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Diabetes cada vez mais cedo

No Brasil, existem 13 milhões de diabéticos. Apesar disso, a população desconhece a doença. Metade não recebeu o diagnóstico. Outra realidade preocupa: é crescente o número de casos em crianças e jovens

Gláucia Chaves
postado em 21/07/2013 08:00
No Brasil, existem 13 milhões de diabéticos. Apesar disso, a população desconhece a doença. Metade não recebeu o diagnóstico. Outra realidade preocupa: é crescente o número de casos em crianças e jovens
Por vezes, a saúde quebra paradigmas. É comum que uma pessoa na terceira idade não esteja com o organismo funcionando a todo vapor, por exemplo. Muito se escuta, porém, sobre como os idosos estão ativos hoje em dia. Da mesma maneira, uma criança e um adolescente têm funções fisiológicas perfeitas, vitalidade, robustez. Acontece que, cada vez mais, doenças atribuídas aos mais velhos, como a diabetes, fazem parte da rotina infantil. Embora o Ministério da Saúde não tenha números oficiais sobre a incidência de diabetes nessa faixa etária no país, muitos estudos acadêmicos já mostram que a doença atinge pacientes cada vez mais jovens. Outro detalhe preocupante é que, de acordo com outros estudos, a diabetes ainda é subestimada. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), 13 milhões de brasileiros têm diabetes, mas podem não saber disso: metade dos que já desenvolveram o distúrbio não conhece o diagnóstico.

Muitos desconhecem os principais sintomas e, principalmente, o real alcance da enfermidade. Uma pesquisa conduzida pelo Instituto Ipsos em maio deste ano mostrou que 10% da população brasileira fazem parte de um grupo de risco para o diabetes. Desses, 60% não têm ideia de que têm muitas chances de adoecer. E o mais alarmante: dos que estão na iminência de ficarem diabéticos e não sabem disso, 73% considera nada ou pouco provável ter a doença em algum momento da vida. Talvez os números reflitam um certo desconhecimento sobre os pormenores do problema, já que 41% associaram o mal à velhice. É um erro. O número de casos é crescente em jovens, como Luís Eduardo, 23 anos, e em crianças.

Luís foi diagnosticado aos 12 anos, porém os sintomas apareceram alguns anos antes. Aos 9 anos, tinha a alimentação desregrada, quase exclusivamente composta por doces. Frutas e verduras, claro, não faziam parte do cardápio. Exercícios físicos também não eram muito a praia de Luís. Aos 11 anos, ele começou a jogar basquete, para tentar perder todo o sobrepeso que adquiriu com a rotina preguiçosa. "Perdi peso muito rapidamente nessa época", relembra. O emagrecimento foi tão rápido que parecia suspeito. Quem viu primeiro que o menino andava "esquisito" foi a avó. "Eu estava muito enfatigado, desidratado, acordando muitas vezes à noite para fazer xixi", enumera o estudante. "Sempre muito cansado, e todos relacionavam isso ao basquete."

Após uma tarde na casa da avó, se empanturrando de doces e guloseimas, ela aconselhou aos pais de Luís que talvez fosse melhor levá-lo ao médico. Luís fez um exame de sangue e foi mandado de volta para casa. "Cheguei e tomei um copo de leite com chocolate quente, para poder dormir mais facilmente", conta. "Só me lembro de apagar e acordar no hospital." De madrugada, os médicos ligaram para a família para revelar o resultado do exame: a glicemia de Luís estava em 600 miligramas de açúcar por decilítro de sangue (mg/dL). Uma pessoa saudável, em jejum de oito horas, apresenta nível glicêmico igual ou inferior a 99. "Isso tudo sem contar o leite com chocolate", completa. "Passei um mês internado, me reidratando e me adaptando aos novos padrões alimentares e à insulina."

A partir desse dia, tudo mudou. Dentro de casa, os pais, que também não conheciam a diabetes a fundo, também procuraram se adaptar. O açúcar do suco e do café foi substituído por adoçante, refrigerantes normais trocados pela versão diet e as sobremesas incrementadas feitas pela avó foram inovadas com aspartame. "Você tem que mudar muita coisa. Mas precisa mudar exatamente porque os padrões que você vai adquirindo é que não são compatíveis com uma vida saudável", analisa Luís. "Você é forçado a levar uma vida que todos deveriam levar." A doença, inclusive, serviu como inspiração para a escolha da futura profissão. Hoje estudante de nutrição da UnB, Luís quer usar seus conhecimentos para ajudar pessoas que passam pelo mesmo problema. "Ver meu pai buscando informações para me ajudar foi muito motivador", explica.

Leia a reportagem completa na edição n; 427 da Revista do Correio.

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