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Vestida de atitude

Quem deseja fugir dos casamentos tradicionais pode mudar o figurino, os acessórios, as lembranças e até o álbum de fotografias. Ouvimos experts no assunto: blogueiras e noivas que propõem e fazem tudo diferente

postado em 23/11/2010 11:49

;É um; é dois; é três; e lá vai!”, grita a noiva para as amigas, que correm para pegar o buquê. A contagem parece imitar a passagem do ano-novo. De fato, naquele momento, os noivos começam outra etapa. Toda a importância do ritual de entrega da noiva pelas mãos do pai, da troca de alianças, da fartura de doces, salgados e, até mesmo, do buquê ; que, na Idade Média, era doado, flor a flor, para a noiva ; ganha novos significados e atenções. Tanto o vestuário do casamento quanto alguns símbolos mudaram ao longo das décadas. Envolvidas com as milhares de possibilidades apresentadas pela internet, as mulheres se vestiram de branco, de atitude e de muita informação. Deram cor aos sapatos neutros, personalizaram convites, criaram blogs e investiram em ensaios fotográficos para lá de inusitados.

Os noivos também ascenderam do papel de coadjuvantes para protagonistas nessa história. Nada de ficar no banco de reservas, esperando a senhorita escolher cores, bombons e bebidas. ;O tratamento agora precisa ser diferente. Os fornecedores têm que perceber que esse é um momento do casal, não só da noiva;, defende o analista de sistemas César Fontenele, 28 anos, que se casou em outubro passado com a fisioterapeuta Lorena Fontenele.

Apesar dos avanços e novidades do ramo, um fator permanece inalterado: o preço da festa. E não adianta acreditar que fazer com estilo é sinônimo de economia. Na ponta do lápis, cerimônias alternativas ou tradicionais podem sair pelo mesmo preço. Número que, de acordo com a Associação dos Profissionais, Serviços para Casamento e Eventos Sociais (Abrafesta), movimenta R$ 10 bilhões por ano. Para quem deseja fugir desse fluxo da indústria do casamento, porque acredita que dá para cortar gastos e ainda assim casar com estilo, as opções na cidade ainda são restritas. Mas com um pouco de criatividade e de informação, Elisa Colares, Fernanda de Oliveira e as blogueiras Camilla Louise Cândido e Diana Gomes mostram o que é possível e avisam: muitas dessas tendências lançadas na internet prometem mudar a cara do casamento na capital do país.

Do meu jeito

Elisa Colares e Rafael Castelo, em pose nada tradicionalA socióloga Elisa Colares, 26 anos, e o cientista político e músico Rafael Castelo, 28, divergiram em alguns pontos quanto ao casamento. Mas, num aspecto, os dois pensavam o mesmo. ;Nunca faríamos um empréstimo para pagar uma festa;, conta Elisa. O casal, despreocupado em fazer uma pomposa cerimônia, pensou até em fazer um jantar em casa ou mesmo organizar um champanhe com bolo após a missa na igreja. Tudo porque sempre que buscavam um fornecedor de decoração, bufê ou salão, deparavam-se com o preço nas alturas. ;Bastava falar a palavra ;casamento; que o orçamento triplicava;, lembra a noiva.
Elisa e Rafael decidiram, então, arriscar uma proposta alternativa. Fariam, com as próprias mãos, o que fosse possível: lembrancinhas, guardanapos, noivinhos, roupa, buquê e convites, feitos com ajuda da mãe da noiva e de amigos. Eles também contratariam serviços independentes, fora do hall de estrelas do mercado de casamentos. ;Também decidimos que tudo o que escolhêssemos teria um significado para gente. Por exemplo: um bolo de sete andares representa algo na nossa vida? Não. Então, estaria fora da lista;, lembra Elisa.

Para economizar em decoração, salão e bufê, a noiva teve a ajuda das amigas que negociaram com um restaurante, onde o espaço externo seria exclusivo para a recepção. A comida, bebida e mobiliário já faziam parte do estilo do local, mais rústico e regional, bem ao gosto dos noivos. Na lista de convidados, apenas os parentes e amigos mais próximos. ;Enfim, tive cerimonial, fotógrafo, decoradora, cabeleireiro, maquiador;tudo. Só que, além de pechinchar, essas pessoas fizeram parte da minha história. Todos se tornaram meus amigos.;

A mãe de Elisa também foi uma peça-chave. É dela o vestido de algodão e renda brasileira, que já era, na época da mãe da noiva, diferente para os modelos dos anos 1970. Assim que Elisa experimentou o vestido, soube: seria com ele que iria se casar. Acrescentou um toque de contemporaneidade ao traje com um par de sapatos de veludo azul royal. Um capítulo a parte, porque em toda a loja que ia, negavam-lhe a possibilidade de combinar um sapato colorido com um vestido de noiva. ;Foi complicado, mas dizia às vendedoras: não tem regra. Quem vai se casar sou eu.;
Com o terno do noivo, o mesmo drama. Nas alfaiatarias, um casamento urbano à tarde pede um terno prateado, de acordo com um guia que cruza horário, local e estilo da festa. ;Quase caí para trás. Pedimos um bege e eles retrucaram: bege é para a praia.; O dilema se repetiu com o bolo. Pensaram em trocá-lo por cupcakes. A resposta da doceira foi: ;Como você vai explicar a sua filha que, no seu casamento, não há foto sua cortando o bolo?;, escutava.

