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Artigo: Para você que nos detesta

Escolha seu lugar favorito na cidade, faça uma lista do que ainda não viveu por aqui, tire a roupa de festa para caminhar por suas quadras, envolva-se em um dos tantos projetos sociais maravilhosos

Pessoas jogam bola ao pôr do sol na Ermida Dom Bosco. -  (crédito: @anninha_brancio/instagram)
Pessoas jogam bola ao pôr do sol na Ermida Dom Bosco. - (crédito: @anninha_brancio/instagram)
postado em 14/04/2024 06:00 / atualizado em 15/04/2024 09:42

Eu poderia me chamar Brasília, aquela que você detesta sem nem conhecer. Habito Brasília e, insisto em dizer, Brasília me habita. Somos, os seres humanos, também um lugar. De afetos, histórias, memórias, contradições. Guardamos e sentimos coisas e pessoas. E, sendo eu também Brasília, hoje vou dizer àqueles que a detestam:

Importem-se mais em conhecer do que julgar, em varrer cada canto com olhos de ver. Sentir o calor inclemente e as chuvas restauradoras. Provar sabores tão diversos de um Brasil ímpar. Ouvir sons tão característicos, como os das cigarras. Vislumbrar um céu tão espetacular que invade nosso entorno inteirinho, abraça como um velho conhecido. Conviver com as gerações de brasilienses que a tomaram quase completamente. Os filhos do quadradinho, como os meus, têm muito a nos ensinar.

Brasília é muita beleza, com toda a sua aridez e inquilinos temporários que a enxergam pelas janelas blindadas dos carros, restaurantes caros, hotéis luxuosos e gabinetes. Alguns a classificam preconceituosamente de ilha da fantasia e, até hoje, agora não mais publicamente, dizem que foi um erro tê-la escolhido como capital do país.

Às vésperas dos 64 anos, a capital já não é um projeto, mas segue sendo um rascunho para quem não a enxerga como real. E real, meus amigos, está longe de ser ideal. Quem a destrata revela desconhecimento. Nunca andou por aí a esmo, nunca navegou no lago, nem perambulou pelas suas cidades, cheias de personalidade, arte, memória e prazeres, pessoas incríveis.

Brasília é um suco de diversidade. Serve aos mais calorosos brindes, seja embaixo do bloco, seja pelas maravilhosas quebradas da Ceilândia, seja pertinho dos monumentos. Descobrimos Brasília há muito pouco tempo, na verdade. E, povoando a cidade inventada com nossos sonhos, aspirações e muito trabalho, a transformamos em uma potência que exporta talentos, desafia a mesmice e abraça o diferente.

Como reflexo de um Brasil racista, preconceituoso, misógino e tão desigual, nossa cidade é também tudo isso e, talvez, até um pouco mais. Mas o amor é capaz de aceitar erros e tentar transformá-los em evolução. Para quem a detesta, Brasília e eu convidamos a um tour animado de boas intenções.

Escolha seu lugar favorito na cidade, faça uma lista do que ainda não viveu por aqui, tire a roupa de festa para caminhar por suas quadras, envolva-se em um dos tantos projetos sociais maravilhosos. Depois, me diga se essa cidade não tem um encanto que nos faz querer ficar. Fique íntimo do seu lugar e, então, festeje Brasília. Feliz aniversário, companheira!

 

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