Tecnologia

Para atingir público de baixa renda, lojas populares investem cada vez mais na internet

A classe C já é responsável por 42% das compras nos sites especializados

postado em 08/09/2009 08:30

Apesar de a nomenclatura passar a ideia de uma vida mais regrada e com limitações financeiras, a chamada classe C da pirâmide socioeconômica brasileira não fica atrás nas compras pela internet. Pelo contrário: é ela um dos impulsos principais para o setor, representando 42% do total de compras online, segundo dados da consultoria E-bit. Para atender as demandas desse público, empresas populares investem em lojas virtuais e em produtos com preços mais em conta. De acordo com levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV), entra nessa faixa quem tem renda familiar mensal entre R$ 1.115 e R$ 4.807 (veja quadro), totalizando 50% da população. Pesquisa feita pela E-bit, em parceria com o Instituto Análise, com pessoas com renda familiar de até R$ 1 mil mostrou que a procura na web pela classe C é principalmente por televisões em cores e celulares. Itens como notebooks e TVs LCD ainda aparecem pouco nessas compras, mas 29% dos consumidores de baixa renda planejam comprar um computador portátil em seis meses, 22% uma TV LCD e 26% uma câmera digital. Para a consultoria, o público de baixa renda se divide em 3 perfis: controlados (38%), tomadores de crédito (40%) e antenados (22%). O comércio eletrônico nacional faturou, ao todo, R$ 2,3 bilhões no primeiro trimestre deste ano ; um aumento de 25% em relação ao mesmo período do ano passado, atribuído à participação dos pequenos e médios varejistas. Considerando todo o primeiro semestre de 2009, o crescimento foi de 27%, arrecadando R$ 4,8 milhões, em comparação à mesma época de 2008, em que o faturamento foi de R$ 3,8 bilhões. Uma das frequentadoras assíduas das lojas virtuais é a empregada doméstica Elisa Carneiro dos Santos, de 39 anos. Com renda familiar mensal média de R$ 1.200 ; conseguidos com a soma de seu salário ao de seu marido e de seu filho mais velho ; ela não abre mão da facilidade de cumprir afazeres pela rede. Além de só fazer compras de supermercado pela internet, Elisa já adquiriu uma televisão no site Submarino (www.submarino.com.br), tudo pelo cartão de crédito e sempre prestando atenção na segurança dos sites. Agora, grávida pela quarta vez, as buscas mudaram. ;Estou tentando comprar roupa de neném para não ter que andar muito pelas lojas. Eu sento e vejo pela tela, é bem melhor do que ficar andando;, conta, animada. ;A única coisa que eu não compro é roupa para mim porque pode não servir;, considera. Elisa tem computador em casa e conta que seu filho também é fascinado pelo consumo online, comprando CDs e DVDs. A adesão da doméstica à tecnologia teve início há três anos, quando trabalhava em outra casa de família. ;A minha patroa não tinha tempo de ir ao supermercado, então fazia as compras à noite pela internet e no dia seguinte chegavam todos os produtos. Aí eu me empolguei também e nunca mais parei;, diverte-se. Mistura de fatores O especialista em vendas na web Conrado Adolpho justifica a entrada desse público no e-commerce como uma mistura de fatores. ;O crescimento se dá principalmente pela novidade, pelo poder de consumo e acessibilidade a tecnologias que antes essas pessoas não tinham por ser algo muito novo. Agora, a economia se estabilizou um pouco, os produtos ficaram mais baratos, e, às vezes, as condições de compra pela internet são melhores do que na loja;, explica. Outro fator que Adolpho destaca é o prestígio que esse tipo de acesso proporciona ao consumidor. ;Existe um grupo muito grande no país que agora tem acesso à mesma ferramenta que o dono da empresa dele tem. Isso valoriza e prestigia essa classe. Mesmo sem dinheiro para gastar online o mesmo tanto que o chefe, ele consegue gastar uns R$ 100 pela internet. É muito fácil e é muito gostoso você saber que é uma pessoa de vanguarda. É quase um estilo de vida;, analisa. Adolpho também é diretor da Publiweb Marketing Digital, autor do livro Google marketing e ministra o curso Os 7 Segredos do Comércio Eletrônico, para treinar lojistas que querem investir na internet. Uma das lojas que passou a investir no e-commerce é as Casas Bahia. Com meio virtual inaugurado em fevereiro deste ano ; uma aposta de R$ 3,7 milhões ;, a empresa estima para o primeiro ano na internet a marca de 1% a 2% das vendas totais, segundo dados informados pela assessoria. A justificativa para a entrada tardia no mercado online é, entre outros fatores, a decisão de esperar que seu público pudesse adquirir computadores. De fato, em 2005 apenas 13,8% da população brasileira tinha acesso a computador com internet em casa, percentual que subiu para 20,67% em 2007, totalizando 38,4 milhões de pessoas, de acordo com a FGV. Mais aproximadas do meio digital, 25,5% das pessoas da classe C possuem computador com internet em casa ; número, porém, ainda distante dos 68,7% das classes A e B, que juntas representam apenas 10,6% do país. Baixo custo Além das lojas populares, marcas começam a inaugurar produtos a preços mais em conta também com o objetivo de atingir consumidores sem tantas condições financeiras. A Coletek, detentora da marca C3 Tech, investiu na classe C e lançou produtos e serviços, como linha wireless, a baixo custo, prometendo atingir valores entre 10% e 15% a menos do que a média de produtos de rede sem fio disponíveis no mercado. Para isso, foi priorizado um uso mais básico, sem tantos acessórios. ; Pagamento parcelado As vantagens para esse público no ambiente online se estendem até o momento de pagar a conta. Com os mesmos preços e financiamento das lojas físicas, sites disponibilizam, além do cartão de crédito, a opção do boleto bancário. É o caso, por exemplo, da Nova Flor, presente no mercado virtual desde 2005 e voltada especialmente para o público da classe C ; onde há produtos a partir de R$ 12. E a aposta nesses compradores deu certo: a empresa registrou um crescimento de 173% entre janeiro de 2008 e janeiro de 2009. Segundo o gerente de Marketing Juliano Souza, o tíquete médio de compras é de R$ 80, e os clientes se apoiam muito no parcelamento para adquirir o que querem no site de flores e arranjos. ;Há muitas pessoas da classe C que querem comprar. Elas já têm acesso à internet e ao cartão de crédito. Já que estamos em uma era de globalização, de acessar a internet e se relacionar por ela, então por que não comprar? Por que ficar restrito só a um público A ou B?;, avalia. Com o mesmo pensamento de focar no comércio popular, a loja PortCasa Online, que vende na web itens de cama, mesa e banho, tem a classe C como 65% de todo o público do site. O tíquete médio é de R$ 150, e 70% das compras gerais são feitas em parcelas. Conrado Adolpho aponta que as lojas virtuais têm capacidade para arrecadar um maior faturamento às empresas do que as físicas. ;Uma empresa investe muito em estrutura física na loja para atingir uma determinada região, e na internet não há esse custo. Isso já torna a empresa mais lucrativa, além de conseguir vender para todo o Brasil, independentemente de onde esteja;, conclui.

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