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Moda para mulheres reais

Elas passam longe das araras com manequim 36, são maioria no Brasil, mas ainda têm dificuldade em encontrar roupas que se encaixem perfeitamente aos seus corpos curvilíneos. Aos poucos, porém, a indústria de confecção vêm descobrindo - e valorizando - as chamadas consumidoras plus size

Flávia Duarte
postado em 08/01/2012 08:00

"Tenho problema com a nomenclatura das coisas. Não visto um ;tamanho especial;. A sensação que tenho na hora de comprar roupas é que tenho três braços. Mas, na verdade, só visto 46.;

A constatação acima, cheia de bom senso e uma dose de indignação, é da bela atriz Luiza Guimarães, 29 anos. Dona de um corpo exuberante, seios grandes, pernas torneadas ; tudo isso distribuído em 1,78m de altura ;, ela realmente nunca vestiu manequim pequeno. E, por isso mesmo, tem dificuldades em encontrar roupas do seu tamanho. As marcas que fazem modelos considerados GG denominam as peças que Luiza usa como ;plus size; ou ;tamanhos especiais;.

Ela se incomoda com a ideia de vestir números supostamente considerados exceções no mundo dos perfeitos. Ela quer usar 46 e pronto. Sem julgamentos. Não gosta de ser considerada diferente, uma pessoa gigante que precisa garimpar muito para achar algo legal que lhe sirva. Como ela, milhares de mulheres brigam para se livrar dos rótulos, querem apenas ser incluídas na grade básica da produção da moda.

O mercado já percebeu isso e, por todos os lados, se vê movimentos para valorizar cada um dos biotipos. Sem estereótipos e livre de preconceitos, empresários da moda brasileira estão, aos poucos, notando essas mulheres reais, lindas e ávidas para consumir roupas modernas. O termo ;tamanho maior;, o tal ;plus size;, por enquanto, continua a melhor maneira de se referir a essa numeração que começa no manequim 44. O certo, talvez, fosse ;all sizes;, ou melhor dizendo, democraticamente, seria a moda que atendesse a todas as formas.

Há sinais de que em breve ninguém mais falará de ;moda para gordinhas;. Afinal, quem não veste 36 ou 38 pode não estar acima do peso, apenas ter uma silhueta maior e o corpo mais robusto. São mulheres reais: algumas com muito seio ou ombros largos; outras donas de cinturas finas e quadril avantajado. Todas elas exibem belezas singulares e pedem roupas pensadas para vários tipos de corpo.

A mudança diante do espelho
Elas passam longe das araras com manequim 36, são maioria no Brasil, mas ainda têm dificuldade em encontrar roupas que se encaixem perfeitamente aos seus corpos curvilíneos. Aos poucos, porém, a indústria de confecção vêm descobrindo - e valorizando - as chamadas consumidoras plus sizeSaia da idealização da passarela, do corpo alto e magro, e dê uma olhada no espelho. Aproveite e analise as mulheres à sua volta. Quantas delas poderiam participar de um desfile de moda? Poucas, imagina-se. Justamente por isso a moda deixa o irreal de lado e começa a pensar em quem verdadeiramente consome as roupas.

;A moda sempre surge a partir do comportamento das pessoas e das mudanças na sociedade. Há 10 anos, uma grade normal ia da numeração 34 a 42. Naquela época, 44 era considerado grande. Hoje, o ideal é fazer no mínimo até o número 46;, avalia Ângela Vieira, coordenadora do EnModa e gerente de inovação do Carreira Fashion. Isso porque a população brasileira está maior. Ganhou peso e altura ao longo dos anos. ;Você não vê mais aqueles corpos magros da década de 1970. Quem não está acima do peso, é mais alto ou tem o corpo mais malhado;, acrescenta.

As estatísticas confirmam o que já é possível constatar só de olhar o corpo do brasileiro. Segundo o Ministério da Saúde, quase metade da população (48,1%) está acima do peso e 15% são obesos. Sem esquecer que os dados refletem também uma preocupação com a saúde pública, deve-se aceitar que as modelos magérrimas não são uma realidade. É preciso suprir a demanda de quem vai comprar, verdadeiramente, as roupas que estão nas lojas.

E as brasileiras reclamam que a tarefa é difícil. A pesquisa Mulheres Plus Size ; Mídia e Moda, apresentada em dezembro de 2011 pela especialista em moda e criação da Faculdade Santa Marcelina Vanessa Schneider Santos, reforça o que já se ouve com frequência. ;Um dos grandes dilemas de quem está acima do peso é a dificuldade de encontrar roupas que lhe caiam bem e tenha um design apropriado. Elas querem encontrar numerações maiores em todas as lojas comuns ao público e não apenas em algumas especializadas;, diz a pesquisadora. O objetivo do estudo era justamente mostrar como a mídia estabeleceu um padrão quase inatingível de beleza magra e como a mulher real não se identifica com o que é visto nas páginas da revista. Por isso, a ideia foi mostrar que, para atender a esse perfil, são necessários criar novos conceitos e desenvolver roupas adequadas.

