Brasil

'Esconderijos' da internet desafiam investigação sobre crimes de ódio

A deep (funda) web, assim como a dark (obscura) web, são os outros lados da internet não acessíveis para todos os usuários

Marília Sena*
postado em 16/03/2019 07:00
Páginas na web, não acessíveis a todos os usuários, são usadas para ações ilegais

A internet está na mira das investigações do Ministério Público de São Paulo e da Polícia Civil após o massacre em Suzano (SP). Especialistas realizam perícias nos equipamentos apreendidos dos dois atiradores, Guilherme Taucci Monteiro e Luiz Henrique de Castro, e vasculham a rede mundial de computadores para saber se fóruns na deep web incitaram a barbárie.

A deep (profunda) web, assim como a dark (obscura) web, são os outros lados da internet não acessíveis para todos os usuários. A deep é a que armazena dados restritos, como exames e dados bancários, por exemplo. Já a dark é usada para ações ilegais, como a compra de drogas ilícitas e de armamentos.

De acordo com Rafael Sousa, professor de engenharia de redes de comunicação da Universidade de Brasília (UnB), os acessos à deep web respondem por 92% de todo o universo virtual. Para ele, não se pode criminalizar totalmente a ferramenta, pois é apenas uma parte dela que caracteriza a dark web. Segundo explicou, o acesso ao lado sombrio é por meio do software Tor browser, um sistema instalado nos computadores.

O uso do Tor permite o acesso a sites diferentes daqueles que a maioria dos usuários está acostumada a conectar nos computadores domésticos. São páginas de grupos criminosos, conteúdos ilícitos e ofertas de produtos ilegais. De acordo com Sousa, a comunidade de segurança da informação, um setor policial que monitora as redes, pode detectar os crimes, mas, para isso, é preciso muita apuração e cuidado nas investigações. ;Para averiguar, é necessário estar dentro do sistema e jogar o jogo;, disse.

O professor de ciências da computação Alex Avellar, do Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam-RJ), alertou que alguns dos perigos no uso da deep web são baixar arquivo que tenha algum tipo de vírus muito danoso ou ser vítima de um crime que a polícia não pode investigar, pois o rastreamento no servidor da deep web é mais difícil que no browser, usado pelo usuário comum.


Prevenção


O cofundador da empresa Semantix, Leonardo Dias, afirma que os departamentos policiais precisam se aprimorar nas investigações dos fóruns de infratores na internet obscura. ;Os criminosos estão tomando conta. Já foi preso um líder dessas comunidades, mas outro ficou responsável, ou seja, é necessário que tenhamos uma abordagem preventiva;, frisou.

Frederico Meinberg, promotor da Unidade Especial de Proteção de Dados e Inteligência Artificial do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, disse que a quantidade de crimes cometidos na deep web são 10 vezes maiores do que nos navegadores tradicionais.

De acordo com ele, um dos principais riscos é se deparar com conteúdos ilegais, como os de pedofilia. A Justiça brasileira, disse, trabalha na investigação desses fóruns, mas as ações são sigilosas. Porém, os usuários das páginas criminosas não devem ficar sossegados, pois há agentes nos fóruns ilegais. ;Não ache que estará na deep web e não será punido. Uma pessoa pode estar planejando algo com um agente que investiga o crime.;

"Não ache que estará na deep web e não será punido. Uma pessoa pode estar planejando algo com um agente que investiga o crime;
Frederico Meinberg, promotor do MPDFT
* Estagiária sob a supervisão de Cida Barbosa

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