Revista

O reino das aves

Ter um pássaro não é como adotar um cão. A criaturinha emplumada tem necessidades bem específicas e, a depender da espécie, enche a casa de cantoria

postado em 01/10/2010 18:32

Pepe foi rejeitado pela mãe por ter um defeito na perna, mas encontrou abrigo na casa de Lenize e Lenir

Quando ainda morava no Rio de Janeiro, há 22 anos, Lenize Regina já criava periquitos australianos. Na mudança para a capital, resolveu deixar o hobby para lá, mas uma vizinha com um viveiro problemático fez com que as aves voltassem para a vida da servidora pública, 59. ;Ela precisou se desfazer dos periquitos por causa das crianças;, conta, sem entrar em detalhes. Lenize resolveu ficar com um casal ; e logo ganhou mais três filhotinhos. ;Nessa época, minha mãe estava internada, mas quando voltou para casa, ficou cuidando deles;, detalha.

A mãe, Lenir, é quem acompanha mais os pássaros. Ela viu quando a mãe dos periquitos empurrou da casinha o filhote mais frágil, que, ao contrário dos irmãos, não conseguiu sair do ninho. ;Quando o vi de perto, notei que ele tinha a perna torta;, relembra Lenize. Sem conseguir entender a atitude desprezo da ave, buscou a opinião de veterinários. ;Me informaram que, na natureza, os pais matam ou abandonam filhotes que nascem com defeito;, explica.

Sensibilizadas, Lenir e Lenize tomaram para si a responsabilidade de manter o pequeno periquito vivo. A começar pelo local escolhido para as gaiolas, estrategicamente posicionadas na varanda durante o dia ; para evitar o eventual ataque de animais famintos ; e perto do tanque, à noite, para protegê-los do vento e do frio. Às sete horas da manhã, os cinco transformam-se em despertadores. ;É quando eu acordo e coloco comida para eles;, conta Lenize. Pepe, como foi batizado o passarinho coxo, ganhou uma nova gaiola e teve de se adaptar às próprias limitações: já que não consegue se equilibrar no poleiro, conformou-se com a vida terrestre e dá seus passinhos incertos no chão da gaiola.

Informar-se sobre os hábitos e as necessidades da espécie procurada é o primeiro passo do futuro dono de aves. Visto isso, Aloísio Tostes, presidente da Confederação Brasileira dos Criadores de Pássaros Nativos (Cobrap) diz que a etapa seguinte é verificar a procedência do animal. ;A pessoa precisa saber se está adquirindo um bicho fruto de tráfico, se ele pode ser mantido em ambientes domésticos e se é adaptável;, reforça. Para garantir que o animal venha de uma fonte segura, a dica é procurar criadores cadastrados e conhecidos.

Se a opção for criar vários pássaros, os cuidados com o viveiro precisam ser redobrados. O mais importante, segundo Aloísio Tostes, é atentar para a biossegurança dos animais ; onde vão ficar e se estarão protegidos de mudanças climáticas e predadores. A falta de mobilidade dos viveiros também complica outro aspecto essencial para o bem-estar dos bichos: a higienização. ;É preciso limpar o viveiro de tempos em tempos com desinfetantes à base de quaternário de amônio de baixa toxicidade;, ensina. A manutenção do viveiro também evita que ectoparasitas, como piolhos, incomodem os bichinhos.

Com cuidado
Como qualquer outro animal, os pássaros precisam de cuidados para que vivam felizes e saudáveis. Veja algumas dicas para começar a sua criação:

- Procure se informar sobre as características de cada ave. Algumas espécies mais sociáveis, como periquitos e agapornis, podem ser criadas em viveiros sem problemas. Contudo, espécies mais territorialistas ; como trinca-ferros, canários da terra e belgas ; podem entrar em atrito por melhores ninhos e ocasionar a quebra dos ovos ou mortes dos filhotes.

- Defina suas prioridades. Você prefere um pássaro de canto ou de porte (mais bonitos que propriamente cantores)? O objetivo é ter aves para exposição, venda ou apenas para alegrar a casa?

- No caso dos periquitos, é aconselhável ter em um mesmo viveiro apenas casais formados (um macho e uma fêmea que já se aceitaram), para evitar disputas. Colocar ninhos a mais do que a quantidade de casais também evita brigas entre os animais. Se possível, coloque todos no viveiro ao mesmo tempo, assim um casal não se tornará o dominante da área.

- Independentemente da espécie, alguns cuidados são gerais. Trocar a água todos os dias (esfregando o recipiente para não acumular limo), fornecer os alimentos ideais e fazer a limpeza das gaiolas são procedimentos que devem se tornar rotina.

- Se a criação for grande, o ideal é que seja feita em gaiolas individuais e que tenham grades no fundo. Assim, há uma separação entre o fundo e os pássaros, deixando-os afastados das fezes ; o que irá diminuir doenças. ;Nestes casos pode-se colocar uma folha de papel/jornal no fundo, assim basta retirar a folha suja e colocar uma limpa;, completa Vinicius Manhanini.

- Os ninhos devem ser limpos sempre que uma ninhada for separada dos pais. Os viveiros podem ter serragem no fundo, assim a limpeza pode ser feita uma vez a cada três ou quatro meses, dependendo da quantidade de casais e filhotes.

Individual ou em grupo
Você já escolheu a espécie que deseja criar, sabe como ela se comporta e já tem um lugar reservado para seus futuros bichinhos. E agora, criar em gaiolas ou viveiros? Veja as vantagens e desvantagens de cada opção.

Gaiolas
Vantagens
- Fácil controle dos cruzamentos
- Maior chance dos filhotes nascerem e sobreviverem
- Não há brigas

Desvantagens
- Gaiolas exigem mais tempo para a manutenção, uma vez que é preciso que se faça uma a uma

Viveiros
Vantagens
- Manejo rápido e fácil
- Menor tempo gasto com a criação

Desvantagens
- Como os animais estão em contato próximo, as brigas por espaço são frequentes (o que pode resultar em ovos quebrados e filhotes mortos)
- Menos filhotes por casais
- Não há como saber os reais casais, o que dificulta no planejamento dos futuros filhotes

Na internet
- Sistema de Cadastro de Criadores Amadoristas de Passeriformes (Sispass)
ibama.gov.br/sispass/index.php
- Casa dos Pássaros
casadospassaros.net
- Confederação Brasileira dos Criadores de Pássaros Nativos (Cobrap)
cobrap.org.br

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