Tecnologia

Pouco tempo, muitas mudanças

Com uma década e meia completada ontem, a web comercial no Brasil já viu momentos de evolução e transformação até chegar aos 2 milhões de domínios registrados. Para os próximos anos, mais desafios

postado em 01/06/2010 07:00
Nem parece que a internet comercial só está presente no Brasil há 15 anos, idade atingida oficialmente ontem. Afinal, já é tão comum utilizá-la para os mais diversos fins e nos mais variados sites que a impressão é de que esse tempo é maior. Um dos fatores para essa falsa visão pode ser justamente a velocidade com que a rede, criada nos Estados Unidos na década de 60, ganhou importância por aqui. Hoje, são 47 milhões de pessoas com acesso em casa ou no trabalho, de acordo com o Ibope Nielsen Online, e o país é responsável por recordes significativos, como em tempo de navegação e presença em redes sociais. A debutante, porém, na prática, tem um tempo maior de vida, se a considerarmos em sua totalidade, e não apenas no âmbito comercial. Isso porque os 15 anos dizem respeito à data em que o uso da internet foi liberado para as empresas, em 1995. Antes disso, já havia alguns sites, como governamentais e de entidades educacionais ; a Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, como informa o diretor da Enken Comunicação Digital, David Reck. O registro dos domínios ;.br; começou em 1989 (veja a linha do tempo), mas seis anos depois seu caráter mudou bastante. ;Começou uma corrida comercial com a entrada de sites de empresas privadas, iniciou-se já a intenção de negócios publicitários na internet, o registro de domínios, aí sim inicia essa contagem;, explica Reck. De acordo com o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), não é possível saber, ao certo, qual foi o primeiro domínio ;.br; registrado, já que os primeiros (até 1996) eram feitos manualmente. O fato é que neste ano o número chegou à marca de dois milhões. Ao longo desse período de existência, não só as tecnologias sofreram alterações. Ao lado das evoluções técnicas ; que permitiram a instantaneidade de hoje e a integração entre mídias ; está a mudança no comportamento do próprio usuário em seu dia-a-dia. ;A internet acabou afetando a forma de as pessoas aprenderem, fazerem compras, buscarem informação, interagirem com o veículo, se envolverem com notícias. Nessa parte, com certeza houve uma transformação muito grande, o que foi repercutindo dentro da internet também com novas evoluções e novas soluções;, expõe o diretor da Enken. No Brasil, a chamada ;grande invenção do século; encontrou solo fértil ao seu desenvolvimento, e isso a despeito das conhecidas dificuldades financeiras enfrentadas pelo país. Tal conquista impressiona até mesmo os olhares internacionais. ;A força da presença do internauta brasileiro é muito boa. Considerando o nível tecnológico do desenvolvimento brasileiro e os aspectos financeiros da sociedade, são números impressionantes, que chamam a atenção de todos os profissionais do mundo;, afirma Enken. De fato, por aqui já foram registrados diversos recordes. O último levantamento da Symantec apontou que os adultos brasileiros encabeçam o ranking de número de amigos online (média de 66,4 por pessoa), e o uso do meio para ;flertar;, e até se apaixonar, também é mais comum por aqui do que no restante do mundo. Além disso, no compartilhamento de fotos na internet, a maior marca também é nossa: são, em média, quatro horas por semana. Isso sem falar no tempo de navegação das crianças brasileiras (aproximadamente 70 horas por mês), sobretudo em sites de relacionamento (13 horas por semana). Como consequência, o Brasil é o país que mais predomina, por exemplo, no Orkut: 50,6% do total de usuários são tupiniquins. Apesar do importante papel exercido pelas redes sociais para o aumento desses números, Reck não as considera um fator determinante para o desempenho do país. ;Com certeza, elas ajudaram muito nos últimos anos a aumentar a grandiosidade desse número, mas os números brasileiros são muito bons já há vários anos. Então, é uma consequência de vários fatores, mas sem dúvida elas alavancaram;. Entre os contribuintes para o crescimento do uso nacional, o diretor destaca o barateamento do custo do computador residencial e a chegada da banda larga para as grandes cidades do país. Futuro próximo Em relação às perspectivas para os próximos passos da internet no país, nem é preciso jogar os olhos para outros 15 anos. Mudanças de grande destaque são esperadas em um tempo bem mais curto. E preocupações também. De acordo com David Reck, já estão se esgotando o número de IPs disponíveis no mundo, que são resultado de combinações matemáticas que permitiram, na versão 4 ; a utilizada hoje para os endereços eletrônicos ; a criação de bilhões de IPs para o acesso à internet por um dispositivo, como computadores e celulares. ;Já sabíamos há praticamente dez anos que uma hora ele iria acabar. Com a entrada de muitos computadores com internet no Brasil e no mundo, chegaria-se ao fim do endereço máximo de IPs conhecidos. Isso traz uma série de problemas, porque a gente não consegue entrar com novos computadores, novos dispositivos na internet, e isso já vem sendo alertado há muitos anos;, conta. Segundo ele, vem sendo introduzida uma nova versão, a IPv6, que permite a criação de trilhões de endereços desse tipo, mas a migração para ela por parte das empresas ainda não vem sendo realizada. ;As previsões são que, em curto espaço de tempo, dois ou três anos, exista um número absurdo de dispositivos entrando na internet, porque hoje já são lançadas televisões que se conectam, celulares, diversos eletroeletrônicos. Então, isso tende a ser um problema. A internet cresceu tanto que até as combinações matemáticas, as tecnologias que foram criadas, hoje não estão dando conta;, alerta. CURIOSIDADE Segundo David Reck, nos dez primeiros anos da internet no Brasil, era preciso aguardar entre três e cinco minutos para carregar a home de um site, por meio da conexão discada. Hoje, uma página é aberta em segundos, mesmo as mais elaboradas e pesadas, graças aos avanços da tecnologia para a conexão. Entrevista com o diretor da Enken Comunicação Digital, David Reck

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