postado em 26/09/2017 15:19
Oito das 10 pessoas presas por exploração sexual e tráfico de pessoas no início da manhã desta terça-feira (26/9) devem responder por organização criminosa, crime previsto pela Lei 13.260/2016. Cada integrante do grupo desmantentelado pela Operação Império seguia uma rígida hierarquia, que contava até mesmo com travestis armados responsáveis por ameaçar e extorquir as vítimas do aliciamento.
[SAIBAMAIS]Segundo a delegada Elisabete Maria de Novais, da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação (Decrin), seis travestis lideravam o grupo ; uma delas morreu em 8 de setembro, vítima de assassinato. Cada uma era responsável por manter uma ;casa;, como chamavam as pensões onde vivam as prostitutas aliciadas.
Nesses apartamentos, três deles em Taguatinga Sul e dois no Riacho Fundo, as travestis pagavam entre R$ 50 e R$ 70 de diária. O valor também era cobrado daquelas que atuavam nas ruas controladas pela organização criminosa, principalmente na frente da fábrica da Brasal Refrigerantes. Os valores dos programas variava entre R$ 80 e R$ 100, "a depender da classe social do cliente", segundo uma das travestis ouvidas pelo Correio.
As moradoras das pensões, de acordo com a delegada Elisabete, tinham direito a alimentação. ;Mas havia um limite de consumo. Havia uma quantidade determinada para cada travesti a cada dia;, detalha.
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Tráfico de pessoas
As cafetinas entravam em contato com as vítimas de exploração sexual por meio das redes sociais, principalmente Facebook. Segundo a Polícia Civil, as chefes faziam uma primeira abordagem pela internet e, também, por telefone. Com o ;acordo; feito, a organização pagava as passagens aéreas das travestis aliciadas, geralmente de baixa renda. ;Não era difícil convencê-las. Em Brasília, elas ganhariam casa, alimentação, trabalho e apoio, coisas que elas não tinham em outras cidades", afirma a policial.
Até o momento, a Decrin não contabilizou de quantos estados vêm as mais de 50 travestis aliciadas. As transexuais com quem o Correio conversou disseram ter chegado de estados como Amazonas, Goiás e São Paulo. Uma das amazonenses contou que desembarcou em Brasília na segunda-feira (25/9).
As travestis mais novas chamavam as líderes de ;mãe;. Apesar do indício de relação maternal e de as vítimas de exploração defenderem as cafetinas, as chefes ameaçavam as prostitutas com facões, cassetetes e até mesmo armas de fgo, como as duas pistolas .38 apreendidas durante a operação. ;Nesses casos de exploração sexual, as travestis não reconhecem as cafetinas como algozes. As vítimas tinham uma relação de dependência com as chefes;, pontua Elisabete Novais.
Conflito
Além das líderes da organização e dos ;soldados; do grupo, a Operação Império deteve duas outras travestis de uma quadrilha rival. No entanto, a segunda equipe não tinha o mesmo nível de hierarquia e coerção das inimigas.
As investigações indicaram que uma das travestis aliciadas decidiu sair da organização e formar outro grupo. A Polícia Civil ainda apura casos de agressões e homicídios entre as duas facções rivais.
Para a delegada, o desmantelamento dos grupos que controlam a exploração sexual de travestis em Taguatinga não acabará com a prostituição na área. ;Nesse meio, novas lideranças sempre surgem quando outras caem;, finaliza.