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Será que é possível ser criança e não ter medo da cadeira do dentista?

Assustar-se nas primeiras visitas ao consultório do odontopediatra é comum na infância. Brincadeiras e muita conversa podem dar fim ao medo

Renata Rusky
postado em 04/10/2016 14:53

O medo de dentista é clássico entre as crianças e acomete até alguns adultos. Se alguém visse, hoje, João Pedro Aires, 6 anos, na cadeira de dentista, comportado, assistindo ao desenho do cachorro Scooby Doo, enquanto sua boca era examinada, não imaginaria o chilique que ele deu na visita de estreia a um consultório. A primeira experiência foi há dois anos e lhe pareceu realmente assustadora. A mãe do garoto, Marina Aires, lamentou não ter levado ele e o outro filho, Rafael, 9, para se consultarem antes. É que ela, erroneamente, não via necessidade. ;Como sempre cuidamos bem, nunca tinha marcado uma consulta, mas minhas amigas começaram a falar sobre levar os filhos e me senti mal;, conta Marina.


João Pedro, 6 anos, e Rafael, 9, precisaram se habituar ao consultórioDe fato, a saúde bucal dos dois irmãos estava quase impecável, a não ser por uma cárie recém-aparecida em João. O menino, inclusive, fantasia e diz à reportagem que eram sete: ;Não doeu para tirar. Ela puxou com um ganchinho;, relata. Ao chegar ao consultório, naquela primeira vez, porém, ele se recusou a entrar. Fez birra e se jogou no chão. A mãe respondeu de forma dura e avisou que ele entraria de qualquer forma. Foi aí que a dentista interrompeu e repreendeu Marina. Ela assumiria a tarefa de convencer o pequeno paciente que o local era seguro e sem riscos.

O trabalho que seria feito naquela consulta foi adiado para uma segunda sessão, quando João já estivesse habituado ao ambiente e à profissional. Para Rafael, a situação foi mais fácil: ;Deu um medinho, mas fui vendo que a tia era confiável. Fui me sentindo em casa e fiquei relaxado;, conta. Afinal, como irmão mais velho, queria ser exemplo para o caçula.

A odontopediatra Ilana Marques, com quase 18 anos de profissão, está acostumada à rejeição dos pequenos ao dentista. É tão comum entre os pacientes de pouca idade que criou alguns macetes para deixá-los mais calmos. Uma das estratégias encontradas foi a elaboração de um livro, em 2006, no qual explica aos pequenos o que é feito na boca deles. É uma oportunidade de mostrar outras crianças vivendo a mesma situação, na mesma cadeira de dentista. Ela ainda aproveita para ensinar o que é uma cárie. ;Na fase entre os 5 e os 11 anos, acontecem muitas coisas na vida das crianças: a troca e o amadurecimento dos dentes;, explica. ;O material permite que pais e filhos vejam coisas importantes e aceitem melhor certos tratamentos;, acrescenta.

Agora, sempre que uma criança chega ao consultório assustada, ou com o mínimo de receio, uma das primeiras coisas que ela faz é mostrar o livro. Antes, tinha outra didática: usava fotos do próprio filho, hoje com 11 anos. ;As crianças menores ficavam no colo dos pais, então, mostrava foto do meu filho pequeno de boca aberta e elas abriam também;, relembra. ;Eles chegam achando que dentista é um bicho de sete cabeças, mas quando veem outra criança fazendo algo, ficam curiosos e copiam;, completa.

Segundo levantamento informal, realizado no primeiro semestre de 2002 pelo psicólogo Áderson Luiz Costa Junior ; com 250 pessoas residentes na capital ;, de todas as classes sociais, uma em cada três pessoas afirmou ter medo de ir ao dentista. Além disso, um em cada quatro entrevistados afirmou que costuma ir ao dentista a cada seis meses; e duas em cada cinco contam que somente procuram o especialista quando têm dor de dente ou sintomas suficientemente desagradáveis. ;Não ir ao dentista por medo ou receio de dor, além de prejudicial à saúde, estabelece uma situação de reforçamento positivo da própria crença;, explica o psicólogo.

Assustar-se nas primeiras visitas ao consultório do odontopediatra é comum na infância. Brincadeiras e muita conversa podem dar fim ao medo

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