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Dignidade para os nossos amigos

Cães diagnosticados com câncer não necessariamente precisam ser sacrificados. Hoje em dia, há tratamentos capazes de devolver-lhes a saúde ou de amenizar as sintomas da doença

postado em 25/02/2011 18:05

Em meio à agitação da clínica veterinária, Penélope, 7 anos, sem raça definida, chamava a atenção. Deitada no colo da dona, a aposentada Zuleika Santos Andrade, a cadelinha tinha um ar abatido. Ela havia acabado de receber uma transfusão sanguínea ; uma rotina desde que foi diagnosticada com um linfoma de intestino, em novembro passado. A doença foi diagnosticada por acaso. Zuleika achava que a Penélope estava prenha por conta do abdome dilatado. ;Estamos na luta;, desabafa em voz baixa, como se não quisesse incomodar a tristonha vira-lata.

Se for operada, Penélope pode não resistir. ;Ela está em tratamento. Começou fazendo quimioterapia uma vez por semana. Agora é quinzenal. O câncer teve um regresso, mas infelizmente os médicos falaram que operar seria um risco;, relata a dona. Segundo a aposentada, o quadro é instável: há dias de melhora e outros em que a mascote passa muito mal. ;Mas estamos tentando todos os recursos;, resigna-se.

A cadela Golden surpreendeu a dona, Lacy Mesquita Oliveira, ao se recuperar de um sério tumorA cadela Golden, também sem raça definida, é a prova de que não se deve perder a esperança. Em 2007, constatou-se que ela tinha um tumor venéreo transmissível (TVT) e, hoje, está curada. Lacy Mesquita Oliveira, 57 anos, dona de casa, conta que o animal apareceu na vizinhança e não foi mais embora. ;Ela estava suja, com fome e ferida na região da genitália;, descreve. A descoberta do câncer não foi imediata. A princípio, uma veterinária falou que era uma bicheira, uma infecção na pele causada por moscas. ;Foi tratada com antisséptico e antibióticos, mas o sangramento não parava e a veterinária indicou a castração para que ela não ficasse prenha.;

Só que ela já esperava filhotes, de modo que não não pôde ser tratada do câncer até o nascimento da ninhada ; a quimioterapia, muito provavelmente, provocaria um aborto. Assim, durante a gestação, Golden foi tratada com antibióticos e vitaminas que a fortalecessem. ;Durante esse período, ela ficou bastante abatida, perdeu os pelos e precisou de muito repouso. Depois, teve de ser separada dos filhotes. Mas não precisou ser operada;, recorda.

Golden está agora plenamente reestabelecida ; brinca muito, faz companhia para Lacy e é o xodó da vizinhança. ;Ela está curada. As feridas desapareceram e, se a deixarmos sem coleira durante os passeios, ela escolhe o caminho e, quando chega no bloco, senta-se como se esperasse por alguém;, conta a dona, orgulhosa.

Dona Lacy, infelizmente, teve mais um susto, dessa vez com a Bina, seu outro pet. O diagnóstico foi câncer de mama. Depois da cirurgia de retirada dos caroços, a cadelinha passou por plástica na região. ;A quimioterapia foi mais rápida e menos penosa que a da Golden, nem o pelo caiu tanto.; O sofrimento, explica Lacy, foi maior na fase na recuperação. ;O mais difícil foi mantê-la em movimento, com pequenas caminhadas, logo que os pontos fecharam bem;, relata. Mas o fim dessa história é feliz: Bina está ótima, com as orelhas sempre em pé.

Um mal associado à longevidade
A possibilidade de cães e gatos desenvolverem câncer cresce com o avanço da idade. ;Houve aumento na expectativa de vida dos animais e, como consequência, as doenças evoluíram;, explica o oncologista-veterinário Paulo Tabanez, também especialista em infectologia. A boa notícia é que os tratamentos também se sofisticaram.

No passado, não havia medicação para câncer em animais e os tumores não eram tratados. ;Ou ele morria antes de se diagnosticar o câncer ou era sacrificado;, constata o especialista. Atualmente, a eutanásia não é a melhor solução para abreviar o sofrimento do pet ; há tratamentos curativos e paliativos mais eficientes.

De fato, o câncer animal pode ter diferentes prognósticos. Conforme o caso, pode-se optar entre métodos cirúrgicos e medicamentosos ; ou lançar mão de ambos. ;Quando não é possível operar o animal, há medicamentos que promovem qualidade de vida, tranzendo alívio para a dor;, complementa. Todavia, alguns efeitos colaterais podem ser penosos. Os quimioterápicos causam desde queda de pelo a náuseas, vômitos e leucopenia (também chamada de aplasia de medula, quadro em que o os sistemas de defesa do organismo ficam debilitados). ;Para minimizar esses efeitos, o veterinário pode prescrever medicações que protejam a mucosa gástrica;, complementa Tabanez.

O que pode trazer bem-estar ao animal durante o tratamento:
- Medicações para controlar vômitos e proteger a mucosa gástrica
- Sessões de acupuntura
- Alimentação balanceada com fórmulas específicas para cães com alterações gastrointestinais, renais e hepáticas

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