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Fast fashion com cara de relíquia

Parcerias entre estilistas renomados e lojas de departamento fazem sucesso em todo o mundo. Mas as peças grifadas, que chegam a preços mais acessíveis ao consumidor, somem rapidamente das prateleiras e logo são comercializadas por valores exorbitantes na internet

postado em 25/03/2012 08:00

No papel, a ideia é boa. Redes de fast-fashion se juntam a estilistas famosos para fazer coleções exclusivas e mais em conta. Aparentemente todo mundo se beneficia. Os estilistas evitam a pirataria, as grandes redes reafirmam o seu potencial de moda e o consumidor adquire design de qualidade por bons preços. Com esse sistema ganha-ganha, a tendência se espalhou pelo mundo. Cada vez mais marcas ; populares e de luxo ; querem se unir. Assim como cada vez mais os apaixonados por moda querem consumir essas coleções. O lado ruim, entranto, é que as últimas parcerias foram tão disputadas que poucos sortudos conseguiram comprar as peças. Elas rapidamente se esvaziaram das lojas e se transformaram em itens de desejo. Consequentemente, criando um mercado negro na internet, principalmente no eBay.

A coleção mais disputada foi a lançada pela H em conjunto com a Versace em novembro do ano passado. Em 15 horas, as peças do mundo inteiro se esgotaram. Não se achava mais nada nem na loja virtual oficial. Logo após os primeiros clientes fazerem as compras, começaram a pipocar no eBay os produtos da linha por preços exorbitantes. Os valores estavam até 4 vezes maior que o vendido nas lojas. Com essa coleção da Versace foi possível perceber a institucionalização desse "mercado negro". Em Xanguai, na China, por exemplo, ao invés de centenas de mulheres enlouquecidas ; como em todo canto do mundo ;, se encontravam homens calmamente esperando as portas se abrirem. Ao serem questionados o que estavam fazendo lá, reponderam: "Vamos comprar o que der para vender no eBay".

Esse fenômeno acontece, pois apesar de fazer uma grande exposição para a mídia, as grandes redes não fabricam as peças na mesma proporção que o número de compradores interessados. Além disso, fecham os contratos com estilistas para fazer coleções fechadas que não podem ser fabricadas novamente. "Esse modelo é super seguro para as empresas, pois elas fazem avaliação de custos e colocam a venda o número de peças exatos que dão uma boa margem de lucro. Fabricam exatamente aquilo que vai vender e dar retorno financeiro. Sabendo que o interesse criado pela mídia vai acabar as poucas peças rapidinho. Não tem erro", explicou Luis Tadeu Dix, professor de Negócios de Moda da Universidade Anhembi Morumbi.

Esse comércio, entretanto, inicializou o debate: será que pouco número de peças produzidas afastaria os compradores? Essa discussão está em voga desde 2004 quando Karl Lagerfeld cancelou um contrato com a H por que eles não quiseram relançar as peças que tinha desenhado após terem sido esgotadas. "A minha intenção de fazer essa coleção era para poder alcançar as milhares de pessoas que não conseguem pagar pelas roupas que eu vendo na Chanel e na Fendi. Mas eles não fizeram uma quantidade suficiente de roupas. Acho vergonhoso a H decepcionar tantas pessoas", cutucou o kaiser da moda na época. O estilista e a marca cortaram relações e nunca mais fizeram uma parceria juntos. A H, por outro lado, gostou do resultado e se juntou com nomes poderosos do mercado como Alber Elbaz da Lanvin.
Parcerias entre estilistas renomados e lojas de departamento fazem sucesso em todo o mundo. Mas as peças grifadas, que chegam a preços mais acessíveis ao consumidor, somem rapidamente das prateleiras e logo são comercializadas por valores exorbitantes na internet

Especialistas acreditam que os compradores também sentem atraídos pela enorme repercusão da mídia. "Eles gostam de ter produtos que poucas pessoas têm, mas que são desejados por muitos. Essa exclusividade atrai olhares e dinheiro paras as marcas de fast-fashion. É assim que esse mercado funciona", analisa Dix. Por isso, aumentar o número de peças não é interessante para nenhuma das partes. As parcerias apesar de não se transformarem em lucros absurdos, ele agregam valor de moda a suas marcas, fidelizam os clientes e abrem as portas para novos potenciais compradores. "É um diferencial da marca", explica Dix.

