Jornal Correio Braziliense

Cidades

Intolerância faz crescer temor em centros religiosos de matrizes africanas

Na madrugada desta sexta, participante de um centro de umbanda deu queixa contra a atitude preconceituosa de policial

[SAIBAMAIS]Depois de pedir para os companheiros diminuírem o barulho dos atabaques, Wesley Moreira Fonseca saiu à porta da casa onde ele e outros 15 praticantes da umbanda jurema se reúnem três vezes por semana, no Vale do Amanhecer, em Planaltina. Passava de 1h desta sexta-feira (27/11) quando diz ter ouvido a conversa de três policiais no posto comunitário de segurança próximo ao local. ;Essa macumba de novo? Tem que meter bala para acabar;, anunciou um dos homens.


Wesley registrou boletim de ocorrência contra o policial por intolerância religiosa na 16; Delegacia de Polícia (Planaltina), nesta tarde, e quer que o caso não passe sem punição. ;A gente vai apurar isso daí. Foi muito constrangedor, chega a ser inescrupuloso. Nós somos pessoas de bem e nos trataram como se a gente fosse bandido.; Ele conta que os cultos no local ocorrem há mais de dois anos e que nunca houve reclamação dos vizinhos por barulho ou outros problemas: ;Se ele [o policial] tivesse falado de alguma denúncia para diminuirmos o barulho, tudo bem. Lá é um quartinho, um lugar pequeno onde a gente vai pra exercer nossa religiosidade;.

Ele destaca que a apreensão por ataques à casa é constante: ;A gente se preocupa o tempo todo. Só esse ano, 10 casas foram atacadas e, infelizmente, as autoridades não fazem nada. Algumas pessoas nos tratam como se fôssemos demônios, de outro mundo. Está na hora de o povo acordar. Quando acontece alguma coisa com a igreja, caem matando;.

A denúncia de Wesley encontra coro entre outros praticantes de religiões de matrizes africanas. Edson Muniz, um dos ogã do Centro Espírita Assistencial Nossa Senhora da Glória, na Asa Norte, vê com tristeza a violência aos centros espíritas (de candomblé, umbanda ou Allan Kardec). ;Há o recrudescimento dos ataques por conta de uma minoria, que está se fazendo presente cada vez mais, e que faz no seu proselitismo religioso a justificativa para a intolerância. Claro que vão atacar alguns pequenos terreiros de candomblé e de umbanda e não igrejas católicas;, considera.

De acordo com o presidente da Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno, Rafael Moreira, cinco terreiros foram atacados somente este ano e, os registros recorrentes de casos de intolerância religiosa o levam a crer que o incêndio no barracão da Casa da Mãe Baiana, na região do Lago Norte, também na madrugada desta sexta-feira, foi criminoso. "Pelo que a gente analisou do que sobrou, o fogo foi provocado de fora para dentro. A Mãe Baiana não tem inimigos, não conseguimos pensar em alguém que poderia ter feito isso contra ela. E também o fogo foi somente no barracão, na parte que condiz com a questão religiosa. A gente não tem outro pensamento a não ser intolerância.;