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O Brasil que deu certo... e crescerá em 2011

A Revista conta a trajetória de empreendedores das cinco regiões brasileiras que tiveram uma ideia, acreditaram nela, arregaçaram as mangas e venceram. Histórias inspiradoras para quem também quer fazer algo diferente no ano que se inicia

postado em 29/12/2010 17:33

Quantas vezes, ao ver um projeto interessante, você não pensou: ;Eu já tive uma ideia parecida;. Usar o verbo no passado não é só correto gramaticalmente. Bons pensamentos estão por aí, soltos. Felizes os que conseguem lapidá-los. Caso as ideias não sejam transformadas em projetos, ficam a esmo até que um bom ourives as encontre. O Brasil é cheio de ótimos planos. Junto a eles estão brasileiros prontos a colocá-los em ação, seja em que lugar for. Mesmo com uma realidade econômica que ainda frusta os pequenos empresários, como a alta carga tributária e a falta de mão de obra especializada, há exemplos inspiradores em todas as regiões do país.

Antônio Testa, doutor em sociologia pela Universidade de Brasília (UnB), percorreu, em 2010, diversas cidades do país ministrando aulas de estratégia econômica para alunos de MBA. Ele atesta: em todos os estados, existe uma quantidade muito grande de novas oportunidades. ;Mas, para todas essas novas oportunidades, é preciso capital e ele, no Brasil, é caríssimo. A carga tributária é absurda e a burocracia, excessiva. O pequeno empreendedor fica refém desses processos. Aqueles que os enfrentam têm mais chance de crescer, independentemente de onde estejam.;

Há poucas épocas mais propícias ao empenho em novas ideias que o início de um ano. E bons exemplos sempre causam inspiração. Como pontapé para 2011, a Revista conversou com cinco empreendedores, um de cada região do país. Nas suas histórias, o prazer de fazer o que gostam, a história que os levou até o momento em que se encontram e, principalmente, os desejos para os próximos 365 dias. Além disso, tentou analisar as dificuldades em se investir no país e em qual situação o Brasil se encontra para aqueles que querem empreender. Quem sabe ao término da leitura você não resgate aquela ideia guardada na gaveta e, no ano que vem, talvez seja também um exemplo de sucesso.

Investindo na praia de Brasília
Fernando Japiassu, de Brasília (DF), proprietário da marca Summer Shop, de moda praia
A Revista conta a trajetória de empreendedores das cinco regiões brasileiras que tiveram uma ideia, acreditaram nela, arregaçaram as mangas e venceram. Histórias inspiradoras para quem também quer fazer algo diferente no ano que se inicia
Se tem algo que o brasiliense almeja é praia. Por isso, mesmo que sua posição no mapa não favoreça as ondas, a moda beachwear está entre as mais procuradas. Afinal, por que viajar tão longe se não for para exibir belos biquínis e sungas? O empresário Fernando Japiaussu, 45 anos, entendeu isso faz tempo. Hoje, faz da Summer Shop uma marca nacional. Somente para o verão 2011, a estimativa é de vender 60 mil sungas, que ficarão espalhadas pelos cartões postais brasileiros.
;Brasília é um celeiro de talentos na área de moda. O fato de os trazermos para o processo produtivo faz com que toda a cadeia se agregue em torno da qualidade do produto vendido. Como sou um dos pioneiros do segmento, sinto o quanto ele evoluiu.; Seu início no mundo da moda começou pelo seu lado atleta. Praticante de canoagem, em 1984 ele abriu a Tubarão Náutica, embrião do seu envolvimento com as passarelas. Um empréstimo do pai foi que deu suporte à investida. ;Ele dolarizou o valor e usei como capital de giro. Daí, em apenas seis meses, paguei o que devia a ele e me mantive sozinho;, lembra. Em 1987, nascia a Summer Shop.

Nesses anos em que saiu da canoa para comandar uma empresa, ele não só viu a evolução do setor de moda no DF, mas de todo o parque empresarial. ;Brasília era tida apenas como uma cidade consumidora. O perfil, apesar de se manter, foi agregado ao potencial investidor, que fez com que muitas marcas surgissem e pudessem também exportar seus produtos.; E foi justamente esse público consumidor que permitiu que a capital do país desenvolvesse moda competitiva. O empresário acredita que, caso não tivesse começado sua empresa aqui, poderia ter conseguido sucesso de forma mais rápida. Mas somente Brasília foi capaz, com seus clientes exigentes, de demonstrar o que era preciso para conseguir um produto de qualidade.

