Politica

Marcelo diz que pagamentos a Lula vão além dos lançados na planilha

O empresário Marcelo Bahia Odebrecht destacou em novos depoimentos prestados à Polícia Federal, em Curitiba, em 8 e 21 de agosto, que os pagamentos a Luiz Inácio Lula da Silva

Agência Estado
postado em 26/09/2017 08:08
Marcelo afirmou nos novos depoimentos que todo acerto com Lula era O empresário Marcelo Bahia Odebrecht destacou em novos depoimentos prestados à Polícia Federal, em Curitiba, em 8 e 21 de agosto, que os pagamentos a Luiz Inácio Lula da Silva acertados com seu pai e patriarca do grupo, Emílio Odebrecht, não se limitaram aos registrados no codinome "Amigo" da planilha de propinas "Italiano", que era gerenciada pelo ex-ministro Antonio Palocci e chegou a ter R$ 300 milhões à disposição do ex-presidente e do PT.

[SAIBAMAIS]"Reitera que houve outros pagamentos a Lula, acertados por Emílio, que não transitaram pela conta ;Italiano; e nem tiveram o envolvimento do colaborador", registra a PF, no termo de depoimento de Marcelo, do dia 8. Delator desde janeiro e preso desde junho de 2015, o empresário foi novamente ouvido pela PF, desta vez no inquérito que apura propinas em doações ao Instituto Lula e pagamentos de palestras via Lils Palestras e Eventos.

Marcelo pontuou que na conta "Italiano" houve "dois créditos decorrentes de pedidos de contrapartida específica: valores ;LM; e ;BK; que totalizaram 114 milhões". E que além destes, "houve outros créditos que somados a estes totalizaram cerca de R$ 300 milhões". "Mas que fazia parte de uma agenda mais ampla, sem vinculação específica, ou seja, sem contrapartida específica".

Para investigadores da força-tarefa, a distinção feita pelo empresário, entre créditos condicionados a contratos específicos e os que entraram em espécie de "conta geral" em troca de benefícios no governo, é retórica, tratando-se tudo de corrupção

;Amigo;

Nos termos de sua delação premiada e nos dois novos depoimentos à PF, Marcelo explicou a planilha de 2013 apreendida pela Lava-Jato e os valores registrados nela. Segundo o empresário, havia nesse acerto em que ele participou diretamente um crédito de R$ 15 milhões para o ;Amigo;.

"Nessa planilha constam retiradas que foram abatidas da subconta ;Amigo;", afirmou. "Seguramente, pode afirmar que as do ;Programa; B4, B5, B6 e também a do registro ;Doação Instituto 2014; foram abatidas da subconta."

O empresário diz que as "retiradas foram solicitadas por Palocci que solicitou que fossem abatidas da referida subconta ;Amigo;". Para ele, a destinação de R$ 12,4 milhões destinados à compra de um terreno para o Instituto Lula debitada dessa subconta também confirma que Lula era o "Amigo".

No dia 21, a defesa de Odebrecht entregou cópia de e-mails que ele trocou com executivos do grupo Alexandrino Alencar, que era o longa manus de Emílio nos tratos com Lula, e Hilberto Silva, que era o chefe do setor de propinas do grupo. Em um deles, de 2013, citam "doação ao Instituto Lula" de R$ 4 milhões, feita por via oficial, mas com dinheiro da "conta corrente" Italiano abatido da subconta "Amigo".

"Os valores doados ao Instituto Lula, total de R$ 4 milhões, foram lançados na planilha Italiano como ;Doação Instituto 2014 4.000;, após o qual remaneceu o saldo de R$ 10 milhões, conforme a última atualização;, informou Marcelo. Segundo ele, mais R$ 1 milhão foi abatido dessa subconta como "Programa B", que seria referência a Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci, que retirava o dinheiro.

;Padrinho;

Marcelo afirmou nos novos depoimentos que todo acerto com Lula era "alinhado" com seu pai, o patriarca do grande acordo de delação da Odebrecht - que envolveu 77 executivos. É Emílio Odebrecht quem pode dar maiores detalhes sobre os pagamentos de palestras e doações ao Instituto Lula.

"Qualquer assunto diretamente ou indiretamente relacionado a Lula era alinhado com Emílio, com orientação deste, cuja interlocução com Lula no dia-a-dia era feita em geral por meio de Alexandrino de Alencar", explicou Marcelo. "Qualquer tratativa com Lula, o padrinho era Emílio, mesmo que a tratativa fosse por algum intermediário de Lula."

O empresário, único integrante do grupo ainda preso pela Lava-Jato - pelo acordo de delação, Marcelo deve deixar a cadeia em 2018 -, afirmou que não se recorda se as palestras de Lula, feitas via empresa Lils Palestras e Eventos, também eram debitadas da planilha de propinas.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação