Turismo

As fantásticas fábricas de chocolate da terra de Jorge Amado

Grande produtor de cacau, o sul da Bahia cria roteiro gastronômico, uma opção turística para completar o dia de praia

Eduardo Tristão Girão
postado em 21/11/2015 09:00

Grande produtor de cacau, o sul da Bahia cria roteiro gastronômico, uma opção turística para completar o dia de praia

Com seu Centro Histórico um tanto descaracterizado e com poucas atrações, Ilhéus disputa visitantes do litoral sul da Bahia com pesos-pesados como Itacaré, Comandatuba e, indo um pouco mais longe, Porto Seguro, Arraial d;Ajuda, Trancoso e Caraíva. Entretanto, há ali algo que a "concorrência" não tem: cacau de alta qualidade capaz de formar malha de fazendas e fábricas interessantes o suficiente para atrair o turista que gosta de viajar para comer, conhecer história e cultura pelo viés gastronômico. Nesse caso, o do chocolate. Fundada em 1534, Ilhéus tem sua história relacionada ao cacau desde o século 18, quando o cultivo foi iniciado a partir de sementes da variedade forasteiro, trazidas do Pará (essa espécie é nativa da Amazônia). Graças aos fazendeiros da região, o Brasil tornou-se importante exportador de amêndoas de cacau beneficiadas para a produção de chocolate, atividade que serviu, inclusive, de pano de fundo para as obras do escritor Jorge Amado, que viveu em Ilhéus e nasceu na vizinha Itabuna.

[SAIBAMAIS]Marco Lessa é um dos nomes ligados à Estrada do Chocolate, projeto criado em 2013. A ideia é reunir fazendas cacaueiras, fábricas de chocolate e atrativos naturais (além das praias, há a mata atlântica) num roteiro de turismo rural ao longo de quase 40 quilômetros, entre Ilhéus e Uruçuca, que termina na BR-101. Ainda não há sinalização específica dessa rota na região, mas algumas fábricas e fazendas já recebem visitantes. Basta ligar e agendar.

Os pés de cacau ficam próximos à fábrica e podem ser visitados

Entre os pontos de interesse está a Fazenda Provisão, fundada há quase dois séculos e com 175 hectares de cacaueiros, a 25 quilômetros de Ilhéus. É possível hospedar-se num dos sete quartos do belo casarão, que têm móveis antigos e ficam cercados por muito verde e sossego. É divertido fazer trilhas, rafting, avistar animais (como pássaros e mico-leão-dourado) ou apenas marcar um almoço (da cozinha saem pratos típicos baianos e com ingredientes regionais), sendo ou não hóspede.Uma das fábricas que recebem visitantes é a Mendoá, a 20 quilômetros de Ilhéus, uma das poucas onde todas as etapas da produção do chocolate são realizadas no mesmo local. Os pés de cacau estão, de fato, a alguns metros da fábrica, permitindo que se vejam os frutos sendo abertos e as amêndoas em processo de fermentação e, depois, secagem. As demais etapas do processamento (torra, moagem, refino e temperagem, esta última dá brilho e textura firme) são acompanhadas de corredores envidraçados.

"Quando começamos o festival, só existia por aqui uma marca de chocolate, que era caseiro e naquele molde suíço, de Gramado. Buscamos as melhores referências pelo mundo, trazendo para cá quem faz parte desse movimento pela qualidade, chamado de bean-to-bar", lembra o organizador do festival, Marco Lessa. A expressão em inglês é usada para as marcas que controlam todos os processos de produção do chocolate, ou seja, da seleção e da colheita do cacau (que guarda a amêndoa, bean) ao produto final, a barra de chocolate (bar).

Amado e lembrado

O escritor baiano Jorge Amado é homenageado

Em Ilhéus, o Centro tem construções centenárias lindas, embora muitas delas estejam em estado de conservação precário ou parcialmente descaracterizadas (toldos, vidros escuros, placas etc.). As mais visitadas são o Bataclan (antigo cabaré frequentado pelos coronéis do cacau; hoje é um restaurante), a casa de Jorge Amado (que funciona como centro de memória do escritor) e o Vesúvio, bar citado no seu livro mais conhecido, Gabriela, cravo e canela. Não espere encontrar com facilidade as marcas locais de chocolate no comércio da cidade ; a Chor é das poucas com loja própria; as demais são vendidas em empórios e restaurantes. Um dos melhores lugares para comer é a Cabana da Empada, na estrada que liga Ilhéus a Itacaré: ambiente rústico e agradável, com boa comida e preços razoáveis. Saborosa, a moqueca de frutos do mar da casa custa R$ 75 e serve duas a três pessoas.

Bataclan, antigo e famoso cabaré no Centro Histórico de Ilhéus, funciona hoje como restaurante

Programe-se

Fazenda Provisão

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A visita com almoço custa R$ 50 (por pessoa; crianças até 7 anos não pagam) e a diária com pensão completa custa R$ 140 (por pessoa). Informações: fazendaprovisao e (73) 9906-9903.

Mendoá Chocolates

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Fica na Fazenda Riachuelo, a 20 quilômetros de Ilhéus, e recebe grupos de até oito pessoas para conhecer todo o processo de produção do chocolate. A visita não é cobrada, mas precisa ser agendada previamente. No local, também é possível comprar os chocolates da marca. Informações: mendoachocolates.

Para saber mais

Origem da terra
Em 1989, a praga vassoura-de-bruxa arrasou os cacaueiros da região, gerou crise econômica e tirou muitos produtores de cena. Só nos últimos anos, o quadro começou a ser revertido, com a recuperação das plantações, melhor controle das doenças que afetam a lavoura e ; o mais importante ; a aposta no chocolate de origem, ou seja, feito exclusivamente com amêndoas de cacau do Sul da Bahia, o que inclui controle do plantio à venda para o consumidor final.

Sabor premiado
Nas últimas edições do Salão do Chocolate, na França, a matéria-prima baiana recebeu prêmios e reconhecimento neste que é um dos eventos mais importantes do setor no mundo. Isso tem gerado reflexos na região, como ficou claro durante o 7; Festival Internacional do Chocolate e do Cacau, que reuniu em Ilhéus, neste ano, produtores nacionais, chocolateiros, especialistas e público. Cerca de 20 marcas locais estiveram presentes, entre elas Amma (a pioneira, de 2007), Sagarana, Mendoá, Maltez, Chor e Modaka.

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