Revista

Um velho inigma

postado em 29/05/2011 18:23
O interesse pela elucidação do diagnóstico da fibromialgia surgiu em 1987, quando o médico Frederick Wolfe, então diretor do Arthritis Research Center Foundation, em Wichita, Kansas, Estados Unidos, percebeu as crescentes queixas de pacientes com dores musculares difusas, que não tinham nenhuma ligação com quaisquer patologias musculares conhecidas. Dr. Wolfe reuniu-se então com outros 20 reumatologistas americanos e, juntos, definiram, pela primeira vez, os critérios de diagnóstico ; prontamente acatados pelo Colégio Americano de Reumatologia. Em 1990, a doença finalmente entrou para o léxico médico. O diagnóstico é simples. O médico deve pressionar, firmemente, 18 pontos específicos do corpo do paciente. Se for relatada dor em pelo menos 11 desses 18 pontos, é confirmada a fibromialgia.

Onze anos depois, porém, a classe médica ainda diverge quanto à sindrome. Há vertentes que acreditam que a causa seja uma disfunção neuronal, outras ligam a doença à depressão e à insatisfação pessoal. Alguns afirmam que o problema é puramente muscular. Em entrevista à Revista, Jacob Teitelbaum, médico diretor do Fibromyalgia and Fatigue Centers, nos Estados Unidos, afirma que a pior concepção que se tem da doença é que ela é desencadeada por um fator psicológico. ;Esse tipo de engano ocorreu muitas vezes no passado com outras doenças que acometem principalmente as mulheres. Por exemplo, esclerose múltipla costumava ser chamada de ;paralisia histérica; e o lúpus era considerado uma forma de neurose por muitos médicos. A fibromialgia passou por um processo semelhante;, relata.

Segundo Teitelbaum, a maioria dos pesquisadores e centros acadêmicos reconhecem que a fibromialgia é uma doença real, física e devastadora. ;Infelizmente, muitos médicos ainda têm a crença ultrapassada de que a fibromialgia é uma desordem psicológica. Esse é um equívoco abusivo e incapacitante para o paciente;, alerta.

Para Nortin Hadller, reumatologista e professor de microbiologia e imunologia da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, esse é um assunto extremamente delicado. ;Fibromialgia é uma afirmação de incerteza. A patogênese dessa doença é intimamente associada com a busca de sua causa. Pessoas com dor generalizada precisam entender isso, assim como os médicos precisam colaborar para que se diminua a nocividade do processo. Essa não é uma doença psicobiológica. A ausência de uma prova que defina a causa não é, por si só, a prova de ausência. Talvez não haja nenhuma anormalidade biológica;, aponta.

;A esses pacientes, em busca desesperada por um rótulo que seja aceitável para a sociedade em geral e os seus agentes de credibilidade ; a mídia, a indústria de seguros e a indústria farmacêutica ;, digo que a fibromialgia é um símbolo do processo de diagnóstico equivocado;, completa. Ao Correio, Nortin disse que esse é um assunto tão delicado quanto perigoso. ;Seria necessário um ensaio para explicar as confusões que surgem quando se toca nesse tema.;

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