Mas é claro que nenhuma delas tem interesse no mercado "mercado negro" de suas mercadorias. Por isso, tentam criar saídas para evitar vendas paralelas. Algumas tentaram aumentar o número de produção de peças para diminuir a especulação na internet. Outras lojas criaram regras diferentes para conter o "mercado negro" e organizar as pessoas que compram as coleções no dia de lançamento. As redes distribuem senhas na porta das lojas. Um número limitado de clientes podem ficar dentro da franquia ao mesmo tempo. Além disso, eles têm apenas 15 minutos para comprar ; esse número varia de loja para loja. Outra regra que é adotada é o limite de peças que cada pessoa pode adquirir. Há lojas que só permitem a compra de apenas uma peça da coleção.

A especulação fast-fashion
Na Target: A rede de supermercado norte-americana teve uma experiência traumática com a parceria que fez com a italiana Missoni. Uma série de erros de logísticas atrapalharam a parceria. Alguns produtos, por exemplo, foram colocados à venda, em algumas filiais, antes do lançamento oficial. Além disso, apesar da coleção ter 400 peças diferentes, os itens acabaram rapidamente e foram parar no eBay. Deixando muita gente frustrada. Por isso, agora que lançaram uma coleção do Jason Wu a Target fez mais peças. Mesmo depois de um mês do lançamento é possível encontrar as camisas, saias e vestidos nas lojas e por isso, os preços das peças vendidas no eBay não são diferente do que se encontra no supermercado.

Na TopShop:
A fast-fashion inglesa lançou na semana passada uma linha com 10 peças para em parceria com a designer grega Mary Katrantzou. Foi a terceira vez que os dois fecharam uma colaboração, mas foi a primeira que ela desenhou uma coleção completa. O frenesi também aumentou com esse lançamento, pois nas últimas duas temporadas a estilista se transformou na nova queridinha das moderninhas de Hollywood. No dia de lançamento, já tinha fila na porta da rede inglesa antes das lojas abrirem. Para não ter muito mercado negro no eBay, os vendedores limitaram a venda de uma peça por cliente. Mesmo assim rapidamente a coleção se esgotou. Antes da hora do almoço já não tinha mais as peças-chaves da coleção. Mas se você quiser comprar algumas coisas, ainda é possível encontrar algumas peças no eBay e no site oficial ainda vende um lenço, uma calça e uma camiseta que não fizeram tanto sucesso.

Na C:
A estilista inglesa Stella McCartney fez uma parceria para uma coleção fast-fashion exclusiva para o Brasil. Ela se juntou com a gigante C, que já tinha colaborado com Reinaldo Lourenço. As peças surpreenderam pelos preços mais altos. Mas em compensação, as roupas eram melhores acabadas e com melhores tecidos do que as que normalmente são vendidas na rede. No dia do lançamento, as peças desejo acabaram em uma hora. Já à tarde só sobraram os tamanhos muito grandes e os muito pequenos. A coleção foi um marco nas redes fast-fashion no país para mostrar como uma parceria pode agradar clientes, estilistas e as marcas.

Aprenda a comprar nas grandes redes
A concorrência é cruel. As roupas realmente se esgotam no dia de lançamento ; até no Brasil. No dia seguinte só vai ter as peças que não fizeram sucesso ou que tem a modelagem ruim. Por isso, se programe e sigas as regras de compra.
- Acompanhe os veículos de moda para saber quando vai ser lançada a próxima coleção
- Fique de olho no catálogo. O ideal é que você já saiba todas as peças que você quer comprar
- Cheque no site da marca quais lojas vão vender a linha especial e que dia começam as vendas
- Tenha certeza que horas a filial abre, as vezes por conta do lançamento as redes fazem escalas especiais
- Chegue na loja na hora de abrir (nas coleções no exterior é melhor chegar algumas horas antes)
- Seja objetiva e pegue todas as peças que te interessou no catálogo. Só depois dê uma olhada na coleção toda
- Acredite, as peças voam das araras sem você perceber
- Troque as peças com as vizinhas do provador, as vezes elas tem alguma coisa que te interessou e não estavam nas araras
- Conte com a ajuda dos vendedores, as vezes eles sabem de alguma peça perdida entre o amontoado de roupa
- Só compre o que caia bem em você, não fique afobada em comprar tudo que vê para frente

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