No fim, Elisa e Rafael manobraram com atitude e cuidado a fase pré-casamento. Buscaram tudo aquilo que tivesse um significado especial com a história de seis anos de namoro. Casaram ao som de In a sentimental mood, de Duke Ellington, interpretada ao saxofone pelo noivo, na entrada da noiva na Igrejinha da 308 Sul. Na saída do casal, em vez de arroz, uma chuva de sementes ;helicóptero; comum nas árvores das entrequadras do Plano Piloto. ;É gostoso se casar! Dá vontade de voltar nesse dia, apesar do estresse dos preparativos e da vontade de jogar tudo para cima durante a organização. Mesmo assim, aconselho: curta cada momento.;

A hora e a vez deles

César Fontenele foi tão participativo na organização do casamento quanto a noiva, Lorena

Na agenda do mês, os preparativos para o casamento estavam lá, como prioridade na lista de tarefas do casal César e Lorena Fontenele. Em março do ano passado, assim que noivaram, o analista de sistemas, de 28 anos, e a fisioterapeuta, 25, começaram a pesquisar fornecedores, espaços para a recepção e, principalmente, o lugar da cerimônia. Até aí, um enredo parecido com o que estamos acostumados. Nesse caso, no entanto, a figura da noiva como líder da organização da cerimônia e o noivo, passivo, acatando todas as decisões da parceira, não se encaixou.
Na última década, os homens vêm participando mais dessa fase pré-casamento. Até porque, César enfatiza, ;essa é a realização de um sonho em conjunto;. Não mais coadjuvantes, eles acompanham as noivas e arregaçam as mangas na escolha de cada detalhe da festa e negociam buffet, DJ, decoração e outros quesitos do grande dia. No entanto, essa participação masculina ainda não é reconhecida por muitos desses serviços. ;Eles sempre olhavam para ela e a consultavam sobre tudo, como se eu nem estivesse ali. Confesso que muitas vezes senti preconceito. Tudo é direcionado para a noiva;, observou César.

Ele se envolveu até mesmo na elaboração dos convites e lembrancinhas do chá de panela, nos porta guardanapos da festa e no site do casamento. Na página da internet www.lorenaecesar.com.br colocaram fotos do casal e da família, além de informações sobre a cidade para os parentes que vieram de fora. Sempre em parceria, juntos compraram o primeiro imóvel, onde moram há quatro anos, antes mesmo de casar. Tudo com muito planejamento e negociação para ambos os lados.
Já saudoso da festa que aconteceu em outubro passado, César orgulha-se de cada passo da organização. ;Não mudaria nada, mas digo aos noivos e noivas que pesquisem muito antes de fechar qualquer negócio e que os homens também estejam presentes durante todo esse período;, diz o analista de sistemas. Ele ainda aconselha os casais a buscar referências para todos os serviços que vão contratar e que aproveitem essa fase dos preparativos. ;Porque a festa passa muito rápido e é durante esse período que antecede a cerimônia que você curte ainda mais a pessoa ao seu lado. Esse é o primeiro projeto do casal. E os dois devem fazer parte dele, juntos;, acrescenta.

Nada de caras e bocas

Fernanda Oliveira e Luiz Henrique Lima: casamento pra lá de rock n´roll

;Quando eu buscava coisas diferentes, todo mundo fazia cara estranha;, lembra Fernanda de Oliveira, 28 anos, cantora e baixista da banda Lucy & The Popsonics. Ela e Luiz Henrique Lima, 29, parceiro no palco e marido, estavam viajando na época dos preparativos e tinham apenas seis meses para organizar o casamento. A primeira busca que fizeram foi por um cerimonial, responsável pelos contatos, pesquisa e organização da festa. Como um produtor, ciente de que nesse outro tipo de show nada pode dar errado. ;Sempre fui cismada. Achava que não iam fazer o que eu queria: algo que flertasse com o tradicional, por causa dos meus pais, mas com uma pegada rock n;roll, que tivesse a ver com a gente.;

O primeiro choque para a mãe de Fernanda foi a escolha de um vestido de noiva curto. Outro que torceu o nariz foi o cabeleireiro, que não queria fazer o penteado Marylin Monroe que Fernanda pediu. ;No começo ele fez um coque aeromoça e eu não tinha nada a ver com esse estilo. Sempre que falávamos do penteado, eu tinha que vir com um argumento melhor que o outro porque ele era contra.; Fernanda ainda lembra do que o cabeleireiro lhe disse: ;Você tem que pensar que daqui a 10 anos, você vai olhar para essas fotos e por isso deve estar linda;. Na hora, ela retrucou: ;a Marylin Monroe tem mais de meio século e acho o penteado dela o máximo;. Pronto: decisão tomada.