A reclamação também reverbera na capital do país. O Sebrae DF, em parceria com o Sindicato das Indústrias do Vestuário (Sindiveste) e o Polo de Modas, pesquisou o comportamento da consumidora brasiliense na hora de comprar o que vai vestir. Foram ouvidos, em junho de 2011, dois grupos de mulheres, entre 30 e 40 anos, pertencentes às classes A, B e C. Elas discutiram o que aprovam e o que desgostam na hora de escolher a peça de roupa. Entre as considerações, avaliaram duas dificuldades: encontrar tamanhos maiores e a falta de padronização na numeração.

Problemas que a turismóloga Marney Silveira, 40 anos, sempre enfrentou. Até os 18 anos, ela era magra e atleta. Depois disso, começou a ganhar peso. Foram 20kg a mais na balança. Com a saúde em dia, a chateação vinha mesmo na hora de se vestir. ;Aos 25 anos, não encontrava roupas joviais. Me deprimia muito com isso, de não poder me vestir como as mulheres da minha idade.; A saída foi então comprar roupa no exterior. Se ela não ia, fazia encomenda aos amigos de peças que lhe servissem e tivessem design moderno. No Brasil, as roupas eram verdadeiras ;tendas;, como define. Outra opção eram as costureiras, que a salvavam no momento do aperto. ;Ainda assim, deixei de ir a muitos casamentos por não ter roupa. Meus maiores pesadelos eram as festas de fim de ano.;

Mais de uma década depois, quem vê Marney não tem dúvidas de seu bom gosto e elegância. Uma mulher de 1,73m, que veste entre 46 e 48. Um mulherão de verdade. Ela adora roupas. Usa de tudo: vestidos, estampas, calças e até macacão saruel ; que, diz a teoria, não fica bem em quem veste GG. A bonitona não tem medo de experimentar e reclama toda vez que entra em uma loja e só encontra numeração pequena. Mesmo assim, Marney tem certeza de que é mais fácil encontrar roupas hoje em tamanhos maiores, que valorize o corpo da mulher, do que tempos atrás. É um avanço. Uma conquista também. ;Somos um público jovem, que quer consumir informação de moda;, diz ela, que garante ser muito bem resolvida com seu corpo e com seu armário.

Um negócio promissor
Se os números apontam o aumento das medidas das brasileiras e elas reclamam que querem comprar mais, por que o mercado ainda não oferece nas suas araras peças que acomodem as coxas grossas e os bumbuns empinados das brasileiras? Para Raquel Valente, coordenadora do curso de moda da Faculdade Santa Marcelina, ainda faltam muitos passos a serem dados até que isso aconteça. O medo de associar a marca ao corpo acima do peso provoca certa resistência de quem produz as roupas. ;Existe uma fantasia dos donos em serem estilistas famosos. Só gente como Alexandre Herchcovitch pode fazer moda apenas para a passarela. O mercado precisa se adaptar às novas medidas;, considera.

Outra questão apontada pelos especialistas é o desconhecimento de como fazer roupa bonita e que vista bem para quem usa acima do 44. ;Normalmente, as roupas plus size não apresentam nenhuma informação de moda. São apenas peças de roupa sem preocupação estética, sem conceituação e até desprovida de conforto. A escolha das matérias-primas são sempre da pior qualidade, principalmente os tecidos sintéticos;, avaliou Vanessa Schneider, na sua pesquisa Mulheres Plus Size ; Mídia e Moda.

Sendo mais otimista, no entanto, outros estudiosos da moda apontam avanços. E algumas mudanças devem começar dentro da própria universidade, quando o profissional da moda está em formação. Justamente a modelagem é um dos maiores bicho-papão da roupa com medidas maiores. Para o plus size, não é qualquer decote que sustenta o seio ou qualquer tecido que esconde as imperfeições. Alguns artifícios também devem ser conhecidos para disfarçar gordurinhas ou volumes indesejados. ;A indústria precisa investir em modelagem e tendências para essas peças. Antes, as gordinhas se conformavam com o que tinham disponível para vestir. Hoje, elas se amam e querem peças com excelência;, afirma Ângela Valiera, do EnModa e gerente do Carreira Fashion.

