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Pimenta é um barato!

O condimento picante é injustamente considerado perigoso para o sucesso de algumas receitas. Na verdade, seu consumo pode ser uma experiência gastronômica sem igual

postado em 24/08/2010 18:33

O condimento picante é injustamente considerado perigoso para o sucesso de algumas receitas. Na verdade, seu consumo pode ser uma experiência gastronômica sem igual

Tem uma turma mundo afora que se autointitula chilli-heads ; cabeças-de-pimenta, em tradução livre. Em um blog pessoal, Amy Jane, uma jovem americana, decifra o termo para os não iniciados. Ela relata o dia que, ao fazer uma receita em casa, resolveu pesar a mão na pimenta. Provou a comida e, em vez de apenas sentir aquela típica queimação na boca, franzir a testa e dar aquele sopro de quem acabou de comer algo muito picante, sentiu uma sensação extremamente prazerosa pelo corpo. ;Era uma sensação de bem-estar, que lavava meu mau humor. Lá estava eu, debruçada sobre a panela, sentindo uma ;onda; com a pimenta.; Imediatamente, Amy sentou-se de frente ao computador e buscou no Google alguma explicação para aquela estranha sensação. Suas suspeitas se confirmaram. Centenas de pessoas ; chilli-heads confessas ; compartilhavam as mesmas impressões que ela, culpando propriedades encontradas em certos tipos de pimentas pela liberação da endorfina (o hormônio do prazer) pelo corpo. Algo parecido com os efeitos do chocolate em um chocólatra.


O chef Tulio Montenegro, do Chefe Tulio internacional butiquim, de Belo Horizonte, se descobriu como um cabeça-de-pimenta anos atrás. Hoje é expert no assunto. Em visita a Brasília para uma participação no Congresso Nacional da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), realizado este mês, desafiou o público presente em sua palestra afirmando que o brasileiro pouco consome, e tampouco entende desse assunto. ;Para que serve a pimenta?;; ;De onde ela vem?;; ;Qual a mais picante?;; ;O que deixa ela picante?;, instigou. O público corroborou a teoria do chef ao errar todas as questões. ;Enquanto cada cidadão da Índia consome um média de um quilo e oitocentos gramas de pimenta ao ano, o brasileiro consome 15 gramas. Ainda assim, podemos ser considerados o berço desse fruto. Ele era a base da alimentação dos índios muito antes de Cabral chegar por aqui;, explica. Pimentas como a malagueta, a biquinho, a de cheiro, a comari e a chifre de veado são todas tupiniquins. ;Apesar da fama de má que a malagueta carrega, na escala Scoville Heat, que pontua de 0 a 10 o nível de ardor das pimentas, ela não passa do 5. É fraquinha;, desdenha.

Agora se o sabor picante ainda não é muito familiar para os brasileiros não baianos, o chef indica que se prove pimentas fraquinhas, tirando sempre aquela pelezinha branca que tem dentro do fruto (o que faz arder não é a semente, como a maioria pensa, e sim aquela membrana que reveste o interior da pimenta, chamada de capsaicina). ;Já converti muita gente que dizia detestar pimenta. Hoje virou tudo chilli-head;, dispara Tulio. Se a ;onda boa; e o gostinho característico não forem o suficiente para convencê-lo, leve em conta também os inúmeros benefícios à saúde proporcionados pelo condimento. Segundo o engenheiro agrícola Gilberto Fraife, a pimenta tem ação cicatrizante, atioxidante, previne arteriosclerose, ajuda no controle do colesterol e aumenta a resistência física, entre outras funções. ;Nada de fazer mal a saúde. Isso é tudo mentira. A pimenta faz bem para todo mundo. E possibilita uma imersão em novos sabores, pois ela abre suas papilas gustativas, apurando o paladar.;


Se o povo brasileiro vai ou não vai se tornar uma nação de cabeças-de-pimentas, como a Coréia, o México, a Índia ou a Tailândia, não se sabe. Mas a tendência é que essa imagem ;promíscua; relacionada à ela perca força, e o apelo gourmet a eleve a um must-have da gastronomia nacional. Nas carnes, nos pães, nos molhos, na cozinha mineira, no churrasco, na culinária contemporânea ou na tradicional. Até nas sobremesas elas vão bem (quem duvidar, pode testar a receita ao lado sem medo). Agora, se além de deliciosas, as pimentas derem mesmo esse barato do bom humor, quem sabe, em breve, ela se torne tão popular quanto uma boa feijoada.

Bruschetta apimentada
(Receita do chef Matusalem Gonzaga, também de Belo Horizonte)
O condimento picante é injustamente considerado perigoso para o sucesso de algumas receitas. Na verdade, seu consumo pode ser uma experiência gastronômica sem igual


Ingredientes
200g de filé mignon
1 cebola
1 banana
Azeite
50ml de molho de pimenta sabor dedo-de-moça com molho de tomate
Salsinha a gosto
30g de ricota
100ml de molho pesto (caseiro ou pronto)
Duas ou três baguetes
1 punhado de pimenta biquinho

Como fazer
Passar o molho pesto no pão cortado no formato de bruschetta
Colocar o pão no forno por 10 minutos para esquentar e ficar crocante
Cortar o filé em ponta de faca em pedaços pequenos
Refogar a cebola picadinha no azeite, até que fique bem quente
Sotear a o filé no azeite até que este doure
Adicionar 50ml de pimenta
Salpicar a salsinha picada
Adicionar a ricota (já amassada e soltinha)
Finalizar com mais azeite e adicionar as pimenta biquinho
Colocar a carne sobre o pão e servir com uma rodela de banana

Rendimento: Serve 4 pessoas como tira-gosto
Tempo de preparo: 15 minutos


Sorvete com frutas e pimenta
(Receita do chef Túlio Montenegro)
O condimento picante é injustamente considerado perigoso para o sucesso de algumas receitas. Na verdade, seu consumo pode ser uma experiência gastronômica sem igual


Ingredientes
Sorvete de fava de baunilha natural
3 colheres de sopa de manteiga sem sal
100g de manga, de banana e de maça
250g de açúcar refinado
1 colher de sopa de salsinha picada
1 colher de sopa de molho de soja
30 gotas de molho de pimenta sabor maracujá
1 dose de cachaça mineira
300ml de vinho branco seco

Como fazer
Derreter a manteiga em uma frigideira grande
Refogar por 3 minutos
Juntar as frutas no centro da frigideira
Rodear a frigideira com o açúcar e a derretê-lo até o ponto de bala
Acrescentar primeiro a salsinha, depois o shoyo e por último o molho de pimenta
Flambar a mistura com a cachaça
Acrescentar o vinho branco
Cozinhar até obter um molho espesso
Servir na hora com uma bola de sorvete

Rendimento: 4 pessoas
Tempo de preparo: 15 minutos

Serviço
Chefe Tulio internacional butiquim
Avenida Silviano Brandão, Horto, 24. Belo Horizonte.
(31) 3481-7724

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