI teve conhecimento desse caso pela imprensa e tem feito o possível para obter todas as informações. É de maior importância para o COI obter esclarecimentos sobre o assunto", afirmou.

Panama Papers

Poderoso consultor de marketing para a federação de atletismo, Papa Massata Diack transferiu US$ 299.300 de sua empresa para uma estrutura (Yemi Limited). A reportagem publicada no Le Monde vinculou o pagamento, graças aos dados do Panama Papers, ao ex-campeão atlético namibiano Frankie Fredericks. Este era apontado como um controlador do voto para o Comitê Olímpico Interncional, do qual se tornou membro em 2012. Frankie Fredericks justificou a transferência de dinheiro através de atividades promocionais para o atletismo Ele foi obrigado a renunciar ao cargo de presidente da Comissão de Avaliação dos Jogos Olímpicos de 2024, antes de ser suspenso da IAAF.

Com informações da France Presse

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