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Os donos do jogo

Qual é o perfil de quem joga videogame? Levantamentos recentes dão conta que a maior parte dos chamados gamers já deixou a infância para trás e tem poder aquisitivo para investir no hobby

postado em 10/06/2012 08:00
Vinícius Pedreira
Especial para o Correio

Os donos do jogo
Qual é o perfil de quem joga videogame? Levantamentos recentes dão conta que a maior parte dos chamados gamers já deixou a infância para trás e tem poder aquisitivo para investir no hobby


NÚMERO:
935 mil
consoles foram comercializados no Brasil no ano passado.

LEGENDA
Guilherme Mazzaro encontrou no lazer uma profissão e, hoje, desenvolve joguinhos para várias plataformas


A ideia de que videogame é um entretenimento infantil não corresponde à realidade. Na verdade, quem movimenta esse mercado são os gamers, adultos apaixonados por jogos. Nos EUA, a média de idade desse tipo de consumidor é de 37 anos. Dados da Entertainment Software Association ; que organiza a E3, considerada a maior feira do setor ;, revelam que 53% dos jogadores estão na faixa etária entre os 18 e 50 anos, 29% têm mais 50, e apenas 18%, menos de 18 anos.
Aos 26 anos, Guilherme Mazzaro faz parte da geração que testemunhou a rápida evolução dos consoles e joysticks. A paixão surgida durante a infância acabou virando trabalho. Hoje, Guilherme é programador e ganha a vida desenvolvendo games para a empresa brasiliense Behold Studios. Em atividade há quatro anos, a companhia já criou aplicativos, por exemplo, para o Facebook, o iPhone e o iPad. ;A turma do Atari (pioneiro entre os consoles domésticos) agora está com 30 anos e tem poder de compra. Nós, que acompanhamos esse processo, nunca paramos de jogar;, diz o programador. Para se ter uma ideia, o consumo desse tipo de diversão no Brasil cresceu 53% no ano passado.
O produtor Saulo Camorotti, 25, também da Behold Studios, acredita que a popularidade dos games é impulsionada pelo fator social, já que é comum amigos se reunirem para uma sessão de partidas. ;Videogame é um universo gigantesco. Pode tanto aplicar em educação, em relações sociais, ensinar o certo e o errado;, analisa. E, por ser uma atividade simples, de fácil acesso, estimulante e divertida, a idade não é um empecilho, sugere a psicóloga comportamental Lílian Boarati.
Segundo a especialista, o fenômeno dos adultos que jogam videogame está relacionado à existência de uma grande diversidade de jogos, sempre com níveis de dificuldade adequados ao perfil de cada gamer. ;Os videogames portáteis (como o Nintendo DS e PSP) são os preferidos do momento porque podem ser transportados e usados em qualquer hora. Conheço muitos adultos que jogam esperando em filas;, revela. Um aspecto adicional, aponta Lílian, é o uso dos joguinhos eletrônicos pelos pais como forma de interagir com os filhos.


O perigo do game over
Considerados uma prática lúdica, os jogos podem ter efeito relaxante e ajudar no desenvolvimento da velocidade de raciocínio, da capacidade estratégica e da memória. No entanto, de acordo com a psicóloga Íria Martins, os gamers devem ter cuidado para não transformar a diversão em necessidade. Se chegar a esse nível, o indivíduo estará diante de um problema sério de dependência, semelhante ao alcoolismo.
;Quando eu elimino amigos, estudos, tempo com a namorada, entre outras coisas, para aumentar o tempo do videogame é bom ficar atento;, alerta Íria. Esse pode ser o início do chamado transtorno de adicção, isto é, o jogador abre mão de várias atividades da sua vida e se prejudica social e emocionalmente. ;É comum a pessoa perder o emprego e ter conflitos na família e nos demais relacionamentos afetivos e sociais;, enumera a psicóloga.
Como em todo vício, a pessoa deve recorrer a auxílio especializado e contar com o apoio dos mais próximos. ;Não é simplesmente mandar o indivíduo parar de jogar ou ameaçá-lo tirar algo, pois é comum eles não terem controle sobre o impulso;, esclarece.
Dono de uma coleção de cerca de 400 jogos dos mais variados consoles, é fácil dizer que o profissional de bodypiercing Gustavo Pragana, 31, é um apaixonado por games. O amor pelos games, entretanto, chegou a um limite. Gustavo ficava, diariamente, cerca de cinco horas hipnotizado em frente ao monitor, com o controle nas mãos. Vieram as reclamações cada vez mais insistentes de amigos e da namorada e ele tomou a decisão: ;Eu percebi que estava exagerando e reduzi as horas. Hoje, com o trabalho, também está mais difícil arranjar um tempo, mas sempre dou um jeito;, reconhece.
Guilherme Mazzaro também chegou perto do vício, mas superou o tempo ilimitado em frente ao computador. ;Acho que se você tende a ficar muito tempo atrás da tela não vai saber lidar com situações na vida real. Mas hoje, como trabalho na área, posso falar que estou fazendo uma pesquisa de campo;, brinca.

Agradecimentos:
Behold Studios

Fontes:
GfK Consumer Choices
Entertainment Software Association
Blog Games Reflexões
Portal Terra

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