Tecnologia

Rede social Mynetgov chega com direito a constituição e a um comando geral

postado em 20/07/2011 08:51

No tempo da comunicação sem fronteiras, o poder não está nas armas, nas bombas ou em um exército bem preparado. Cada vez mais, dominar a informação virou quesito essencial para os que pretendem ganhar o comando. Como campo de batalha, estão as redes de computadores e, entre elas, a internet. Democrática de nascença, ela não tem ; pelo menos oficialmente ; um líder. Mas um site lançado na semana passada pretende eleger o governo da web, entre os cidadãos cadastrados em um banco de dados. O Mynetgov (http://www.mynetgov.com/) funciona mais ou menos como uma rede social e, apesar do objetivo ambicioso, promete servir apenas como instância para a discussão de temas de interesse global.

As boas intenções estão declaradas na Constituição do site, que garante, em seu primeiro artigo, o respeito à dignidade das pessoas, tal qual previsto pela Organização Nações Unidas, na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Qualquer internauta pode virar cidadão do Mynetgov, basta ter mais de 13 anos e fazer o cadastro. A rede social está em processo eleitoral para a escolha dos congressistas e membros do governo ; no período de 15 a 31 de dezembro ; que tomarão posse em 1; de janeiro. Serão eleitos 6 mil parlamentares e um presidente com seus ministros. Há três partidos concorrendo ao alto escalão, todos eles com representantes para as pastas de Internet, Paz, Educação, Ambiente, Cultura, Esporte, e Globalização, entre outras definidas pelas chapas.

O estudante Samir Buchara, 19 anos, é um dos candidatos ao Congresso do Mynetgov. Morador de Campo Grande (MS), o jovem acredita que o site será uma plataforma para a discussão de problemas mundiais. Embora não tenha nenhuma proposta concreta, Buchara afirma que vai defender a bandeira da educação. ;Não elaborei nada específico. Se ficasse concentrado nisso, acabaria tal qual os políticos aqui de fora, o que não é meu objetivo;, justifica. Militante na universidade onde estuda, o jovem espera contagiar colegas de curso com a nova ideia. ;Tudo que tem relação com redes sociais sempre é bom. Se for usado de forma correta, tem muito potencial para mudar a realidade;, opina.

Mesmo com a meta de se tornar uma liderança na web, o mynetgov.com foi construído com a colaboração de políticos profissionais. O deputado licenciado Walter Feldman (sem partido-SP) foi um dos responsáveis pela configuração da nova rede social. ;Foi como uma consultoria política voluntária, tendo em vista a experiência que tive na Câmara Municipal de São Paulo e a minha recente saída do PSDB. Eu sei como os partidos funcionam e tenho ideias para mudar a estrutura vigente;, conta Feldman, que deixou a legenda tucana em abril deste ano. O deputado é, atualmente, secretário especial de Organização de Eventos da capital paulista.

Feldman afirma ter atuado no conceito do Mynetgov de forma altruísta, embora ele próprio seja o candidato mais cotado a assumir uma vaga no congresso da rede social. O deputado diz ter lançado sua candidatura virtual apenas para dar início às eleições no site. ;Estou à disposição para retirá-la a qualquer momento;, garante. O mynetgov.com foi inaugurado com um ato simbólico em 11 de julho, em frente à sede da ONU, em Nova York.

Amarras
Os motivos nobres exaltados pelos participantes do projeto não eliminam o receio do professor Romero Tori, especialista em mídias interativas. ;Me surpreende falar em governo da internet, uma vez que isso vai contra os princípios de liberdade e descentralização inerentes à web;, afirma. O docente da Universidade de São Paulo (USP) ressalva, porém, que a iniciativa de unir países em torno de questões globais pode ser interessante. ;Uma rede social internacional seria importante, mas é preciso ter cautela para não haver interesses políticos envolvidos;, alerta.

O sociólogo Marcello Barra, pesquisador na Universidade de Brasília (UnB), acredita que o Mynetgov pode adotar duas posturas, ambas positivas. ;Ele pode se tornar um governo da internet ou na internet. No primeiro caso, tiraria o monopólio das decisões sobre a rede dos Estados Unidos. No segundo, seriam várias nações discutindo os problemas umas das outras, o que é positivo para a solução de problemas transnacionais.;

Tráfico de drogas, exploração sexual e manejo do meio ambiente poderiam ser tópicos discutidos pelos congressistas. Mesmo sem valor legal, as decisões poderiam ser consideradas pelos governos, sugere Barra. A iniciativa, contudo, está longe de ser a mais moderna no tema participação popular na intenet. ;Na Islândia, uma nova constituição está sendo elaborada com a colaboração dos internautas;, diz o sociólogo, especialista em mídias sociais. ;Há muitos anos há diversas tentativas de implementação de uma democracia direta. Esse site é mais um incremento e, claramente, um indício de que os governos tradicionais não estão conseguindo atender as demandas das pessoas;, opina.





Poder ianque
O domínio técnico da internet fica a cargo da Icann, entidade que organiza nomes, domínios e endereços IP na rede de computadores. A organização tem caráter mundial, mas é de responsabilidade do Departamento de Comércio dos Estados Unidos. O vínculo não agrada a hard users da web, uma vez que os norte-americanos teriam poder para paralisar operações.


Guerra cibernética
Em julho de 2010, especialistas em segurança identificaram um supervírus de computador. O Stuxnet, como foi batizado, contaminou sistemas que controlavam as centrífugas de uma usina nuclear iraniana. A praga, acredita-se, foi desenvolvida com o claro objetivo de desestabilizar o país e até hoje são encontradas variações do programa malicioso.

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