Estilista e professora de planejamento de coleção do Iesb, Stefania Rosa acredita justamente que se especializar nesse setor é uma oportunidade de crescer na carreira. ;A mulher mais cheinha quer usar roupa com conceito de moda;, garante. Mas ela explica que, ao contrário do corpo sem curvas, quem veste GG pede uma roupa com design e recortes adequados. ;É preciso entender o corpo delas e fazer um estudo das medidas para que a roupa caia bem e esconda aquilo que ela não quer se mostrar. É saber criar formar arredondas para afinar a cintura, usar as cores certas e os ajustes nos locais indicados;, comenta a estilista, que viu as peças pequenas que produz ficarem nas araras e, por isso, aumentou a grade de suas produções.

E as gordinhas estilosas querem usar estampas, tomara que caia, alças e vestidos curtos. A questão é que não há mão de obra que domine tais conhecimentos no Brasil. Pesquisa sobre salários de profissionais de moda, feita em 2011 pelo Carreira Fashion, a maior empresa de recursos humanos no segmento de moda no país, mostrou que faltam modelistas no meio. ;Até 2010 sobravam vagas para essa ocupação;, afirma Ângela Valiera. No contracheque, porém, o atrativo é grande. Quem encontra as formas perfeitas para cada corpo também vale mais. Segundo o mesmo estudo, atualmente, um assistente de modelagem ganha 27% a mais que um estilista. Ou seja, o mercado está de portas abertas, é preciso apenas estimular o interesse por parte de quem cria as roupas.

Nas vitrines brasilienses
Elas passam longe das araras com manequim 36, são maioria no Brasil, mas ainda têm dificuldade em encontrar roupas que se encaixem perfeitamente aos seus corpos curvilíneos. Aos poucos, porém, a indústria de confecção vêm descobrindo - e valorizando - as chamadas consumidoras plus sizeEm Brasília, muitas marcas estão inovando para atender essas mulheres. Segundo Gabriela Rocha, gestora do Projeto Vestuário, do Sebrae-DF, os empresários da moda estão atentos às possibilidades de crescimento ao investir no segmento GG. ;Eles estão preocupados com a numeração. Algumas empresas, inclusive, querem fazer roupa personalizada e sob medida;, conta Gabriela.

Para incrementar o setor, o projeto do Sebrae promove palestras, cursos e rodada de negócios entre compradores e vendedores. Neste ano, um dos objetivos é justamente reunir as empresas que já trabalham ou têm interesse em desenvolver coleções plus size. ;Por meio de consultorias de modelagem, ajudamos as lojas a desenvolver as roupas para esse público;, explica a gestora.

Algumas já colocaram a mão na massa. A Avanzzo, por exemplo, depois de 22 anos de existência, lançou, pela primeira vez, uma seleção de peças da coleção verão 2012 em tamanhos maiores. A iniciativa foi uma demanda da clientela, que, ao longo dos anos, ganhou peso ou sonhava em consumir a marca e não achava o número certo. Agora, elas encontram 60% dos produtos em tamanho 46. ;A coleção é dedicada às mulheres curvilíneas, que querem seguir tendências, vestir-se na moda, mas com a roupa do tamanho certo para o seu corpo. Não há nada mais feio e desconfortável do que ser obrigada a usar roupa menor que o seu manequim;, reconhece a diretora de estilo da Avanzzo, Daniella Naegele.

O melhor é que a marca não caiu no clichê. As peças escolhidas para ganhar novos medidas não ficaram nas tradicionais batas ou calças folgadas. As apostas foram em modelos que muita gordinha não sonharia, nem sequer, experimentar. Transparências, comprimentos curtos, listras verticais, alças finas e branco total. Modelos tidos como proibidos, mas que a grife provou que fica bem em um mulherão. ;As pessoas são muito presas à ideia de que gordinha não pode mostrar os braços, só pode usar roupas largas, sem estampas e sem ser ajustada na cintura. São preconceitos que ficam no subconsciente delas. Por isso, mostramos que a mesma peça fica boa em uma mulher magra como em outra mais cheinha;, garante o produtor de moda Marcus Barozzi, que participou da seleção das peças.

Para estrelar o catálogo plus size, Daniela escolheu uma cliente. A chamativa Luiza Guimarães, aquela do início da matéria, virou modelo da coleção. Ela mesmo se surpreendeu com o resultado. ;Eu nem tentava experimentar esses modelos de roupa. Achava que não era possível ficar bom;, comenta a atriz. Pois ela ficou linda com cintura ajustada, babado na blusa, braços e pernas de fora. Aprendeu que o corpo pode ser explorado de diferentes maneiras. É só encontrar a peça certa. Acabou servindo de exemplo para outras, que se identificaram com aquele corpo exuberante. ;As vendedoras me contaram que chegam algumas mulheres com a minha foto na loja e dizem: ;Quero ficar igual a ela;;, orgulha-se a moça.

