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Um resgate do tempo e da fé

O glamour do ciclo do ouro permanece vivo na arquitetura e na decoração dos casarões no centro histórico de Pirenópolis, cidade que atrai turistas do mundo todo

postado em 09/06/2013 08:00
Pelas ladeiras tortuosas, os casarões coloniais decoram as ruas de Pirenópolis, cidade do interior de Goiás, localizada a 150km de Brasília. A arquitetura colonial, herança dos portugueses, pode ser apreciada no centro histórico da charmosa cidade. A fachada das casas segue um mesmo padrão ; enormes portas e janelas, que parecem convidar quem passa a fazer uma viagem no tempo.

No interior das casas é possível notar, além da beleza, a inteligência da arquitetura do século 18. O pirenopolino e arquiteto do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Maurício Imenes explica que os cômodos dos casarões são grandes e altos, pois na época não havia energia elétrica, então se usava, ao máximo, os recursos naturais. "As janelas, grandes e alinhadas, permitem que a luz do sol entre e atravesse a casa inteira, e o pé-direito, que indica a distância entre o chão e o teto, é bem alto para favorecer a circulação do ar", completa. Além disso, as casas são geminadas ; encostadas umas nas outras. Essa também é uma característica herdada dos portugueses e explica o porquê de tantas janelas na fachada.

As casas do centro histórico de Pirenópolis não são pintadas de qualquer cor. Existe uma recomendação do Iphan, feita a partir de um estudo de relatos de viajantes que passaram por Goiás na época colonial. "O branco prevalece porque naqueles tempos não havia muitas opções de tinta, então basicamente se usava cal. Já para as janelas e portais, foi definida uma paleta de cores", conta Maurício. Segundo o arquiteto, hoje em dia, há uma grande abertura para o morador escolher a cor da casa. "O azul e os tons pastéis, como verde, rosa e amarelo claro, são os mais vistos pelas ruas pirenopolinas", ressalta.

Adobe, pau a pique, ladrilho hidráulico e madeira bruta eram os principais materiais e técnicas construtivas utilizados nas casas coloniais ; esses ainda hoje são usados, porém de forma diferente. O adobe, por exemplo, ganhou destaque na decoração. Os projetos feitos nas casas antigas o deixam à mostra nas paredes como prova do tempo e da restauração cuidadosa. Esse tipo de tijolo antigo dá à casa um ar colonial e charmoso.



Flores, objetos religiosos e peças de antiquário são a base da decoração do quarto do casal. O destaque do espaço fica por conta do dossel, que emoldura a cama de madeira maciça



A decoração com figuras religiosas reforça a identidade da família e da cidade, marcada pelas festas tradicionais



Boa parte dos objetos que decoram a sala pertenceu à avó de Cláudia Sabóia, como a cristaleira e os retratos que recepcionam o visitante



No jardim, o carro de boi serve de apoio para vasos e realça a atmosfera rústica do ambiente



A cadeira de balanço imprime charme e, ao lado da janela, é um convite ao descanso



O teto da sala de música, obra da artista residente em Pirenópolis Miriam Santos, é uma reprodução do teto da Igreja Matriz

Lar relicário

A decoração da maioria das casas antigas é praticamente um relicário ; nos dois sentidos da palavra ; é valiosa e de temática religiosa. As antiguidades que adornam os casarões são, muitas vezes, garimpadas ao longo de anos. Caso da residência de Cláudia e Raul Sabóia, casal brasiliense que é dono de uma das casas mais antigas de Pirenópolis, em que os primeiros registros datam 1851. De acordo com Cláudia, foram mais de 15 anos decorando o lar aos poucos. "Boa parte dos objetos que eram da minha avó hoje está na sala. Já os enfeites do resto da casa compramos de artesãos e antiquários da cidade. Na verdade, ainda não terminamos de decorar. Nós vamos, com o passar do tempo, encontrando objetos interessantes e complementando a decoração da casa", diz.

Paredes com adobe à mostra, piso de tábuas de madeira colonial e muitos objetos decorativos ; assim, o casarão do casal brasiliense foi montado. No corredor, fotos antigas da família em preto e branco. Na sala, máquina de escrever, cadeira de balanço, lustres de cristal e móveis rústicos. Na cozinha, coleção de xícaras e bules de porcelana, geladeira azul antiga. Nos quartos, oratórios e figuras de santos, mosqueteiro e penteadeira. E, por fim, no enorme quintal, um carro de boi de madeira decora o jardim. A casa tem até uma sala de música. "O teto da sala foi pintado pela artista residente em Pirenópolis Miriam Santos. É uma reprodução do teto da Igreja Matriz, com anjos e trombetas", conta a moradora.

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