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A pele que habito

A disposição para encenar um ídolo pop, assumindo todos os seus trejeitos, exige mais do que talento. Alguns artistas cover contam como é vestir o manto da fama alheia

postado em 11/11/2012 08:00
Em frente ao espelho, eles dão início à metamorfose. Base, pó, lápis de olho e batom. Cílios postiços, às vezes, entram na transformação. A peruca, então, fica guardada dentro de uma caixa para ser retirada no último momento. Roupas engomadas, sapatos lustrados e acessórios cuidadosamente separados sobre a mesa do camarim. Naquele momento catártico, sairá de cena o tipo comum para dar vez ao personagem que só precisa estar ali, no palco, para despertar o encanto do público. O ídolo surge e os gritos de assédio são verdadeiros, bem como as palmas e o pedido de bis. Com vocês, Roberto Carlos, Michael Jackson, Elvis Presley e Amy Winehouse interpretados por artistas da cidade. São eles que nos contam como criaram versões dessas estrelas da música ; e como, de certa forma, carregam a fantasia mesmo longe dos holofotes.

Detalhes tão pequenos de nós dois;
A disposição para encenar um ídolo pop, assumindo todos os seus trejeitos, exige mais do que talento. Alguns artistas cover contam como é vestir o manto da fama alheia
A risada e a entonação da voz são idênticas às do cantor Roberto Carlos. Se fecharmos os olhos, dá até para imaginar que estamos falando com o próprio. "Pô, bicho; São tantas emoções", solta Alan Barreto, 60 anos, entre uma e outra pergunta. Cover do Rei há mais de duas décadas, Alan não se lembra da última vez em que se viu no espelho e não viu Roberto. O rei invadiu seu imaginário ainda na adolescência, aos 14. Nascido em Campos (RJ), "colada com a cidade de Cachoeiro de Itapemerim, onde Roberto cresceu", o cover teve uma família musical, que frequentava os mesmos pontos que a turma da Jovem Guarda. Nada indicava, porém, que sua vida se confundiria com a do cantor de Amada amante.

Na década de 1970, fez parte do grupo Banda do Sol e se apresentava em bares e clubes de Brasília até a década de 1990. Conheceu Tim Maia, Rosemary ; com quem dividiu o microfone ;, Wanderléia, Jerry Adriani, entre outros. Também foi trompetista e trombonista. Mas quando arranhou Detalhes e Emoções no palco, em 1993, recebeu mais aplausos do que de costume. "Foi aí que percebi: esse é meu caminho. E comecei a me caracterizar como ele", recorda. Comprou peças nas cores azul e branca, e mandou fazer blazer e calça no estilo de Roberto. Como já cortava o próprio cabelo, ajustou o penteado ao do Rei. "Sabia que ele também corta o próprio cabelo?", instiga, feliz com a coincidência. Sua maior tiete é a companheira Francis, que nem é muito fã do Roberto, o original.

Tamanha admiração fez com que Alan abrisse um bar em Brasília, onde se apresentou a caráter por muitos anos. Quando não subia ao palco, a trilha sonora do Clube do Rei, localizado na Asa Norte, era toda feita com LPs do ídolo. O estabelecimento já não existe, mas Alan ainda tem uma agenda cheia como intérprete. Todos os dias, ele "entra em atividade", como define. Por isso, é difícil vê-lo fora do personagem. "Sinto-me o representante do Rei. Então, incorporo ele mesmo."

Uma vez, ele teve a oportunidade de trocar ideias com Roberto Carlos, durante uma passagem do cantor pela cidade. Alan confessa que até cantou à capela para o ídolo, que não fez cara feia. Muito pelo contrário, ele o incentivou a seguir em frente como sósia. Satisfeito em interpretar "o cara" que mais admira, Alan diz que ainda não realizou dois sonhos. O primeiro, gravar um CD com canções pouco conhecidas de RC. Mas o principal mesmo é se juntar a ele no palco. "Sei que é complicado, que, no especial de fim de ano exibido na tevê, só vai artista consagrado, mas quem sabe, né? São tantas emoções;"

Leia esta reportagem na íntegra na edição n;391 da Revista do Correio

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