Brasília, essa jovem senhora de quase 52 anos, sempre teve entre seus moradores aqueles que buscavam saúde por meio dos exercícios físicos. Tanto que, desde a inauguração, a cidade já contava com as suas próprias academias. Hoje, ela é considerada a capital da ginástica localizada do Brasil. Os motivos para exibir esses ;títulos;? O primeiro é prático: as mulheres daqui não têm preguiça de manter a beleza. O outro, uma curiosidade histórica: ;Como os aparelhos eram muito caros, tínhamos que inovar na ginástica para conquistar os alunos. E isso fez com que o serviço oferecido se tornasse o melhor;, explica Almyr Ramos Jr, um dos mais conhecidos professores da modalidade no país.
Na academia na qual é sócio, a expectativa agora é pela chegada das caneleiras de 20kg, que devem aumentar o arsenal de possibilidades para os alunos. Atualmente, esses pesos vão até 16kg, sendo que várias praticantes de ginástica localizada somam mais de uma caneleira em cada perna. A quantidade de peso, claro, é baseada em avaliações pessoais. Mas os professores de educação física garantem que é notável a evolução das brasilienses nessa área. ;Pratico ginástica localizada há 20 anos. Uso o peso maior, mas já espero pelo de 20kg. Não quero parar porque, além de amar, hoje tenho o corpo que sempre quis;, garante a empresária Millena Sales Abraham, 37 anos.
De acordo com Almyr, quem quer começar na ginástica localizada precisa, antes de tudo, avaliar em que estágio o corpo se encontra. Como qualquer atividade física, há cuidados que evitam lesões, especialmente nos casos daquelas que já têm condições de suportar grandes pesos. ;Nos preocupamos, no início, com o estado em que a pessoa se encontra, para que, daí, possamos introduzi-la na aula;, garante. O professor explica que, ao conhecer bem a situação do corpo de quem inicia o exercício, os pesos poderão ser recomendados de forma mais específica. ;Assim, saberemos quanto ela pode render e quais esforços o organismo está apto a suportar.;
A administradora Valéria Allam pratica ginástica localizada há oito anos, cinco vezes por semana, e leva 7kg em cada perna por aula. Garante que era avessa às academias, mas foi conquistada pela modalidade. ;Mesmo que o professor brinque que posso carregar mais, estou satisfeita com o resultado. Tenho 48 anos, mas me sinto com a energia de uma mulher de 25;, garante.
O ortopedista Michael Simoni, presidente do Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia Esportiva, diz que é possível ver, nas grandes academias, um cuidado intenso por parte dos professores com a postura das alunas que praticam aulas de ginástica localizada. Para o médico, esse cuidado é essencial para que não ocorram lesões, já que, muitas vezes, praticantes da modalidade conseguem resultados rápidos e, com isso, tendem a exagerar na dose. ;Há um risco de sobrecarga articular nos joelhos, além de possibilidade de dores na lombar, estiramento do músculo e, até mesmo, hérnia de disco.;
O especialista alerta aquelas mulheres que, para ir além, não respeitam a extensão gradual do limite de peso. ;A área de segurança de cada uma delas não é o número de quilos apenas. É preciso levar outros aspectos em consideração. Cada pessoa tem suas especificidades;, completa. Sem seguir as orientações dos treinadores, aquela aula divertida pode se tornar uma dor de cabeça. E de coluna! Millena assegura que, nos 20 anos em que pratica ginástica localizada, sempre respeitou seus limites, bem como seguiu as regras do instrutor. ;Meu maior cuidado é com a postura e nunca tive problema algum porque não é difícil acompanhar as regras.;
O professor de educação física Wallison Maia veio há quatro meses do Rio de Janeiro para dar aulas de localizada em Brasília. Ele frisa que as duas cidades representam hoje os maiores polos do exercício do Brasil e que as brasilienses são muito motivadas. Segundo Wallison, a ginástica localizada surgiu nos anos 1930, na capital fluminense, e vem sendo modificada desde então. ;Não eram usados pesos no início. Com a evolução do exercício, foi sendo colocada a sobrecarga. Com a força que ela proporciona, você consegue ter uma contração muscular mais intensa, resultando em uma hipertrofia da musculatura e um maior ganho de massa muscular.; Isso, garante Wallison, melhora o desempenho, a força e o equilíbrio do praticante.
Mas, qual a razão dos pesos? Almyr Ramos Jr. explica que, no início, as caneleiras chegavam a, no máximo, 3kg. O baixo peso tinha de ser compensado com mais esforço e velocidade, tornando as aulas mais rápidas, mas nem por isso tão eficazes quanto a puxação de ferro tradicional. ;Conforme nós fomos estudando, começamos a cadenciar mais a aula, deixando-a mais lenta, aumentando a carga e diminuindo o número de repetições. Ela se aproximou, assim, da musculação.;
Almyr explica que as caneleiras também podem ser usadas por quem não pratica ginástica localizada. Depende dos objetivos do aluno e de como o instrutor quer que ele os alcance. ;O peso não ajuda somente a perna. A parte orgânica também começa a funcionar. A sobrecarga aumenta a irrigação sanguínea e a temperatura corporal, fazendo o gasto calórico ser maior.;