Hoje, os investidores daqui passam, cada vez mais, a exportar seus produtos para outros estados e países. Isso, diz Japiassu, traz um reconhecimento do trabalho que foi, de certa forma, iniciado por ele. ;O nosso consumidor é um termômetro de qualidade. Isso nos fez crer que, se o produto é bem aceito no DF, passa por uma certificação que garante que venderemos algo bom em qualquer lugar do país;, garante.

Apesar do sucesso atual, dois momentos na história da Summer Shop quase levaram ao fim do empreendimento. Fernando lembra que, depois de um assalto, ainda antes de a loja ter o nome atual, pensou seriamente em acabar tudo. ;Fiquei sem estímulo, porque estava em época de mudança de coleção e muito material foi roubado. Era jovem, ainda não sabia o que queria ;ser quando crescer;, mas, depois de férias na praia, vi que era melhor continuar investindo.;

O outro tropeço exemplifica bem a distância do Brasil de 1990 para o de 2010. Naquela época, o Plano Collor, anunciado pelo então presidente Fernando Collor de Melo, prometia apaziguar o poder corrosivo da inflação no país. O pacote econômico, que bloqueou todos os ativos financeiros maiores que 50 mil cruzados novos e os transferiu para o Banco Central, levou milhares de brasileiros à ruína. Fernando quase foi um deles. ;Estava para abrir uma nova loja e passei por isso. Foi um dos momentos mais difíceis porque me vi sem dinheiro para investir na minha empresa. Mas, até nesse momento, consegui me reeguer.;

Hoje, apesar da situação econômica favorável, o lado empreendedor do empresário ainda sofre com a mão de obra cara e pouco especializada ; reclamação que é constante entre os empresários do Brasil. Apesar disso, a Summer Shop tem sete lojas, duas fábricas e 130 funcionários, segundo as contas de dezembro. Suas expectativas para 2011 envolvem um investimento maior em educação, justamente para formar melhor os empregados e também os futuros empreendedores. ;Sei que temos um público altamente voltado para a moda e não penso negativamente. O foco em 2011 será o e-commerce, com uma rede de distribuição da marca bem estruturada, que dê conta do país inteiro.;

Mais ação e menos espera
Empreender é uma tarefa para quem tem não tem medo. Todo processo criativo exige uma dose de solidão, esforço e empenho que não é compartilhado por muita gente. Some isso às dificuldades burocráticas, à mão de obra cara e pouco especializada, ao hábito brasileiro de esperar que medidas governamentais sejam a porta de entrada à própria empresa e ao longo caminho burocrático. Em média, leva-se 60 dias só em documentação para fazer uma ideia virar negócio no Brasil ; em uma montanha de quase 180 mil leis, decretos e medidas provisórias que tocam, diretamente, as empresas de todos os portes.

Depois de dois governantes que, entre suas disparidades e complementos, demonstraram a consolidação da democracia brasileira, o país chega a 2011 depositando expectativas em uma nova presidente, bem como na manutenção do ritmo de crescimento da economia e nas tão esperadas melhorias sociais e educacionais. Apesar da situação política favorável, o empreendedor não pode esperar que sua ideia faça sucesso na dependência do poder público.

Grande parte dos brasileiros ainda acredita que é por meio do apoio governamental que suas ideias vão vingar. Com esse pensamento e sabendo que o empreendedorismo propriamente dito tem de ser autônomo, o pequeno empresário se vê em um caminho estreito: com uma educação de má qualidade, milhões de brasileiros não têm como obter boa formação, o que finda na escassa mão de obra especializada e também no bloqueio ao pensamento empreendedor. A economia, apesar disso, encontra-se em um momento que estimula o investimento. As propostas de diminuição do acesso ao crédito para consumo não afetarão os microempresários. ;A intenção é você desonerar mais os investimentos, que têm uma carga tributária alta, para poder viabilizar mais o empreendedorismo;, afirma o economista Erick Elysio.

