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Dama da elegância

Clássica e discreta, Sarah Kubitschek já era uma inspiração quando a moda ainda tomava fôlego no Brasil. O figurino da ex-primeira-dama segue atual até hoje, 15 anos depois de sua morte

postado em 03/06/2011 11:02

Carolina Samorano / Especial para o Correio
Dona Sarah sempre primou pela elegância clássicaLá pelo fim dos anos 1950 era com muita cintura marcada e metros de tecido em saias de roda que se fazia a moda, influenciada pelo New Look de Christian Dior. Audrey Hepburn e Grace Kelly faziam as moças finas correrem com recortes de revistas às modistas. Ao inventar o salto agulha em 1954, . Roger Vivier obrigou as mulheres a aprenderem a se equilibrar em cima de um par deles ; de onde nunca mais desceram. A alta-costura estava no auge. Era o clima deixado pelo fim da Segunda Guerra Mundial, que resgatou na mulher a vontade de se enfeitar. Enquanto isso, no Brasil, erguia-se no Planalto Central a nova capital. Passeando pela poeira que as obras levantavam e circulando nos eventos mais nobres nos poucos prédios prontos de Brasília, uma senhora se destacava por uma elegância rara. Quando nem Jacqueline Kennedy, nos anos 1960, e menos ainda Carla Bruni ou Michelle Obama sonhavam inspirar moças mundo afora com seus requintados modelitos, Sarah Kubitschek foi, da posse do marido, em 1956, à sua morte, quarenta anos depois, um radar da moda numa época em que o mercado do vestuário ainda engatinhava no país.

Transparecia nos tailleurs bem cortados e vestidos abaixo do joelho o tino natural para a moda. Clássicos, os modelos desfilados por dona Sarah provavelmente arrancariam elogios da crítica ainda hoje. Tanto que, das fotos das décadas de 1960 e 1970 às que mostram a ex-primeira-dama já nos anos 1990, quase não se percebe mudanças no estilo: camisas de seda, bordados e passamanarias delicadas feitas sob encomenda. ;Dona Sarah tinha um bom gosto natural. Ninguém nunca opinou sobre o que deveria vestir;, conta Cirlene Ramos, ex-secretária da família Kubitschek e atual diretora cultural do Memorial JK, onde desde 2000 está instalada uma exposição permanente das roupas da ex-primeira-dama. ;As roupas nada mais eram do que a tradução do seu comportamento: clássica e elegante;, completa. São oito modelos entre tailleurs e vestidos, no segundo andar, além do vestido usado na posse de Juscelino como presidente, em 1956. Um modelo preto com estampa azul, que ela exibiu em 1993 num jantar oferecido, no Memorial, ao então presidente Itamar Franco e seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, está na sala onde antes funcionava o escritório de Sarah até sua morte, em 1996.

As roupas foram todas doadas por Anna Christina Kubitschek, neta de Sarah e Juscelino, logo que assumiu a presidência do museu. Antes de integrarem o acervo permanente, receberam cuidados de uma casa especializada no Rio de Janeiro. Entre as peças, assinaturas de estilistas como Guilherme Guimarães, Dener, Zuzu Angel e Mena Fiala, responsável pelo belíssimo bordado que enfeitou Sarah no dia em que se tornou primeira-dama, na cerimônia de posse do marido no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro. O vestido depois chegou a ser reproduzido pela estilista mineira Marília Pitta para a minissérie de 2006 da Rede Globo JK. Mena Fiala comandava na época a Casa Canadá, loja destinada à alta-costura e frequentada pela parcela mais abastada da sociedade. Fazia viagens ao exterior em busca de inspiração e trazia na bagagem autênticos Balenciaga, Givenchy e Dior para estudar as modelagens e os acabamentos.

A elegância de dona Sarah tanto fez escola que Cirlene depois acabou atendendo telefonemas de muitas outras primeiras-damas ávidas por indicações sobre os estilistas que vestiam Sarah Kubitschek. Maria Teresa Goulart e Risoleta Neves foram algumas delas. A própria figurinista Emília Duncan, ao esmiuçar fotos e recortes da ex-primeira-dama para compor o vestuário da personagem na ficção, impressionou-se com a quantidade de revistas e jornais que se dedicavam a elogiar o seu estilo. Chapéus, broches, estampas clássicas e bordados, como a passamanaria delicada do tailleur vermelho usado numa visita ao Itamaraty ao lado do presidente Itamar Franco, ou o bordado do conjunto off-white do batizado do primeiro bisneto, em 1991, ficaram como marcas-registradas do estilo de dona Sarah, ;clássico e discreto;, como bem resume a inscrição da placa diante das roupas enfileiradas no segundo andar.

Serviço
Memorial JK, 2; andar
Endereço: Eixo Monumental ; Lado Oeste, Praça do Cruzeiro
De terça-feira a domingo, das 9h às 18h
3226-7860 / 3225-9451
Entrada: R$ 6
Classificação indicativa: Livre

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