E quem não quer ficar linda, seja magra ou gordinha? A mulherada está cada vez mais antenada à moda e, por isso, mais exigentes. ;Todas as mulheres têm o direto de comprar o modelo de roupa que achem bonito;, protesta Luiza. Todas as outras moças GG fazem coro com Luiza. Elas não se contentam mais com aquilo que está disponível para sua numeração. ;Fico muito irritada quando quero comprar uma coisa e não tem o meu tamanho. Admiro as empresas que fazem as roupas uma numeração maior. É sinal de que se preocupam com a gente;, acrescenta a atriz.

Elas passam longe das araras com manequim 36, são maioria no Brasil, mas ainda têm dificuldade em encontrar roupas que se encaixem perfeitamente aos seus corpos curvilíneos. Aos poucos, porém, a indústria de confecção vêm descobrindo - e valorizando - as chamadas consumidoras plus sizeNesse contexto, é preciso correr atrás do prejuízo. ;A concorrência aumentou, coisa que não acontecia 10 anos atrás. Por isso mesmo, temos sempre que oferecer novidades à nossa cliente;, considera a consultora de imagem Paula Moulin. Ela e a família são donas de uma das lojas mais tradicionais de Brasília, especializada nos tamanhos grande. A Ki Graça abriu suas portas há 35 anos, quando vender roupa acima do 42 significava costurar modelos sem charme para senhoras de idade.
A marca continua a vender peças que vestem até o número 56, mas o visual delas é bem diferente. Eles vendem do maiô à roupa de festa; atendem a mãe, a avó e a adolescente. Oferecem peças de cortes modernos e com as mesmas informações vistas na passarela. O que muda é a modelagem. ;Essas roupas precisam ter um corte especial, que alongue o corpo, e uma estrutura que o deixe delineado;, comenta Paula.

O diferencial está nos tecidos, na variedade de modelos e na quantidade de coleções lançadas. Outro serviço pensado para quem precisa de uma roupa adequada é justamente as encomendas. Cerca de 40% do que é vendido na Ki Graça é de fabricação própria. Aí fica mais fácil fazer ajustes e modificações. O resto é consequência. ;O maior erro da mulher acima do peso é tentar vestir uma roupa maior ou menor do que ela mesma. O bonito não é ter o corpo perfeito, mas descobrir o que ele tem de belo e mostrar. Essa é a grande jogada de inteligência;, garante Paula, que se especializou em consultoria de imagem para quem veste plus size e precisa aprender que pequenas mágicas, como mudar um botão de lugar ou trocar a cor do cinto, podem deixar a silhueta muito mais esguia.

De olho nas curvas
Famosas redes de lojas também investem nas curvas das brasileiras. Nos últimos dois anos, muitas desenvolveram coleções específicas para quem veste numeração maior. A Renner, por exemplo, lançou em outubro de 2010 uma linha plus size, em tamanhos que vão do 48 ao 54. Já a C não divulgou com veemência a coleção Special for You, que traz modelos acima do tamanho 44, mas ela está lá, para as mulheres que não vestem 38.

Também atenta às particularidades da consumidora. A Levi;s tirou as medidas de mais de 65 mil mulheres em todo o mundo para desenvolver calças que se adaptem perfeitamente aos corpos considerados mais comuns. Eles chegaram assim a quatro modelos de jeans: Slight, Demi, Bold e Supreme. Para escolher o mais adequado, a mulher deve medir a cintura e os quadris. Com a tabela da Levi;s nas mãos, é só fazer a matemática e descobrir a que melhor modelo vai se encaixar. ;É uma questão de curva, não de tamanho;, explica a marca.

Na busca pela roupa que caia perfeitamente no corpo, a lingerie é peça essencial. Elas pode aumentar ou diminuir o seio, eliminar um pneuzinho e levantar o bumbum, por exemplo. Por isso, encontrar a calcinha e o sutiã certos é de extrema importância. Na loja Loungerie, recém-inaugurada em Brasília, a cliente é atendida por uma vendedora com uma fita métrica. Ali, calcinha e sutiã são comprados separadamente. ;Cada mulher é única e tem suas próprias medidas. O uso de sutiãs que respeitem o corpo de cada mulher, com tamanho certo nas costas e nos seios, aliado ao uso do bojo mais adequado a cada tipo físico valorizam o colo;, afirma Sandro Fernandes, CO da marca, que oferece peças na numeração 40 a 52 (medida das costas) e taças A a E (tamanho dos seios), além de oito tipos de bojos.

O mesmo diferencial é a aposta da Duloren, que em 2011 começou a investir no mercado plus size. No catálogo, as calcinhas ganharam versão extragrande e os sutiãs estão disponíveis até o tamanho 54. Outra novidade é o uso do tecido ;sensual curves;, importado da Europa. O material tem duas vezes mais elastano na composição, permitindo maior compressão e melhor definição das curvas. Fora isso, as modelagens e os recortes também estarão mais modernos e ousados.