A boa situação econômica, que deverá ser mantida no ano que vem, acaba por criar um efeito dominó: ao garantir crédito e moeda valorizada, se fortalece um público consumidor que diversifica suas formas de consumo. Em consequência desse boom de procura, novos microempreendedores podem aproveitar os espaços que não surgiriam em uma economia estagnada. O diretor de atendimento do Sebrae/DF, Enio Pinto, frisa que, até 2005, 50% das microempresas não sobreviviam mais que cinco anos. ;Esse percentual hoje chega a apenas 22%.; Nesse quadro, o mais esperado para 2011 são, em certa parte, ações que possam diminuir a carga tributária e a burocracia para se abrir uma empresa, pois não faltará capital.

;Temos uma classe média de nível C e D que chega a 92 milhões de consumidores. Isso vai fazer com que a economia se desenvolva regionalmente. Nós temos um Brasil que se movimenta bastante, sendo muito heterogêneo. Isso faz com que existam muitas oportunidades;, acredita Antônio Testa, da UnB. O sociólogo ainda aponta para a necessidade de investimento nas áreas de inovação e tecnologia, sem as quais o microempresário fica sem competitividade diante das inovações que, fatalmente, surgirão em outros países que investem pesado nesses setores. ;O Brasil precisa mudar seu modelo de desenvolvimento focando no empreendedorismo e não no assistencialismo.;

Do virtual para o real
Marco Gomes, de São Paulo (SP), proprietário da boo-box, empresa especializada em publicidade em mídias sociais
A Revista conta a trajetória de empreendedores das cinco regiões brasileiras que tiveram uma ideia, acreditaram nela, arregaçaram as mangas e venceram. Histórias inspiradoras para quem também quer fazer algo diferente no ano que se inicia
Boas ideias não devem ser barradas pela geografia. Se até a montanha pode ir a Maomé, não seria o Gama, no Distrito Federal, um local distante de São Paulo. Foi assim que pensou Marco Gomes, 24 anos. O empresário saiu do centro do país para se aproximar mais dos investidores em seu mercado de atuação. Mas que mercado?

Em uma mistura de programação, blog e publicidade, ele criou o conceito de um sistema de propaganda no qual anuncia em blogs com muita audiência. A sua empresa serve de ponte entre o anunciante, que ganha na divulgação dos seus produtos, e os blogueiros, que recebem valores relativos ao número de acessos que seus blogs têm. Ou seja, quanto mais famoso é um blog, mais ele pode receber publicidade, já que seu sucesso determina o público que pode tornar-se consumidor do que é anunciado. E, o melhor: no sistema, o blogueiro funciona como editor de anúncios, escolhendo o que vai aparecer em suas páginas. E, às empresas cabe a liberdade de produzir as propagandas da maneira que quiserem, sem limitações de caracteres.

A ideia da boo-box deu tão certo que, ainda em 2007, ano em que a empresa foi criada, ela já figurava como destaque do site TechCrunch, um dos mais respeitados na área de tecnologia, como uma das grandes inovações da internet. Em 2010, ela foi uma das 18 empresas startups (empresas de inovação ainda em busca de estabilidade e espaço no mercado), de 11 países diferentes, escolhidas pela Intel Capital para receber investimentos. A multinacional direcionou US$ 77 milhões para esses novos empresários, mas o valor recebido por cada uma não foi divulgado. ;O recente fervor econômico do país, juntamente com a aproximação de Copa do Mundo e as Olimpíadas fizeram muitos olhos se voltarem para cá, e, assim como outras áreas, o setor de tecnologia promete se aquecer ainda mais nos próximos anos;, acredita.

Marco é daqueles empreendedores que acreditam 100% nas próprias ideias. Estabelecer morada em São Paulo não envolveu apenas a mudança de ares: em 2007, ele abandonou o curso de computação da Universidade de Brasília (UnB) para fundar a boo-box. Hoje, o negócio tem mais de 30 funcionários. O empresário, em recente viagem ao Vale do Silício, na Califórnia (EUA), investigou o entusiasmo dos investidores com o Brasil, mas percebeu que, muitos deles, ainda se sentem inseguros por desconhecer o mercado local. ;É nossa obrigação preparar terreno e atrair a confiança dos investidores internacionais.;

A história de Marco com a internet não surgiu ao acaso. Desde sua infância, o jovem do Gama passei pela rede. Programador desde os 11 anos e blogueiro desde os 17, ele é considerado um empreendedor do universo virtual. A boo-box exibe 600 milhões de anúncios por mês em mais de 16 mil sites de mídia social para 31 milhões de pessoas no Brasil. Por isso, sua expectativa é de que, em 2011, o Brasil consolide sua posição na economia mundial, com um maior investimento em pesquisa em ciência e tecnologia. ;Na boo-box, vamos continuar aprimorando os processos da empresa e fazê-la continuar crescendo intensamente. Pessoalmente, pretendo fazer uma linda cerimônia de casamento, já que estou noivo de uma jornalista paulistana.;

