Bruna Lima - Especial para o Correio, Isa Stacciarini
postado em 12/03/2018 06:41
O motor lançado para fora do veículo e os estilhaços espalhados pelo chão anunciavam a tragédia na BR-070, próximo a Cocalzinho de Goiás, município distante 110km de Brasília. Quase 24 horas após a batida frontal com uma Toyota Hilux, que deixou quatro mortos e dois feridos, os restos do Peugeot 208 com placa do Distrito Federal continuavam na estrada. Nele, seguiam o casal José Augusto de Moraes Preto, 26, e Fernanda Sena de Medeiros, 25, e a filha, Maria Julia Medeiros de Moraes, 4 ; os três morreram no acidente e foram enterrados ontem no cemitério de Taguatinga. Em Cocalzinho, o domingo também foi marcado por despedidas. Familiares e amigos deram o último adeus a Bruno Rodrigo Abreu de Morais, 24 anos, que estava na Hilux.
O acidente aconteceu por volta das 12h30 de sábado. Segundo a investigação, José Augusto, motorista do Peugeot, tentou uma ultrapassagem indevida em um trecho de faixa contínua. Ao perceber o carro na pista contrária, o condutor da caminhonete e vice-prefeito de Cocalzinho, Alair Rabelo, o Nenzão (PSD), jogou a direção para o acostamento. José Augusto, no entanto, fez o mesmo movimento. E os dois veículos colidiram de frente.
Com o impacto, o Peugeot ficou destruído. Dentro do veículo, ficaram roupas de bebê e um saco de salgadinho. A perícia acredita que Fernanda estava sentada no banco traseiro do veículo, ao lado da filha, acomodada na cadeirinha. O titular da delegacia de Cocalzinho, Adriano Pereira Melo, acredita que a mãe seguia sem cinto de segurança, pois ela foi lançada para fora do carro.
No banco traseiro da Hilux, estava o genro do vice-prefeito, Bruno Rodrigo. Ele usava o cinto de segurança, mas, segundo a família, quebrou o pescoço e não resistiu. Parentes reconheceram e liberaram os corpos das vítimas por volta da 1h30 de ontem no Instituto Médico Legal (IML) de Anápolis. O delegado Adriano vai instaurar inquérito hoje para investigar as causas do acidente. Ele revelou que, na hora da colisão, a pista estava seca e com boa visibilidade. ;Não existe nenhuma confirmação técnica, mas, pelas marcas de frenagem e pela trajetória do veículo, tudo indica que o motorista do Peugeot tentou uma ultrapassagem indevida e, nesse momento, houve a colisão frontal;, explicou.
[SAIBAMAIS]Quem passou pelo trecho da BR-070 onde houve a batida se assustou com o rastro de destruição. O estudante Leandro Costa, 21 anos, interrompeu a viagem para Girassol para se aproximar do local da tragédia. ;Eu conhecia o Bruno. Era uma pessoa muito gente boa. Ele era colado com o Yago (filho do vice-prefeito). Eu até achava que fossem irmãos. Muito triste o que aconteceu;, destacou.
O vice-prefeito Alair e o filho, Yago Azevedo, 25, foram socorridos ao hospital de urgência de Anápolis. Até o fechamento desta edição, continuavam internados. O prefeito de Cocalzinho, Alair Gonçalves Ribeiro, informou que o amigo teve uma fratura na mão e um corte profundo na outra. Também se queixava de dores abdominais. Yago quebrou um pé e aguardava para fazer cirurgia. ;Eles estão muito abatidos. É um momento muito difícil, porque o menino (Bruno) era de dentro da casa deles e tratado como filho. É uma fatalidade;, contou.
Luto em Cocalzinho
Como Cocalzinho tem cerca de 19 mil habitantes, o acidente entristeceu a cidade. O corpo de Bruno foi velado na Igreja Assembleia de Deus. O templo ficou lotado. A mãe dele, Nábia Fátima Alves de Abreu, 40, disse que o filho havia viajado para buscar mercadorias em Brasília. A comerciante afirmou que ele e a filha do vice-prefeito estavam brigados, mas o relacionamento tinha cinco anos. ;A dor dela é que, ontem (sábado), o meu filho almoçou na casa deles e os dois não se falaram. Bruno era muito alegre e extrovertido. É assim que vou me lembrar dele;, desabafou.
Nábia soube do acidente às 13h30, quando preparava um suco para levar à igreja. Quando chegou ao hospital de Cocalzinho de Goiás e não viu o filho, sentiu que algo mais sério havia acontecido. ;Ninguém me contou sobre a morte dele. Eu percebi. Mãe sente.; Bruno foi sepultado no cemitério da cidade. ;Entre mim e ele não tinha segredo. Era como se fossemos dois amigos de 20 anos. Fica muita saudade;, desabafou o avô do jovem, Onofre Alves de Abreu, 62.
Padrasto de Bruno, o empresário Tomaz Rodrigues da Cruz, 60, o criava desde criança. ;Ele está comigo desde os 8 anos. Ficam as lembranças boas que tivemos juntos. Ele era muito alegre e espontâneo;, reforçou. Amigo de infância, Danilo Silvério, 24, recordou-se de vários momentos com Bruno. ;Eu o vi na quinta-feira no bar que ele tinha. Ele estava sempre com um sorriso, divertindo as pessoas. É muito triste, porque ele só levava alegria. Estava sempre sorrindo, um brincalhão.; A namorada compareceu à cerimônia. Amparada por amigos, ela não se aproximou do sepultamento.