;Antigamente, os modelos maiores de calcinha e sutiã eram muito sem graça, tanto em relação a cores e estampas como à própria modelagem. Quem disse que precisa ser assim? Por isso, investimos em peças com apelo fashion e mais sensual. Queremos que todas as mulheres se sintam sexy;, garante a diretora de marketing e estilo da Duloren, Denise Areal.

Sucesso importado
Elas passam longe das araras com manequim 36, são maioria no Brasil, mas ainda têm dificuldade em encontrar roupas que se encaixem perfeitamente aos seus corpos curvilíneos. Aos poucos, porém, a indústria de confecção vêm descobrindo - e valorizando - as chamadas consumidoras plus size

O movimento de valorizar as formas reais, com os defeitos tão próprios de uma mortal, começou lá fora. A moda internacional há mais tempo respeita as curvas femininas. A moda fast fashion americana, por exemplo, sempre disponibilizou peças grandes para suas mulheres igualmente grandes. Lá não é considerado ;especial; quem não veste P ou M. Aos poucos, as passarelas no exterior também começaram a ser palco de silhuetas diferentes. A coleção de Jean Paul Gaultier, em 2010, na Semana de Moda em Paris, fez uma reverência às donas de corpos mais arredondados. Ele colocou na passarela a bem gordinha Beth Ditto, conhecida como vocalista do grupo Gossip. Alexander McQueen, Marc Jacobs, Chanel, Dolce & Gabbana, Fendi, Oscar de La Renta e Valentino também estão produzindo suas grades até o 48.

Já a semana de moda de Nova York, em setembro do ano passado, criou uma tenda para abrigar os desfiles dedicados à moda maior. Cerca de 18 modelos plus size, entre elas a top Lizzie Miller, apresentaram as peças GG do site americano OneStopPlus.com, especializado nesse público. ;O desfile é uma maneira de proporcionar a todas as mulheres que vestem tamanhos grandes uma moda que elas sempre mereceram, mas nunca tiveram. Trata-se de inclusão e democracia de moda, de não mais assistir ao que elas não poderiam ter;, declarou, na época, Zahir Babvani, vice-presidente do portal.

É também em Nova York que ocorre a semana de moda Plus Size, o Full Figured Fashion Week, que em 2011 escolheu como ;modelo Plus Size do ano; a brasileira Fluvia Lacerda, considerada a Gisele Bündchen da moda GG. Há mais de uma década morando nos Estados Unidos, essa mineira faz sucesso lá fora exibindo suas formas generosas. Por aqui, quase não sabem quem ela é. Mas a moça garante que tem pretensões de mudar isso e democratizar a moda para as grandes no Brasil. Enquanto isso, aconselha: ;Tem que mandar e-mail para as marcas dizendo que quer numeração maior, que tem poder aquisitivo e quer comprar a mesma calça que a irmã que usa 36;, disse a modelo em entrevista a um site de moda brasileiro.

Não só ela, mas outras beldades, longe de se encaixarem no padrão de magreza extrema, também fazem sucesso. A modelo Tara Lynn veste 48 e, por isso mesmo, foi escolhida para lançar a nova campanha da H cujo slogan diz: Big is Beautiful (ser grande é lindo, em livre tradução). E o ;big; está em todos os lugares. Nas propagandas e nos editoriais das revistas. Modelos curvilíneas viraram capas das mais badaladas publicações do mundo. É certo que algumas fotos reforçam certos preconceitos, como modelos mais cheinhas rodeadas por comidas, ou ainda moças que estão longe de estarem acima dos peso, mas são consideradas plus size justamente por não serem magérrimas.

E não para por aí. Em junho de 2011, a Vogue Itália escolheu três tops literalmente de peso para brilhar nos seus editoriais. Tara Lynn, Candice Huffine e Robyn Lawley ao lado de comidas e vestindo apenas lingerie. ;Fizemos isso para atrair a atenção das pessoas para o fato de que não existe apenas um tipo de beleza, mas que toda mulher pode ser bonita;, disse a editora da revista, Franca Sozzani, em entrevista ao The New York Times. ;Percebemos que mulheres com corpos reais são muito mais interessantes do que as adolescentes que estamos acostumados a ver nas passarelas;, reforçou.

Nesse mesmo ano, a Vmagazine, uma das revistas mais respeitadas e disputadas pelos entendidos de moda, dedicou suas páginas ao charme das mulheres acima do peso. Eles convidaram o fotógrafo Terry Richardson para clicá-las. Em seu editorial, ele vestiu uma modelo com padrões de passarela e outra plus size com a mesma produção. O objetivo era provar que a roupa certa fica bem para qualquer mulher.

