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Quando o público dominar

A obra de Mário de Andrade está em domínio público desde 1º de janeiro. Isso significa que Macunaíma continuará sua perambulação por avenidas ainda mais amplas e sem cobrança de pedágio

Gustavo Falleiros
postado em 12/01/2016 08:00 / atualizado em 03/11/2020 10:40

A obra de Mário de Andrade está em domínio público desde 1º de janeiro. Isso significa que Macunaíma continuará sua perambulação por avenidas ainda mais amplas e sem cobrança de pedágioO herói sem nenhum caráter poderá ser digitalizado, xerocado, mixado e canibalizado sem restrições. Em breve, Mario e Macunaíma devem migrar inteirinhos para o portal www.dominiopublico.gov.br, onde desfrutarão da companhia de Machado de Assis e Euclides da Cunha, entre outros. Daí pra frente, a única barreira entre autor e leitor será a curiosidade: a falta dela.


Escrevo esta crônica porque a facilidade de acesso à informação fascina e espanta. Espanta e fascina. A USP, por exemplo, disponibilizou para dowload uma parte do acervo doado pelo José Mindlin (1914-2010). Veja bem, o bibliófilo tinha cerca de 40 mil volumes. Humildemente, fiz uma única uma pesquisa, que culminou na leitura descompromissada do primeiro número do Correio Braziliense ou Armazem Literario, publicado em Londres, em 1808, por Hipólito José da Costa. Está lá, em www.brasiliana.usp.br. História em estado bruto.

 

Outro acervo impressionante é o da Biblioteca Pública de Nova York. Na terça-feira passada, a instituição anunciou a liberação para download de mais de 180 mil itens, incluindo iluminuras medievais, partituras de música popular do início do século 20, coleções de fotos de expedições arqueológicas, mapas de todas as partes do mundo, manuscritos de escritores norte-americanos etc., mil vezes etecetera. Os responsáveis pelo projeto criaram uma ferramenta de busca muito bacana, que permite navegar intuitivamente (publicdomain.nypl.org). Ainda assim, dá vertigem.

 

Quem gosta de arte também deveria passar uns minutos explorando o site da National Gallery, de Londres (www.nationalgallery.org.uk). O barato é que as obras podem ser baixadas com uma qualidade absurda mediante uma licença do tipo Creative Commons, ou seja, você pode fazer um baita poster do seu quadro favorito desde que não lucre com isso (com elegância, eles sugerem uma doação pelo serviço gratuito).

 

A democratização do conhecimento tem muitos aspectos. Para não alongar demais, concluo provisoriamente com uma iniciativa brasiliense singela, mas perfeita. Diariamente, o Facebook é atualizado de modo a nos lembrar o quanto o Arquivo Público do Distrito Federal é importante e merece atenção (um viva para Lúcio Flávio, servidor que alimenta o perfil). Criado em março de 1985, o arquivo é a memória tangível da construção de Brasília e abriga documentos preciosos. O site merece uma visita: www.arpdf.df.gov.br. Curiosos apreciarão.

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