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Esqueça a dieta; pense na saúde

Não tem segredo nem fórmula mágica. Médicos, psicólogos, nutricionistas e profissionais de educação física mostram por que apostar em cardápios muito restritivos é um grande erro para quem quer emagrecer

postado em 27/07/2014 08:00

Não tem segredo nem fórmula mágica. Médicos, psicólogos, nutricionistas e profissionais de educação física mostram por que apostar em cardápios muito restritivos é um grande erro para quem quer emagrecer Se todo mundo já sabe que a fórmula para emagrecer é algo que combine alimentação saudável e prática de exercícios físicos, por que ainda há tanta gente lutando contra a balança? Como escolher a melhor dieta para se fazer se elas entram e saem de moda? A confusão não para por aí, já que alimentos com supostas propriedades milagrosas no favorecimento da perda de peso surgem como novidade quase que periodicamente. Nos últimos tempos, o desafio tem sido encontrar quem não tenha ouvido falar maravilhas da fruta goji berry, originária do sul da Ásia. Por outro lado, nutrientes ganham má fama e muita gente decide retirá-los da alimentação com apoio de um mercado em que proliferam opções de artigos sem glúten e sem lactose, os vilões da vez.

Para entender melhor tudo isso e descobrir o que está por trás de um processo saudável de perda duradoura de peso, a Revista conversou com nutricionistas, nutrólogos, endocrinologistas, médicos especializados em emagrecimento e com uma psicóloga. Os profissionais foram unânimes ao falar da importância de uma reeducação alimentar benfeita. Também é consenso que essa mudança de hábitos pesa tanto na balança quanto o controle de problemas emocionais relacionados à alimentação. É o caso da depressão, do estresse e da ansiedade, que podem levar as pessoas a excessos e a escolhas erradas na hora de comer.

É preciso saciar a mente
A ideia de que se deve analisar o papel da comida na vida quando se quer perder peso tem um defensor célebre. Autor do livro Você tem fome de quê?, lançado neste ano no Brasil pela Editora Alaúde, o médico endocrinologista indiano Deepak Chopra assina outros best-sellers, como Supercérebro e As sete leis espirituais do sucesso. Nas páginas da obra, que promete na capa ser a "solução definitiva para perder peso, ganhar confiança e viver com leveza", antes de propor uma contagem de calorias ou a retirada de alimentos prejudiciais à saúde e ao emagrecimento, Chopra convida o leitor a refletir a respeito da felicidade e a buscar satisfação a partir de uma abordagem holística.

Ele alerta logo que o "importante é não fazer regime, porque eles não funcionam". Nas palavras do médico, "o ato de comer envolve a imagem que temos de nós mesmos, os nossos hábitos, condicionamentos e memória. A mente é a chave para a perda de peso, e, quando ela está satisfeita, o corpo para de ansiar por mais comida". Dessa forma, antes de apresentar receitas, também inclusas no livro, Chopra ensina o leitor a meditar profundamente sobre os motivos que o fazem comer com o objetivo de ensiná-lo a fazer escolhas acertadas ao se alimentar, sem cair em excessos ou usar a comida como solução quando um problema surge.

O médico e psicanalista argentino Maximo Ravenna, criador do famoso método de emagrecimento que leva seu sobrenome, também dá grande importância para a mente ao propor o conjunto de mudança de hábitos que leva os pacientes a perderem peso. "Quando nós comemos, o cérebro ativa mecanismos de prazer e recompensa. A ingestão de um hambúrguer causa a liberação de dopamina, que atua como droga estimulante no cérebro. É um hedonismo e um circuito muito difícil de cortar", explica.

Por isso, o tratamento nas clínicas espalhadas pelo mundo que aplicam o método Ravenna conta com grupos de terapia acompanhados por psicólogos, além da orientação de nutricionista, médicos e um profissional de educação física. "É preciso construir uma atitude diferente em relação à maneira que se come. A comida deve estar no centro do prato, não no centro da vida", afirma. Depois de uma avaliação física completa baseada em exames médicos do paciente, é traçada uma meta de perda de peso e é hora de cortar alimentos com efeito de repetição compulsiva, entre eles, pães, farinha, batata e arroz. O sal e o açúcar, da maneira que são usados pela indústria alimentícia, também representam um perigo, de acordo com Ravenna. "É tudo muito forte, a pessoa ingere muita insulina e tem cada vez mais fome."

A percepção de Chopra e Ravenna de que as pessoas têm se alimentado de maneira errada com a crescente oferta de alimentos cada vez mais processados e de baixo valor nutricional se sustenta em dados. Apesar de uma pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde no fim de abril deste ano ter apontado pela primeira vez em oito anos que a obesidade no Brasil parou de crescer, o estudo mostrou também que o número de brasileiros acima do peso ainda é maior que a metade (50,8%) do total e que muitos têm hábitos alimentares considerados inapropriados.