Diante das lentes da moda grande tem outros nomes. A badalada top Crystal Renn, que vive brigando com a balança, depois de ganhada a batalha contra a anorexia, por exemplo, se tornou ainda mais famosa ao recuperar 30kg e se assumir como modelo plus size. Outras curvas que valem ouro são as de Marquita Pring. A beldade diz para quem quiser ouvir que não gosta de ser considerada ;plus size;. Prefere ser ;curvy;. Para ela, o termo, que denota um tamanho além do planejado pelo mercado, tem significado negativo. ;Gosto de representar todas as mulheres e suas curvas, não importa o tamanho na etiqueta;, defende.

Entrevista // Suzy Rêgo
Elas passam longe das araras com manequim 36, são maioria no Brasil, mas ainda têm dificuldade em encontrar roupas que se encaixem perfeitamente aos seus corpos curvilíneos. Aos poucos, porém, a indústria de confecção vêm descobrindo - e valorizando - as chamadas consumidoras plus sizeAntes da beleza, deve-se levar em consideração a saúde
Ela foi considerada beldade nos anos 1980, justamente por ser dona de um corpo escultural. Naquela época, Suzy Rêgo foi eleita miss época e causava inveja pelas medidas irretocáveis. Aos 44 anos, a atriz desfilou com novas medidas em 2011. Chegou a pesar 104kg, ;por desleixo;, como declarou em várias entrevistas. A nova silhueta lhe rendeu algumas oportunidades. Ganhou papel em novela da Rede Globo justamente por estar acima do peso. Com 80kg, ela viveu Duda Aguiar, uma atriz divorciada, sem emprego, que vai a um spa perder peso para posar nua, acaba envolvida em tráfico de chocolates e engorda mais. Ela também foi uma das estrelas do Fashion Week Plus Size, evento de moda brasileiro tamanho GG. Em entrevista à Revista do Correio, ela falou desse momento e da relação com o corpo acima do peso.

Como é sua relação com a moda?
Tem sido uma relação ligada ao conforto. Somos pais de gêmeos, Marco e Massimo, de 2 anos e 5 meses, e eles nunca param. Portanto, o que visto sempre é confortável, prático e simples. Nem é moda, é roupa de vida radical.

Você desfilou no Fashion Week Plus Size depois de ter ganhado alguns quilos? Como foi a experiência?
Sim, estava bem acima do peso quando fiz a novela Morde & Assopra, de Walcyr Carrasco, e desfilei para o FWPS. Foi uma ótima experiência, conheci mulheres maravilhosas e seguras de si. No entanto, a partir dali, resolvi adquirir um estilo de vida mais saudável e atingir o meu peso ideal, quando me sinto mais confortável e feliz. Reforço aqui meu respeito a todas as mulheres acima do peso, que, ao contrário de mim, se amam como estão. Mas no meu caso ; e só posso falar por mim ; quero priorizar a saúde, e o sobrepeso a compromete.

Qual foi o retorno do evento, voltado para mulheres que se sentem inadequadas por estarem acima do peso e, de repente, se viram representadas por belas na passarela?
Eu também estava inadequada e acima do peso. E belo é ser saudável. Muitas belas e com sobrepeso têm diabetes, pressão alta e são candidatas a infartos e AVC. Belo mesmo é se distanciar dessa estatística.

Quando você engordou, como foi consumir moda? Você conseguia comprar o que gostava, vestir o que queria?
Parei de comprar, pois tudo tinha um caimento inadequado, minha autoestima despencou.

A sua experiência como modelo GG mostrou que esse mercado está crescendo e é preciso apostar na beleza que não é aquela tamanho 36?
Nunca fui 36 na fase adulta, nem é essa a média das mulheres brasileiras. O mercado GG está crescendo porque a população brasileira no geral engordou. Claro que se deve apostar em todas as belezas, isso é muito subjetivo, mas faço questão de frisar que o que deve ser levado em consideração em primeiríssimo lugar, antes da beleza, é a saúde. Se alimentar de forma equilibrada e praticar atividades físicas regularmente trarão beleza interna e externa, independentemente do manequim.

Qual a sua relação com seu corpo? Você se acha uma mulher bonita?
Atualmente estou muito feliz, pois mudei meus hábitos e me sinto super bem disposta e revigorada. Durmo bem, como tudo o que gosto de forma moderada e brinco com meus filhos com muita energia e disposição. Afastei as dores nas costas e nas pernas, a preguiça, o desânimo e a vergonha de sair por me achar pesada e disforme. Estou belíssima e segura. Seguirei nesse caminho, já que ainda tenho metas a atingir.

