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Chega de pirraça

Eles fazem de tudo para chamar a atenção e não conseguem ficar sozinhos? Então é hora do dono procurar ajuda profissional

postado em 28/12/2010 15:40

Para criar um animal de estimação saudável é preciso carinho, comida e um lugar protegido, correto? Quase. Uma boa dose de psicologia animal também é bem-vinda. Isso porque muitos bichinhos desenvolvem fobias, manias, podem se tornar agressivos, possessivos, inseguros e ciumentos. Mas a natureza é sábia, quando estão padecendo de algum desses transtornos, os bichos dão sinais. Comportamentos inadequados, que lembram caprichos de crianças, muitas vezes podem indicar que o seu cãozinho está sofrendo. A Revista conversou com alguns especialistas que orientaram sobre como proceder nesses casos.

Tem animal que apronta ; e muito ; quando os donos saem de casa. Uns fazem xixi onde não deveriam, outros escondem objetos, tem aqueles que mordem a mobília e comem as plantas. Muitos não param de latir, sobretudo se os donos viajam. Existem os que entram em depressão, os que fazem greve de fome etc. Quando a coisa chega a esse ponto, o que fazer?

A criação dos bichos é fator determinante nesse tipo de quadro, alerta a veterinária Rúbia Burnier, especialista em comportamento animal. Muitas vezes, os donos exageram na dose, dão muita atenção, dormem com seus pets e acabam por deixá-los extremamente dependentes. ;Isso pode ser prevenido desde a infância deles, com uma criação voltada para estimular a independência e a autonomia. Com uma rotina em que tenham atividade física, contato social com outros cães e uma área da casa só para eles, onde possam brincar sozinho, sentindo-se seguros e não abandonados;, afirma.

A dependência dos pets costuma estar relacionada à chamada ansiedade de separação. O animal se sente muito inseguro com a ausência do dono e toma atitudes inconvenientes, mas que trazem sensação de alívio. O xixi descontrolado é sintoma clássico desse tipo de transtorno. Segundo Burnier, cães que urinam na casa inteira o fazem para se apropriar do ambiente. ;É a forma que eles encontram para se sentirem mais seguros e garantir que não serão ameaçados sem a presença do dono;, explica.

A veterinária Hannelore Fuchs, também especialista em comportamento animal, atenta para o fato de que os cães não se comportam de maneira inconveniente por birra. ;Os animais não fazem por vingança ; a ausência do dono bagunça o raciocínio deles.; Segundo ela, a ideia de que o animal faz pirraça e, por isso, comporta-se de maneira inadequada é uma interpretação humanizada do comportamento deles . ;O que os cães têm genuinamente parecido com os seres humanos é a possessividade e o ciúme;, esclarece.

Há casos em que o bicho é tão ciumento que o dono não pode receber visitas. Eles são capazes de interromper as conversas com latidos estridentes e pular em cima dos convidados. Segundo Hannelore, as pessoas criam animais possessivos ao cederem a todas as vontades deles. ;Os donos estimulam a dependência, dão muita atenção o tempo todo. É importante que os cães desenvolvam independência psicofísica dos donos;, avisa.

E quando o problema já está instalado, como proceder? ;Não existe receita de bolo porque é uma transformação que você vai ter que operar no relacionamento do animal com o meio ambiente e isso é bem complicado;, diz a especilista. Em todo caso, pode-se tentar adestrá-lo. ;O adestramento básico de obediência não adianta nada. Mas um adestrador dedicado, que compreenda que as mudanças fundamentais precisam acontecer tanto com o animal quanto no relacionamento dele com a família, pode ajudar.;

O adestrador Pablo Webar trabalha há 25 anos no ramo e conhece bem esse enredo. ;Recebo cachorros tímidos, submissos, medrosos, assustados e agressivos. Em todos os casos, eu os qualifico como inseguros. Alguns acham que mordendo e latindo superam isso;, analisa. A principal estratégia é reinserir os cães na matilha. ;Quem os ensina a sobreviver são os outros cães. Essa socialização torna o animal mais independente, traz segurança.; O período em que o bicho passa longe da família pode ser doloroso, mas traz recompensas. ;A gente quebra a rotina de cachorros mimados ou chantagistas, eles podem latir a noite inteira que ninguém estará lá para ceder. No fim, eles ficam mais confiantes;, garante.

A salsichinha Nina pensa que é gente, conta sua dona, a bibliotecária Fátima Jaegger
A bibliotecária Fátima Jaegger, 52 anos, tem três cães. Um deles, o pastor belga de seis anos Rousseau, recebeu adestramento porque era muito medroso. Ele foi adotado com quatro anos e ninguém sabe ao certo o motivo de tanta tensão. ;Com o adestramento, ele está mais tranquilo, menos arredio. Antes Rousseau não conseguia nem de chegar perto de outros cães, hoje ele convive numa boa com as minhas outras cachorras;, afirma.

As outras duas cadelinhas de Fátima têm personalidades bem diferentes. Nina, uma dachshund de sete anos, é do tipo carente e ciumenta. ;Ela pede atenção o tempo inteiro, não deixa ninguém conversar, exige que brinquem com ela;, descreve. Já Puppy, uma shitzo de quatro anos, é mais independente e não demanda tantos afagos.

O comportamento de Nina foi responsável pela vinda de Puppy para a família. Fátima conta que tinha pensado em adestrá-la, mas decidiu trazer outra cachorrinha para contornar o problema. ;Com a chegada de Puppy, Nina aprendeu a dormir na caminha dela, a comer ração pura, amenizou essa dependência. Acaba que um cachorro imita o outro;, explica. Quando perguntada sobre a diferença de criação entre as duas, Fátima não hesita e admite. ;Eu mimei mais a Nina sim, com a Puppy eu estava mais experiente. Mas não foi só isso. A Nina veio para minha casa com 35 dias, não teve tempo de convívio com outros cães. Acho que por isso ela pensa que é gente,; diverte-se.

Agradecimento: Social Dogs




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