Tecnologia

O futuro da leitura já está entre nós

Igor Silveira
postado em 11/01/2010 08:31
A notícia recém-saída do forno de que o Kindle DX, novo modelo do leitor digital mais popular do planeta, será comercializado pela Amazon a partir deste ano em mais de 100 países, incluindo o Brasil, reflete o bom momento do mercado editorial eletrônico. A popularização dos e-books ganhou força em 2009 com a aposta dos fabricantes em plataformas modernas e confortáveis para os usuários. As editoras pegaram carona na oportunidade de ampliar a margem de lucros e passaram a propor aos escritores contratos com cláusulas que permitem a publicação das obras na rede mundial de computadores. Revistas e jornais também aderiram à ideia e fornecem edições no formato apropriado para o aparelho de leitura eletrônica. Todos os indícios apontam para a mesma direção: a leitura digital é uma tendência sólida e irreversível. [SAIBAMAIS]Os entusiastas destacam a mobilidade como um dos principais trunfos dos leitores digitais. De fato, os arquivos de texto têm inúmeros formatos que ocupam pouca memória nos aparelhos. Assim, em uma viagem, por exemplo, o usuário pode transportar milhares de livros em um espaço onde caberia apenas uma fina pasta. A possibilidade de comprar um título em uma página eletrônica de outro país e recebê-lo quase que instantaneamente é outro aspecto positivo. Mesmo o desconforto causado ao ler textos nesses computadores não é mais problema. Os fabricantes criaram uma tela que reflete a luz da mesma maneira que uma folha de papel, sem iluminação no fundo. Apesar dos preços ainda altos dos leitores digitais - com os impostos de importação, muitos deles ultrapassam R$ 1 mil -,o valor dos títulos para esse formato é bem mais barato que o dos impressos. Crepúsculo, primeiro volume da saga sobre vampiros que virou febre mundial, é vendido a R$ 13 na versão digital. A impressa sai por R$ 40. A economia, portanto, é grande. Com o lançamento de novos aparelhos, é provável que esses valores caiam ainda mais nos próximos meses. O sucesso dos livros eletrônicos é tamanho que a Amazon revelou uma informação surpreendente no fim de 2009: os e-books foram mais vendidos que os livros de papel na véspera de Natal. Especialistas da área de tecnologia garantem que os leitores digitais irão causar o mesmo impacto no mercado editorial que o iPod teve no segmento fonográfico. Por falar em Apple, um dos lançamentos mais aguardados do ano, programado para o próximo dia 27, é justamente o computador portátil da marca, que, entre outras funções, servirá como plataforma para a leitura de publicações eletrônicas. Com isso, a disputa entre os leitores digitais deve ficar polarizada entre Amazon e Apple, ainda que fabricantes como Samsung e Sony também tenham modelos próprios no mercado. Na semana passada, o CEO da Microsoft, Steve Balmer, apresentou um tablet desenvolvido em parceria com Hewlett-Packard, ainda sem nome, que deve chegar ao mercado até o fim do ano. O escritor gaúcho Daniel Galera é considerado por críticos especializados um dos autores mais importantes da nova safra brasileira. Para ele, o livro em formato digital é uma solução positiva na atualidade. Galera confessa que não consegue ler textos muito longos na tela de um computador convencional, mas teve a oportunidade de manusear um leitor digital e considerou o aparelho extremamente estimulante. A primeira obra do escritor, esgotada nas livrarias, foi disponibilizada na rede mundial de computadores, e o contrato com a editora de Galera na Itália prevê a digitalização de outros títulos. Pirataria O avanço da tecnologia, no entanto, não trouxe apenas benefícios para o mercado editorial. Com a facilidade dos textos digitalizados, a pirataria na internet se alastrou também para os livros. Um caso mostrado pela rede norte-americana CNN recentemente é emblemático. O novo livro de Dan Brown, O símbolo perdido, começou a ser vendido na Amazon em setembro, nas versões impressa e digital. A segunda vendeu mais. O problema é que, em menos de 24 horas, alguém que havia comprado o título em formato digital disponibilizou, ilegalmente, uma cópia em um site de compartilhamento de arquivos. Resultado: poucos dias depois, mais de 100 mil downloads do livro haviam sido feitos. "Essa é uma discussão muito profunda porque é ingenuidade achar que não vai haver a troca de arquivos. É evidente que, cada vez que uma cópia ilegal é adquirida, editora e autor perdem dinheiro, mas tenho minhas dúvidas se não há um lado positivo nessa questão: isso não pode estimular a venda de outros títulos do mesmo escritor?", questiona Daniel Galera. "Levando isso para o lado da música, todos sabemos de inúmeros exemplos de bandas que nunca ficariam conhecidas se não fosse a internet e o compartilhamento de músicas. Então, não consigo definir se é bom ou ruim porque, na minha opinião, a preocupação é como vamos nos adaptar a essa nova alternativa", diz. Em 2009, a Associação Brasileira dos Direitos Reprográficos (ABDR) publicou um documento com um balanço sobre a pirataria online. Em dois meses de varredura na internet, o órgão localizou mais de 5 mil páginas eletrônicas que reproduziam ou disponibilizavam livros ilegalmente. A ABDR conseguiu, com muito esforço, retirar 92,7% das obras do ar, mas a certeza de que muitas outras vão aparecer é motivo de análises constantes. A Academia Brasileira de Letras (ABL) também participa dos debates e criou a Comissão do Livro Digital, que vai discutir direitos autorais em tempos de internet. "Mais uma vez, a tecnologia se apresenta como uma mão de duas vias: ajuda a divulgar a obra, mas dificulta a fiscalização da pirataria. Na internet, é tudo muito difícil, porque cada vez que um site ilegal é desativado, outros 10 aparecem na rede. Os internautas, no entanto, precisam estar cientes de que qualquer violação da Lei de Direitos Autorais pode resultar em uma pena que varia de três meses a um ano, e pode ser agravada se houver lucro direto ou indireto com a pirataria", destaca Rafael Bellini, secretário-executivo do Fórum Nacional contra a Pirataria e a Ilegalidade. Os mais pirateados 1. Kamasutra 2. Adobe Photoshop secrets 3. The complete idiot%u2019s guide to amazing sex 4. The lost notebooks of Leonardo da Vinci 5. Solar house - a guide for the solar designer 6. Before pornography - erotic writing in early modern England 7. Twilight - complete series 8. How to get anyone to say YES - the science of influence 9. Nude photography - the art and the craft 10. Fix it - how to do all those little repair jobs around the home

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