Nas passarelas brasileiras
Elas passam longe das araras com manequim 36, são maioria no Brasil, mas ainda têm dificuldade em encontrar roupas que se encaixem perfeitamente aos seus corpos curvilíneos. Aos poucos, porém, a indústria de confecção vêm descobrindo - e valorizando - as chamadas consumidoras plus sizeAs passarelas brasileiras ainda não estão tão democráticas. Por aqui, fica difícil se identificar ao ver desfiles de moda ou editoriais em revistas. A não ser, claro, que você tenha 1,80m ou mais e pese poucos quilos. O que se percebe são iniciativas individuais que dão os primeiros passos para a mudança da mentalidade que valoriza a inatingível. Em Brasília, por exemplo, a então estudante de moda do Iesb Patrícia Camargo, conseguiu quebrar a obviedade e foi selecionada, em novembro de 2010, para desfilar a moda feita para gordinhas durante o Capital Fashion Week, em Brasília. Teve dificuldades de encontrar modelos gordinhas, mas não desistiu. Inspirada na obra do artista plástico Fernando Bottero, mostrou que as não magras podem usar cores, shorts curtinhos, pregas, babados e vestidinhos.

Patrícia apresentou ao público fashion a proposta que já oferece em sua loja, em que só vende tamanhos grandes. Há 14 anos começou a trabalhar nesse mercado, justamente pela falta de ofertas. Abriu a loja Vickttoria e hoje também vende pela internet. A diferença é que, antes, só oferecia batas, decotes em V, calça pijama com cós de elástico e camisa de mesmo tecido para fazer o conjunto. Hoje, a clientela não aceita a limitação de opções. Quer roupa bonita que valorize seu corpo. Patrícia foi atrás, estudou moda e mostrou na passarela que dá para ser fashion, mesmo com quilinhos extra. ;Gosto de trabalhar com o público plus size porque admiro o corpo delas. Cabe a mim estudar formas de valorizar essa silhueta e descobrir o que vai cair melhor nelas;, diz a empresária.

Elas passam longe das araras com manequim 36, são maioria no Brasil, mas ainda têm dificuldade em encontrar roupas que se encaixem perfeitamente aos seus corpos curvilíneos. Aos poucos, porém, a indústria de confecção vêm descobrindo - e valorizando - as chamadas consumidoras plus sizeE as gordinhas, aos poucos, conquistam mais espaço. Consumidora da moda GG, a jornalista e blogueira Renata Poskus Vaz, 30 anos, decidiu criar em 2009 o blog Mulherão para falar dos prós e contras de quem tem formas fartas. Entre os temas dos posts, ela dava dicas de onde encontrar roupas legais, já que todas as leitoras se queixavam da limitação de lojas com numeração grande. O sucesso foi tanto que Renata começou a ser procurada pelas marcas especializadas, que também não sabiam como divulgar o próprio produto. ;Você percebe que essas lojas também não produziam coleções na época certa, improvisavam no catálogo, a filha gordinha do dono virava a modelo e pronto;, comenta.

Pensando em unir o útil ao agradável, ela teve a ideia de apresentar as grifes plus size em um evento de moda. Assim surgiu o Fashion Week Plus Size (FWPS), que comemora sua quinta edição no evento agendado para 11 e 12 de fevereiro de 2012, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo. ;A existência de um evento de moda voltado exclusivamente para o mercado plus size acirra a competitividade entre as marcas e desperta a atenção de lojistas. Agora, existe mais investimento e as grifes GG estão mandando os estilistas ao exterior para buscar inspirações e referências;, comemora Renata.

Se na primeira edição, em janeiro de 2010, foram 10 grifes participantes, entre moda praia, festa e lingerie, na edição de inverno 2012, esse número dobrou. O evento chamou a atenção de quem quer vender ou pensa em fazer moda para vestir o ;mulherão;. O FWPS tem Salão de Negócios para a comercialização das peças GG em todo Brasil, democratizando a moda e suas tendências. ;A mulher plus size tem o mesmo direito de estar na moda que a magrinha. Não adianta falar que moda é frescura. A roupa é importante na hora de conseguir um emprego, muitas deixam de sair porque não têm uma roupa legal. A mulher gordinha não aceita mais usar uma legging e uma camiseta larga;, conclui Renata, que abriu uma loja virtual (lojamulherão.com.br).

Beleza valorizada
Se o objetivo do FWPS é vender roupas e apresentar as marcas que estão atentas às características de cada biotipo, outros eventos têm a proposta de enaltecer a beleza, atualmente, considerada fora do padrão e resgatar a autoestima de quem se considera inadequado por uma pressão social. Pelo menos cinco eventos de miss plus size foram organizados no último ano no Brasil. Basicamente, todos tinham o mesmo objetivo: encontrar belas que vestem acima do manequim 44. Alguns tiveram critérios de seleção questionáveis, como o Miss Brasil Plus Size Virtual, promovido pelo blog Gordinhas do Brasil, que exigiu que as participantes tivessem grau um de obesidade.

