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Que tipo de piada é mais engraçada?

O estudo concluiu que uma boa piada deve ser a mais direta possível e que deve nos fazer rir com pouco esforço, mas nem tão pouco esforço

postado em 06/12/2015 08:00
Por Ricardo Teixeira*

Pesquisadores da Universidade de Oxford na Inglaterra avaliaram o efeito que 55 diferentes piadas tiveram sobre alunos da London School of Economics e mostraram que alguns tipos de piada agradam mais que outros. O estudo foi publicado esta semana pelo periódico Human Nature.

As piadas foram extraídas de uma lista das 101 melhores piadas de todos os tempos e os resultados mostraram que os estudantes deram maiores notas às piadas que tinham um nível de complexidade médio. Nem tão simples e nem tão complicadas. Quando tinham um roteiro com muitos personagens, ou muitas idas e vindas na história, características estas que podem fazer com que o ouvinte perca o fio da meada, a pontuação era mais baixa. Piadas com dois personagens foram consideradas melhores do que com mais ou menos personagens.


O ato de rir provoca mudanças fisiológicas no corpo e um estado emocional que podem ser positivos ao estado de saúde
Estudos que avaliaram o impacto do humor sobre a saúde dedicaram-se principalmente aos temas dor, estado imunológico e saúde cardiovascular. Alguns experimentos apontaram que indivíduos são mais capazes de suportar estímulos dolorosos quando estão assistindo a vídeos com conteúdo de humor. Outros estudos avaliaram componentes do sistema imunológico antes e depois de uma sessão de vídeo com conteúdo de humor e os resultados revelaram respostas imunológicas positivas. Quanto ao sistema cardiovascular, pesquisadores demonstraram que pacientes com doença coronariana têm menores scores numa escala de senso de humor frente a situações do cotidiano. Na verdade, temos boas evidências de que a falta de senso de humor, ou uma vida acompanhada de impaciência, raiva e atitudes hostis, estão associados a um maior risco de desenvolver pressão alta, piorar o controle dos níveis de glicose e ainda aumentar o risco de doença isquêmica do coração e morte.


O humor pode modular os efeitos adversos do estresse
Qualquer emoção intensa é capaz de ativar o sistema nervoso simpático, que por sua vez libera uma série de ;combustíveis; no sangue, entre eles a adrenalina, para que estejamos prontos a enfrentar ou a fugir da situação que nos provocou emoção. Uma pesquisa que comparou os efeitos fisiológicos durante um filme triste e um filme de humor revelou que ambos eram capazes de estimular o sistema nervoso simpático, mas provocaram respostas diferentes no quesito pressão arterial. O filme triste aumentava a pressão arterial dos voluntários enquanto o filme de humor não. Um outro estudo comparou os níveis de hormônios de estresse antes e depois de assistir a um vídeo de humor e mostrou uma redução dos níveis de cortisol, hormônio do crescimento e de um metabólito da dopamina.

Há evidências de que o humor pode ser um bom remédio contra a ansiedade. Um interessante experimento propôs aos voluntários que eles receberiam um pequeno choque a qualquer momento. Uma parte dos indivíduos estudados apenas esperou pelo choque, outra parte esperou ouvindo um áudio sem conteúdo humorístico e um terceiro grupo esperou pelo choque ouvindo um áudio com conteúdo de humor. O áudio de humor foi capaz de reduzir a ansiedade antecipatória ao choque e o efeito foi mais robusto entre os indivíduos com maior senso de humor.

O humor tem o potencial de incrementar a rede de relacionamentos de um indivíduo, promovendo maior apoio social
Estudos revelam que o senso de humor de uma pessoa está associado a outras virtudes que facilitam as relações sociais, como é o caso da empatia, capacidade de se relacionar com intimidade e confiança interpessoal. Além disso, temos cada vez mais evidências de que existe certo contágio emocional entre as pessoas. Pessoas que mantém contato com um indivíduo deprimido têm maior tendência em ficar deprimidas. Sabemos também que nosso estado de felicidade é um fenômeno de rede social, ou seja, depende do grau de felicidade das pessoas com as quais estamos conectados.

Emoções positivas, o sorriso, o estado de felicidade, todos podem ser vistos do ponto de vista evolutivo como um mecanismo que facilita as relações sociais ao promover sentimentos prazerosos nas pessoas, recompensar os esforços dos outros e encorajar a continuidade da relação social. E o sucesso da espécie humana depende de sua capacidade de fazer relações sociais.

Onde é que o riso se encontra no nosso cérebro?
As regiões mais frontais do nosso cérebro são consideradas as mais recentes no processo de evolução da espécie, e é aí que se concentram funções especializadas como a linguagem e o riso. O riso por sinal é exclusivo da espécie humana - a hiena não ri - e já foi demonstrado que a área cerebral que desencadeia o riso em última instância está nessa parte frontal. Já foi até comprovado que sua estimulação elétrica durante procedimentos cirúrgicos é capaz de desencadear o riso. Temos evidências também que o hipotálamo e as regiões temporais também têm participação na geração do riso. É claro que no mundo real precisamos do cérebro como um todo para entender a piada.

*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília e professor de pós-graduação em divulgação científica e cultural na Unicamp.

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