As fotos do casamento também não teriam nada de poses, caras e bocas. O casal optou pelo fotojornalismo e pela máxima: espontaneidade em primeiro lugar. ;Nada de: ;sorria! queijo!’. Queríamos vera as pessoas se divertindo e guardar essa recordação num álbum.; Jantar, doces e bolo ficaram ao gosto dos pais da noiva, até porque o pai é dono de restaurante e a mãe tem restrições quanto a doces. ;Sem problema;, disse Fernanda para eles, desde que ela pudesse escolher decoração e música da festa.

Dito e feito. O casamento na igreja agradou aos familiares. Já a recepção, cujo tema foi Brasília Anos 60, combinou com o terno branco do noivo e com o vestido da noiva: curto e com uma grande flor vermelha. No setlist dos dois amigos e DJs convidados, muito pop, rock e disco. ;Achamos que essa parte poderia provocar um choque musical. Meu pai até ficou preocupado e me pediu para tocar forró, algo que ele curte. Mas quando o pessoal começou a dançar ao som do DJ, meu pai falou: ;Se mudar, vai quebrar o clima;;, recorda Fernanda, aos risos.

Na primeira dança dos noivos, Heart of Glass, do grupo Blondie, a trilha sonora provocou alvoroço na pista. Depois, não deu outra, o casal teve que subir ao palco e tocar três músicas, a pedido dos amigos. ;No final, deu tudo certo. Nada de formalidades;Todos se sentiram confortáveis.; Até mesmo o noivo, que durante o ano reclamou da necessidade de uma cerimônia de casamento, era só elogios à festa. ;Quando fomos descansar, deitamos exaustos na cama, com roupa de casamento e tudo. Só conseguíamos falar: foi demais!”

Noiva na rede

Diana Gomes e Camilla Louise Cândido criaram blogs na internet e conseguiram promover um encontro de noivas

As facilidades da internet não incluem apenas a abrangência das redes sociais e a velocidade com que as notícias chegam às nossas casas. Tendências de todas as partes do globo estão prestes a ditar mudanças de comportamento e de estilo tanto na vida dos noivos quanto no casamento como negócio. As blogueiras Camilla Louise Cândido (Noiva em Brasília) e Diana Gomes (Casar em Brasília) são duas dessas internautas que não perdem uma informação sobre o que surge de novo nesse nicho.Tamanho interesse também despertou a necessidade delas conversarem com outras noivas por meio de blogs. Advogada, Camilla, 24 anos, criou a página http://noivaembrasilia.blogspot.com há 10 meses. Nem a família, o noivo ou os amigos aguentavam mais o papo dedicado exclusivamente aos preparativos do casamento. O blog, que recebe uma média de mil visitantes por dia, é uma espécie de válvula de escape. ;Essa é uma rede de trocas. Adoro referências de decoração, por exemplo, e compartilho as informações que tenho com outras noivas;, conta.
Diana, 27 anos, servidora pública, também dá crédito aos sites que lê. ;Temos sonhos desde pequenas sobre como queremos nos casar, mas na internet vemos, por exemplo, que dá para usar um sapato de cor, que dá para abusar de um estilo romântico ou rústico. A gente vai descobrindo o que gosta ou não nessa pesquisa;, conta. Não é à toa que todos os dias, ela abre 25 páginas da internet para consultar novidades. ;E quando não tem nada novo, dou uma olhada nos posts antigos. Virou um vício;, brinca.

No blog da Diana, , a servidora não poupa elogios e críticas a fornecedores. Camilla também alfineta aqueles que não cumprem prazos ou extrapolam orçamentos. Como uma grande irmandade: disposta a se defender com unhas, dentes e buquês. Inclusive, as duas blogueiras tornaram-se amigas por meio da internet. Juntas, elas organizaram em menos de um mês o Encontro de Noivas de Brasília. ;Abrimos as inscrições no início de outubro e, no primeiro dia, já eram 60 inscritas;, lembra Camilla.

O evento reuniu, no dia 19 de outubro, 100 noivas, com direito a dois acompanhantes, cada. Teve desfile de vestidos, bate-papo com decoradores, fotógrafos, lojistas e profissionais da área, além de degustação de doces. ;Para nós foi um sucesso porque conseguimos e organizamos tudo por e-mail. Desde o convite aos fornecedores à confirmação das noivas que participaram;, comemoram. Animadas com a proximidade do casamento ; Diana casa em janeiro e Camilla, em setembro de 2011 ;, as blogueiras prometem: ;Não duvidem: podemos mandar notícias e fotos até mesmo da lua de mel;, brincam.


Agradecimento: Coletivo Capital

Confira o vídeo de casamento feito pelos cineastas Bruno Soares e Fernando Gutiérrez, da Coletivo Capital

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