Concursos de beleza que atiçam meninas do país inteiro. Muitas sequer imaginariam que mesmo pesando bem mais que uma miss, nos moldes conhecidos hoje, elas também poderiam ostentar uma faixa com o mesmo predicado. Entre eles, será realizado em janeiro, em São Paulo, o Miss Brasil Plus Size. Criado pela Impacto Produções e World Model, a disputa teve mais de 400 inscrições de candidatas de todo país. Apenas 30 foram selecionadas. No fim do mês, elas desfilam de com trajes de banho, casual e de gala. Serão avaliadas beleza, simpatia e postura. A vencedora ganhará uma viagem para a Suíça, um reforço na autoestima e virará exemplo para outras jovens. ;A iniciativa é justamente para mostrar que elas são mulheres bonitas e também podem subir na passarela;, conclui Alberto Conde, um dos idealizadores da disputa.

Moradora de Cabo Frio, a estudante de enfermagem e de administração Géssica Carneiro, 21 anos, vive a responsabilidade de divulgar a beleza plus size. Ela foi eleita Miss Plus Size Carioca 2011. Concorreu com mais 39 meninas. Morena, com expressivos olhos verdes, ela realmente chama atenção pela beleza. As formas de quem veste 46 e pesa 94kg nunca lhe deram chance de participar de um concurso voltado para as magrinhas. Foi quando descobriu a chance de ser miss entre as mulheres curvilíneas. Achou que tinha chances. E deu certo. ;Toda menina já sonhou em ser miss. Fiquei realmente muito feliz com a vitória;, conta. ;Agora, as meninas me param na rua, me pedem dicas, me perguntam como cuido do cabelo, da pele, onde compro roupas;, orgulha-se.

Depois disso, Géssica foi convidada a fazer catálogos e a desfilar. Ela acredita que essa é uma das provas que o mundo fashion está mais democrático e pronto para valorizar a beleza de cada mulher. Para o futuro, deseja mais: ;Tomara que um dia possamos dividir a passarela com modelos magras O mercado tem que ter a clareza de que a moda deve ser feita para todas;, aposta.

Modelos plus size
Conheça algumas das mulheres que desfilarão na próxima edição do Fashion Week Plus Size, em São Paulo
Elas passam longe das araras com manequim 36, são maioria no Brasil, mas ainda têm dificuldade em encontrar roupas que se encaixem perfeitamente aos seus corpos curvilíneos. Aos poucos, porém, a indústria de confecção vêm descobrindo - e valorizando - as chamadas consumidoras plus size
Silvia Neves, 37 anos
; Um dos rostos mais conhecidos da moda plus size do país, a morena de Belo Horizonte (MG) é requisitada por grifes de todo o país. ;Depois que me tornei modelo, aprendi a valorizar minha beleza e minha feminilidade. É gratificante quando meninas gordinhas dizem que eu as inspiro;, declara.

Márcia Saad, 38 anos
; Os longos cabelos loiros de Márcia fazem sucesso nos mais variados catálogos de moda plus size. ;Achava que não teria muito espaço no mercado por causa da minha idade, mas aconteceu justamente o oposto: muitas grifes se identificaram com o meu perfil;, explica a modelo, que também é professora de educação infantil.

Cléo Fernandes, 24 anos ; Considerada a modelo plus size revelação de 2011, a goiana, que veste 46, entrou no mercado fashion por incentivo da mãe. Sua carreira deslanchou após desfilar no FWPS Verão 2012, quando começou a fazer catálogos para grifes de todo o Brasil. ;Amo o que faço, estou feliz e meu conceito de beleza mudou;, declara a jovem, que sofreu de bulimia dos 11 aos 17 anos e agora esbanja autoestima.

Tainá Fuzaro, 21 anos ; A ruiva promete ser a revelação do FWPS Inverno 2012. Ela já tinha feito fotos e enviado a agências sem sucesso. Até que, em outubro de 2011, foi convidada para fotografar em um calendário com mulheres plus size. ;Vejo que as grifes preferem mulheres mais velhas, mas, com a expansão do mercado, acredito que rostos mais joviais como o meu também serão requisitados;, confia.

Géssica Carneiro, 21 anos ; A morena de olhos azuis ainda não realizou nenhum trabalho como modelo, mas ostenta a faixa de Miss Plus Size Carioca 2011. ;Estou muito feliz com essa oportunidade, espero realizar um bom trabalho e seguir carreira dentro do segmento;, afirma a estudante de enfermagem, que usa manequim 48.

Fonte: Organização do Fashion Week Plus Size

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