Boas ideias independem do governo
O historiador Antônio Barbosa assegura que a dependência do Estado é uma característica da formação da sociedade brasileira. ;Desde a colonização até hoje, vemos a supremacia absoluta do Estado sobre o indivíduo. Aqui, entre nós, a presença do Estado é sacralizada.; Esse excesso de poder faz com que o cidadão seja criado pensando que são as instituições públicas que devem garantir o seu desenvolvimento. Essa visão distorcida, na análise de Barbosa, aumenta as dificuldades do empreendedor conseguir pôr sua ideia para frente. ;A sociedade brasileira é formada por algo em torno de 60% de analfabetos funcionais. Como esperar que essa massa se liberte da mão toda poderosa do Estado se ela tem tanta dificuldade para interpretar o mundo?;, questiona.

A situação toca diretamente no ponto considerado pelos especialistas como mais grave para a formação de uma sociedade empreendedora no Brasil: a baixa qualidade na educação. Além da grande falta de mão de obra especializada, o sistema de ensino brasileiro não consegue desenvolver o espírito empreendedor e educa pessoas que vão repetir o comportamento de esperar por ajuda governamental. ;Somos ensinados a esperar o dinheiro chegar. Todos querem ganhá-lo, mas não querem assumir os riscos. No Brasil, se você ganha dinheiro, reclama dos impostos. Se perde, põe a culpa no governo;, comenta Elysio.

Um dos exemplos de educação para o empreendedorismo está no programa Empretec. Desenvolvido pela Organização das Nações Unidas e regido pelo Sebrae no Brasil, ele desperta nos alunos as 10 características apontadas pela ONU como necessárias ao empreendedor: busca de oportunidades e iniciativa; exigência de qualidade e eficiência; capacidade de correr riscos calculados; persistência; comprometimento; estabelecimento de metas; planejamento e monitoramento sistemático; busca de informações; persuasão e rede de contato; independência e autoconfiança. ;Ele não cria empreendedores, mas desperta o que existe em cada um. Apesar que muitos já nascem com esse espírito, o Empretec prova que é possível acordá-lo e fazer a diferença;, avalia Enio Pinto.

O país, ao mesmo tempo que dá subsídios econômicos para que o empresário alavanque o seu negócio, cria amarras burocráticas e pouco investimento em qualificação profissional, bem como na educação. E são esses os grandes desafios oferecidos em 2011 para o Brasil e para a criação de uma sociedade que aprenda, desde o berço, como vencer. ;O governo federal deve focalizar investimentos na área de inovação, incubadoras de empresas, aproximar mais as universidades do mercado de trabalho, fazer uma mudança conceitual, e isso leva muito tempo. Mas a situação é bem melhor e há esperança de muitas melhorias a partir de 2011;, assegura Testa.

Do Piauí para o mundo
Kalina Rameiro, artista plástica de Teresina (PI), proprietária do ateliê que leva seu nome
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O calor de Teresina, capital do Piauí, é um cartão de visitas inusitado. Para os que estão chegando à cidade, ele representa o clima nordestino em sua essência, no qual o sol castiga os que se aventuram pelas terras próximas à linha do Equador. Kalina Rameiro é um contraponto a esse pensamento limitado. Aos 39 anos, ela representa a parte do estado que está além das discussões sobre o clima e, por meio da influência da sua cultura, desenvolve arte em forma de bolsas, acessórios e joias em prata, em um ateliê que já ganha fama além do Nordeste.

;Eu sou adepta da frase: tem coisa melhor do que alegria de viver?;, diz ela, mostrando sua filosofia de vida. Artista plástica formada pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Kalina, ainda na faculdade, fazia do quarto seu local de trabalho, e das suas colegas, clientes ávidas. Hoje, a criação das suas peças não divide espaço com a cama e ela passeia entre salas, como a Picasso, para desenvolver esculturas de madeira, ou a Mondrian, na qual surgem as bolsas e bijuterias. ;O que me dá prazer com o trabalho é a vontade de transformar coisas simples em peças elaboradas, que despertem o olhar e o desejo das pessoas;, explica.

