Tecnologia

Sistema desenvolvido pela Unicamp interpreta sinais elétricos do cérebro

postado em 31/12/2010 09:46

Imagine comandar um computador apenas com a força do pensamento. Parece história de ficção científica, mas já é pura realidade e pode representar o maior avanço tecnológico dos últimos tempos. Desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o sistema, chamado de Ecolig, interpreta os sinais elétricos emitidos pelo cérebro e os transforma em comandos, por meio de uma interface sem fio, indolor e não invasiva ; um capacete com eletrodos.

O que torna possível esse sistema é a forma como funciona o cérebro humano. Ele tem células nervosas, chamadas neurônios, que são interligadas. Os neurônios trabalham à base de pequenos sinais elétricos transmitidos entre eles. Ou seja, o pensamento nada mais é do que um sinal elétrico. Os eletrodos podem ler os sinais elétricos do cérebro. Eles medem a cada minuto as diferenças de voltagem entre os neurônios e o sinal é ampliado e filtrado. ;O Ecolig capta esses sinais, manda para um receptor que os codifica e esse código é interpretado por um programa específico;, explica o autor do sistema, Paulo Victor de Oliveira Miguel.

Esse é o mesmo princípio do eletroencefalograma. A novidade está na criação do decodificador desses sinais. ;Essa nova linguagem, associada a signos, pode ser utilizada para o desenvolvimento de soluções inovadoras em usabilidade e acessibilidade, apresentando-se como uma alternativa à linguagem textual, seja na utilização de letras (teclas) ou números (dígitos) para transferência de uma informação ou de um comando;, explica Gilmar Barreto, orientador de Paulo Victor.

Segundo os cientistas, o Ecolig pode oferecer mais uma alternativa de comunicação, dispensando a intermediação de artefatos mecânicos, biológicos ou artificiais. A nova modalidade pode incluir pessoas com deficiências físicas e ampliar a interação do homem com os ambientes por meio dos dispositivos eletroeletrônicos. ;Pessoas com paralisia ou deficiências poderão se comunicar melhor com o mundo e se tornar mais independentes;, afirma Miguel.

Segunda fase

O estudo, que começou há três anos, foi o tema principal de uma tese de doutorado de Paulo Victor, defendida na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec) da Unicamp. Ele é dividido em três fases. A primeira ; o desenvolvimento do hardware e do software e os testes funcionais ; já foi concluída. Agora, os pesquisadores entram na segunda fase e testam a aplicação do Ecolig em pessoas com doenças degenerativas e restrições de funções cerebrais, como um derrame.

Os primeiro testes foram com tetraplégicos ; indivíduos que mexem apenas a cabeça. Segundo Miguel, os voluntários conseguiram escrever em um teclado virtual, navegar na internet, utilizar o Google Maps e abrir programas de computador (como o Word). ;Todos aprovaram o sistema. Foi um sucesso;, comemora o engenheiro eletrônico.

Como nem tudo é tão simples quanto parece, as pessoas que utilizam o Ecolig precisam passar por um treinamento de 10 dias, para saber como funciona o sistema. ;Os voluntários precisam aprender a ;pensar; no comando que querem dar ao Ecolig e o sistema precisa aprender a interpretar aquele pensamento, para torná-lo um comando;, explica Miguel. ;É o ser humano ensinando à máquina e vice-versa. Uma espécie de troca de informações;, resume o orientador de Miguel.

Além do aspecto de inclusão, o sistema abre a possibilidade de se comunicar com elementos micro e manométricos, que podem incorporar interfaces capazes de receber e interpretar os comandos gerados via Ecolig. Será possível, então, usar a força da mente para fazer uma chamada no celular, por exemplo. ;Basta o desenvolvimento de tecnologia para receber o Ecolig nesses aparelhos;, disse Miguel.

Futuro
A novidade também permite fazer um exercício de futurologia. Segundo os pesquisadores, em alguns anos vai ser possível usar a força do pensamento para, por exemplo, fazer coisas tão prosaicas quanto acender as luzes de casa ou ligar a televisão sem o uso do controle remoto. Os possíveis usos da tecnologia serão quase ilimitados. Tudo vai ser controlado com o poder da mente.

Na medicina, por exemplo, em vez de uma mão mecânica, os usuários deficientes poderão ter braços mecânicos acoplados a seus próprios corpos, permitindo que eles mexam e interajam diretamente com o ambiente.

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