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Nas pegadas do mestre

Em homenagem a Sérgio Rodrigues, rastreamos as obras dele na capital. A catalogação é precária e insuficiente para honrar sua memória. Quem tem um móvel assinado por ele, no entanto, reconhece o valor do design brasileiro

postado em 14/09/2014 08:00

A história do arquiteto e designer de móveis Sérgio Rodrigues, que morreu no último dia 1;, se mistura com a da capital. Foi ele quem, na época da construção da cidade, mobiliou muitos dos palácios e órgãos públicos, marcando um estilo que mais tarde ficaria conhecido como o verdadeiro design brasileiro. Suas mesas serviram de apoio para assinaturas de importantes documentos nos gabinetes da Presidência da República e do Itamaraty e em suas poltronas já se sentaram autoridades de todo o mundo.

Mesmo o Sérgio Rodrigues arquiteto, menos conhecido que o designer de móveis, deixou traços na nova capital: a primeira sede do Iate Clube saiu da sua prancheta, assim como os prédios Oca I e II da Universidade de Brasília, que, nos primeiros anos, abrigavam professores, funcionários e alunos.

"O prédio que ele projetou na UnB está quase no chão", lamenta o professor Marcelo Mari, do Departamento de História da Arte, e coautor do livro Mobiliário moderno: das pequenas fábricas ao projeto da Universidade de Brasília, que destrincha as relíquias que habitam as salas da universidade. "Toda a UnB passou por um processo muito duro, principalmente nos anos de governo militar. Muita coisa foi descartada ou simplesmente substituída, como as poltronas do auditório Dois Candangos. A UnB não cuidou do seu patrimônio", afirma.

De fato, rastrear o que foi preservado da época da inauguração dos palácios não é tarefa simples. Alguns substituíram os originais por modelos mais contemporâneos e se desfizeram dos assinados pelo designer, outros preservaram apenas um ou outro exemplar, e outros ainda guardam em seus interiores muito da sua obra, sem, no entanto, identificar as peças.

Para além dos órgãos públicos e gabinetes importantes da capital, a obra do arquiteto segue viva também nas casas dos colecionadores e admiradores. A pioneira Betty Bettiol, por exemplo, mobiliou toda a casa com móveis comprados na Oca, em São Paulo, quando se casou, nos anos 1960. Muito do mobiliário original, como um conjunto de poltronas Mole, ainda estão na sua casa. Um outro tanto foi dado como herança aos filhos quando eles saíram de casa.


Itamaraty
Em homenagem a Sérgio Rodrigues, rastreamos as obras dele na capital. A catalogação é precária e insuficiente para honrar sua memória. Quem tem um móvel assinado por ele, no entanto, reconhece o valor do design brasileiro

O designer criou uma série de móveis para adornar os ambientes do Ministério das Relações Exteriores. Assim nascia a chamada "família Itamaraty", que hoje se espalha por outros escritórios e prédios da cidade. Muita coisa do que Sérgio Rodrigues fez ainda está por ali, misturada a outros clássicos e a peças mais contemporâneas. Muitas entram no rol do "quase certeza que esse é Sérgio Rodrigues". Quanto à vitrine usada para expor medalhas e aos bancos do terceiro andar, no entanto, não há nenhuma dúvida.

Palácio do Jaburu
Em homenagem a Sérgio Rodrigues, rastreamos as obras dele na capital. A catalogação é precária e insuficiente para honrar sua memória. Quem tem um móvel assinado por ele, no entanto, reconhece o valor do design brasileiro

No palácio que serve de moradia para o vice-presidente, aberto ao público para visitação em junho passado, as 10 cadeiras da sala de jantar, chamadas "cadeira Tião", são de Sérgio Rodrigues. A Secretaria de Turismo, que tem um levantamento parcial das obras do designer por Brasília, ainda conta uma mesa de escritório, projetada em 1957.

DEPOIMENTO
Em homenagem a Sérgio Rodrigues, rastreamos as obras dele na capital. A catalogação é precária e insuficiente para honrar sua memória. Quem tem um móvel assinado por ele, no entanto, reconhece o valor do design brasileiro

"Quando me casei, em 1962, o Luiz Carlos (marido) já era muito amigo do Sérgio. Nessa época, ele estava começando a fabricar para a Oca, em São Paulo, e nós compramos muita coisa lá, mobiliamos toda a nossa casa com móveis dele. Como ele fez todo o mobiliário da nova capital, muitos pioneiros tinham móveis dele, era muito comum. Hoje em dia, com os três filhos crescidos, muita coisa saiu daqui, da ;casa-mãe; e foi para a casa deles, como herança. Depois, eles também tomaram gosto e compraram móveis para eles. Aqui em casa tem muita coisa que nem catálogo tem. Tem, por exemplo, um bauzinho, que é o xodó. É um móvel pequeno, de cerca de um metro, em Jacarandá, e muito inteligente, com rodinhas. Uma vez, o Sérgio veio aqui em casa e ficou surpreso de ver essa peça, porque é bem rara, acho que ele fez poucas. Muita gente nem sabe, mas a primeira sede do Iate foi ele quem projetou. As pessoas falam dele como designer de móveis. O Sérgio era também um sujeito bon vivant."
Betty Bettiol, pioneira da capital, sobre o amigo e responsável pelo mobiliário da sua casa

Palácio do Planalto
O Planalto não tem um levantamento preciso, mas segundo a Secretaria de Turismo do Distrito Federal, o mezanino do palácio é decorado com três salas de espera, compostas por dois conjuntos de poltronas Beto ; criadas especialmente para o palácio ;; e o gabinete presidencial mescla na decoração móveis da década de 1940 com peças de Sérgio Rodrigues dos anos 1960, mas não especifica quais.

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