Os problemas sociais que se repetem nos nove estados nordestinos nunca foram um empecilho para Kalina. Ela acredita que ver o Piauí apenas sob a ótica da pobreza do sertão faz com que muitos desistam das próprias ideias, alegando que não terão um bom terreno para desenvolvê-las. ;Todo trabalho em que há dedicação verdadeira pode trazer bons frutos. Eu dependo do Piauí, até mesmo porque as matérias-primas que uso não são encontradas em outros estados.;

Claro, ainda existem os preconceitos. ;Ainda hoje quando perguntam minha profissão, muitos se confundem. ;Cirurgiã plástica?; Não, artista plástica. Quebrei muitas barreiras para estar aqui.; Ela chega a dar conselhos às suas clientes que têm filhas desejando seguir a veia artística. ;Se ela será feliz, tem que seguir. Eu consegui.;
Kalina conta que ainda mantém seu lado artístico bem mais aflorado que o empreendedor, mas que é o segundo quem dá a disciplina para que ela mantenha seu negócio. ;Não faço arte como hobby. É meu trabalho e tenho que cuidar bem, pois preciso sobreviver da minha profissão.; Hoje, com peças espalhadas no país e mesmo fora, como os dois showrooms que fez em Tóquio, no Japão, ela prova que seu empenho é mais forte que o calor da capital onde vive.

De olho na arte que está nas ruas
Marina Baldini, de Florianópolis (SC), proprietária da Cor Galeria de Arte, especializada em arte urbana
A Revista conta a trajetória de empreendedores das cinco regiões brasileiras que tiveram uma ideia, acreditaram nela, arregaçaram as mangas e venceram. Histórias inspiradoras para quem também quer fazer algo diferente no ano que se inicia
Olhe bem para sua cidade. Perceba que o design dos prédios, os grafites nas ruas, até mesmo as roupas das pessoas, tudo nela respira conceitos artísticos. Diferentemente daquelas obras que ficam presas aos assépticos museus, nas ruas eles surgem sem amarras e sem expectativa de que serão admirados. E é dessa forma que encantam os olhos. Olhe bem para essas mesmas coisas novamente. Você vê uma oportunidade de negócio aí? Marina Baldini viu.

Aos 32 anos e proprietária da Cor Galeria de Arte, em Florianópolis (SC), ela se vale da arte urbana para mostrar as facetas da capital sulista. ;Percebi o quanto a cidade era carente de espaços de arte voltados à produção contemporânea e à arte urbana. Como sempre fui apaixonada pelo grafite, juntei a satisfação pessoal com a carência do mercado e parti para a ação.; Sem qualquer conhecimento em administração ou curadoria, a arquiteta de formação apostou em um incerto que deu certo e hoje não só garante espaço para os artistas como promove exposições e venda de obras. ;Mas eu estudo bastante e sempre;, lembra.

A ideia somou-se à procura por um acervo que pudesse trazer à galeria um público não só interessado em ver arte urbana, mas também em adquiri-la. Marina desenvolveu uma relação direta com os artistas que fariam parte do que seria mostrado, ara compreender sua poética e, dessa forma, transmitir isso ao seus clientes. ;Por isso, durante o processo de ;ter uma galeria de arte;, visitei inúmeros ateliês e prestei muita atenção ao meu sexto sentido na hora de escolher em quais artistas iniciantes apostar.;

A arquiteta não teve medo de investir no segmento. Acreditou, especialmente, no potencial da arte urbana, que, de acordo com ela, passa por um momento de ascensão no estado. ;Florianópolis é uma cidade onde esse movimento encontrou bastante abertura entre a sociedade, mas ao mesmo tempo é muito recente.; Por ser novo, ela explica que ainda é preciso ensinar sobre o processo de criação, algo que já está mais desenvolvido em cidades como São Paulo, por exemplo.