Foi registrado um índice de 16,5% de brasileiros que substituem o almoço ou o jantar por um lanche de baixo valor nutritivo, como uma pizza ou um sanduíche. O órgão também viu com preocupação o consumo excessivo de gordura saturada: 31% dos entrevistados não dispensam a carne gordurosa. Já a população que consome refrigerante pelo menos cinco dias por semana alcançou o alto índice de 23,3%.

"As facilidades calóricas e a falta de movimento contribuem com o aumento de peso. Andamos pouco, comemos muito, trabalhamos muito e a vida em grandes cidades geralmente é mais estressante, uma tríade mortal", explica Giulliano Esperança, formado em educação física, sobre o quadro atual de obesidade. "O estresse, as poucas horas de sono, a indústria alimentícia e a falta de conexão afetiva" também estão na lista dos maus hábitos enraizados hoje, segundo Ravenna. O médico Fábio Cardoso, especialista em longevidade e emagrecimento, aponta quatro fatores determinantes para a redução de peso de maneira saudável. "Reeducação alimentar, hidratação correta, sono reparador e exercício físico regular e adequado. Esse é o conjunto de fatores mais importantes não só para emagrecer, mas para preservar o corpo de forma saudável."
Não tem segredo nem fórmula mágica. Médicos, psicólogos, nutricionistas e profissionais de educação física mostram por que apostar em cardápios muito restritivos é um grande erro para quem quer emagrecer
Controlando as emoções
Estar disposto a fazer uma mudança de hábitos profunda é o primeiro passo para quem quer perder peso de maneira saudável. Palavras como atenção, foco e disciplina costumam povoar a cabeça de quem consegue se manter firme durante esse período de aprendizado e alterar velhos costumes. Segundo a abordagem do indiano Deepak Chopra, resistir às tentações tem muito a ver com a busca por satisfação da alma e controle das emoções.

A psicóloga Isabel Cristina Ribeiro, que trabalha com pacientes em processo de perda e manutenção de peso no Centro Terapêutico Ravenna de Brasília, afirma que é comum os pacientes terem problemas na relação com a comida por conta de ansiedade e depressão. "Trabalhamos com grupos terapêuticos e focamos na relação dos pacientes com a alimentação, ensinamos como lidar com as emoções de maneira saudável de forma que as frustrações não sejam descontadas na comida."

A aposta de Ravenna em fazer o paciente participar de sessões em grupo com mais de 20 pessoas é baseada na crença do poder da troca de informações e motivação entre as pessoas. "Ouvir relatos de gente que estava passando pela mesma situação que eu foi fundamental para que o tratamento desse certo", acredita o servidor público Jorge Paulo de França Júnior, de 37 anos. Ele começou o tratamento em abril do ano passado, quando pesava 140kg. Desde então, 55kg foram embora. Jorge tem hoje 85kg, peso que vem mantendo há seis meses. "Aprendi a controlar a ansiedade. Percebi como é a minha relação com a comida. No meu caso, foi muito claro ver a diferença entre a fome e a vontade de comer. Quando você não está fazendo nada em casa e abre a geladeira, não quer dizer que você está com fome. Passei a observar o papel que a comida tem na minha vida", conta Jorge.

Para ele, o valor da comida atualmente é principalmente nutricional. "Claro que há o prazer de comer, tem os jantares com os amigos, mas as escolhas que eu faço são diferentes. Busco as alternativas saudáveis onde quer que eu vá. Não me lembro da última vez que comi um hambúrguer ou pizza, e eu realmente não sinto falta, porque sei que esses alimentos não fazem bem para o meu corpo."

"Já estava muito desacreditada porque já havia tentado tudo para perder peso, mas fui vendo que tinha resultado que ia além do emagrecimento, mas também na mudança do meu modo de viver. Eu nunca tinha feito exercício físico e fui me estimulando a cada passo", conta a médica Cira Costa, de 51 anos. Ela perdeu 75kg em um ano e dois meses e mantém os 62kg que tem hoje há seis meses, depois de ter chegado a pesar 137kg com o passar dos anos e após duas gestações.

Cira acredita que o acompanhamento multidisciplinar tenha sido o grande diferencial para que ela obtivesse sucesso na jornada depois de passar uma vida inteira fazendo dietas. "Já tinha tentado emagrecer com acompanhamento de uma médica e com outros dois métodos, mas a cada dieta nova eu perdia cada vez menos peso e engordava mais. Era um eterno efeito-sanfona. Quando você faz só uma dieta, acaba fazendo sozinha e, em algum momento, o estresse e a ansiedade apareciam e eu começava a comer de novo, não tinha fixado o modo de comer diferente. A parte da psicoterapia vai direto na origem do problema. O contato com outros pacientes ajuda e nós buscamos juntos outras formas de lidar com essas sensações. A ideia é desvincular isso da alimentação, que é para nos satisfazer nutricionalmente e não ser algo que vai sanar um problema emocional." A nutricionista e gestora do centro Ravenna de Brasília, Isadora Fadul, complementa que "faz parte do processo investigar o que está por trás do comer errado e de forma compulsiva, usamos todos os eixos para tratar disso."

Leia a reportagem completa na edição n; 480 da Revista do Correio.


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