Porém, ela não tem pretensões de mudar de cidade. Para Marina, o número cada vez maior de pessoas que chegam para viver na capital deu a ela ares mais cosmopolitas, o que aumentou sua preocupação em construir um ciclo de exposições anuais de diferentes artistas que, interligados, possam passar um conceito aos que não familiarizados com arte urbana. ;O que me entristece é que os espaços de cultura do estado, principalmente nos últimos quatro anos, foram barbaramente sucateados, como o CIC (Centro Integrado de Cultura) e todas as oficinas de arte que lá aconteciam.; E uma maior preocupação com a cultura é seu grande desejo para 2011, principalmente nos investimentos em artistas mais jovens. ;E que eu consiga curtir as praias de Floripa, pelos menos aos domingos.;

Redescobrindo a Amazônia
Franciny Pereira, de Manaus (AM), proprietária da Ação Consultoria e Treinamento em Turismo, Hotelaria, Bares, Restaurantes e similares
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Empreender não é algo restrito ao mundo dos negócios. Certas decisões de vida também precisam de enorme grau de empreendedorismo e, mesmo quando parecem loucas, são as que mais trazem certezas. Que dizer, por exemplo, da turismóloga Franciny Pereira, 34 anos? Nascida no Sul do país, ela experimentou diversos modos de se fazer turismo. Já foi diretora do setor na sua cidade, Balneário Camboriú (SC), foi dona de uma empresa de consultoria no segmento, quando trabalhou em parceria com o Sebrae/SC, abriu uma pousada no município de Bombinhas (SC) para, em seguida, se tornar secretária de Turismo da mesma cidade. Depois de toda essa bagagem, decidiu investir no inglês e passou nove meses morando em Londres.

De volta ao Brasil, percebeu que, da sua trajetória anterior, nada mais era prazeroso. Essa constatação e um convite da irmã fizeram com que ela chegasse a Manaus (AM). E descobrisse que seu sucesso profissional precisaria cruzar o país inteiro para se consolidar de vez. A lista de atividades atuais de Franciny é extensa: professora do curso de turismo da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), professora do curso subsequente tecnológico de hospedagem pelo Instituto Federal do Amazonas (IFAM) e proprietária da Ação Consultoria e Treinamento em Turismo, Hotelaria, Bares, Restaurantes e Similares.

;A experiência no Amazonas tem sido incrível e uma grande escola. Aqui, vivo em uma realidade muito diferente da que estava acostumada, na qual há muitas dificuldades de deslocamento, logística, mas uma grandiosidade em sua hospitalidade, generosidade e carinho.; As grandes diferenças não se limitam apenas às complicações em se locomover. O estado, apesar de ser colocado com um dos roteiros turísticos do país, ainda é visto apenas como o berço da Floresta Amazônica. Franciny garante que a capital mudou completamente desde sua primeira visita, em 1999. ;Principalmente nas áreas de construção civil e de infraestrutura e na melhoria da qualidade de vida das pessoas. No interior, tudo está mais bonito também, com melhorias urbanísticas visíveis.;

Franciny entende que as limitações no setor em que trabalha são grandes no Amazonas, mas que é esse aspecto que fez com que seu prazer no trabalho ressurgisse. ;O estado me deu a oportunidade de fazer a diferença, de ensinar que o turismo pode ser uma das maiores oportunidades para o desenvolvimento das localidades de forma direta ou indireta.; Ela sabe da importância de acreditar nas próprias ideias e valoriza sua personalidade empreendedora, pois sabe que foi a partir dela que surgiu a coragem de mudar sua trajetória tão radicalmente.

;O empreendedorismo é muito importante não só para empresários ou sócios de empresas. Com ele, podemos determinar nossos desafios e metas.; Ela levou ao Amazonas a sua percepção de que planos nasceram para dar certo e, mais que isso, que eles têm de dar certo onde quem o traçou está. ;Por onde passo, tenho incentivado meus alunos a valorizar o que eles têm aqui. Por isso, por toda essa minha trajetória e o muito que ainda tenho a conquistar, tenho certeza que o Brasil é o melhor lugar para se viver.;

Otimismo em alta
Se ainda restam dúvidas quanto ao seu 2011, é bom saber que o Brasil foi cotado como o segundo país mais otimista do mundo. Para 73% dos entrevistados na pesquisa feita pelo Ibope, em parceria com a empresa multinacional WIN (Worldwide Independent Network of Market Research), 2011 será melhor que 2010. A média global do país ficou em 42% ; superada apenas pela Nigéria (83%). Para melhorar a situação e marcar de vez a esperança do povo brasileiro, basta saber que esse é o maior percentual alcançado desde o início da aferição. Em 30 anos, o Brasil saiu de 38% de otimismo para os 73% atuais. Ou seja, a melhor época de investir é agora!

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