Cidades

Justiça aumenta tempo de prisão de sacerdotes, após MP apresentar denúncia

Apenas Guilherme Frederico Magalhães, secretário da Cúria da região, responderá em liberdade

Luiz Calcagno, Walder Galvão - Especial para o Correio
postado em 23/03/2018 12:18
Nesta quinta-feira (22/3), o bispo dom José Ronaldo Ribeiro prestou depoimento no Ministério Público de Formosa
A Justiça recebeu a denúncia contra os sacerdotes presos na Operação Caifás, deflagrada na segunda-feira (19/3) em Formosa. O bispo da cidade goiana, dom José Ronaldo; cinco padres e os dois empresários responderão por associação criminosa, falsidade ideológica, apropriação indébita e lavagem de dinheiro. Os suspeitos, se condenados, podem pegar de 10 a 27 anos de prisão, de acordo com a participação de cada um no esquema.
Além disso, a Justiça acatou o pedido do Ministério Público de Goiás (MPGO) de manter os envolvidos presos, convertendo o pedido de prisão temporária em preventiva. O argumento é que os suspeitos poderiam interferir nas investigações. Apenas o secretário da Cúria de Formosa, Guilherme Frederico Magalhães, um dos presos, responderá em liberdade.
Os acusados de envolvimento no esquema milionário de desvio de verbas das paróquias de Formosa poderiam ser liberados nesta sexta-feira (23/3) caso a prisão preventiva não fosse estabelecida. Eles estavam presos temporariamente, o que prevê apenas cinco dias de reclusão, prorrogáveis por mais cinco.


Poder de intimidação

Os promotores do MPGO entregaram a denúncia nesta sexta, um dia após encerrar os depoimentos dos suspeitos. Os promotores ainda não terminaram de avaliar toda a documentação encontrada durante a operação nem contabilizaram o valor total que os sacerdotes teriam desviado. A suspeita é que o bando tenha faturado mais de R$ 2 milhões às custas da Igreja. O arcebispo de Uberaba, dom Paulo Mendes Peixoto, disse que cogita fazer uma auditoria pública nas contas da Diocese de Formosa.

"Em análise dos documentos reunidos na investigação, bem como dos requisitos formais constantes na inicial acusatória, recebo a denúncia (...)", proferiu o juiz de direito do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) Fernando Oliveira Samuel a respeito das acusações.

Sobre o pedido de conversão da prisão temporária em provisória, o juiz levou em consideração o poder de intimidação que dom José Ronaldo e o juiz eclesiástico Thiago Wenceslau têm sobre os padres contrários ao esquema de desvio de verba para mantê-los presos, além das outras provas contidas nos autos entregues pelo MPGO.

"No caso dos autos, a partir das interceptações telefônicas (...), verificam-se vários diálogos travados entre os citados denunciados que indicam posturas voltadas a intimidar os padres não envolvidos nessas atividades ilícitas e assim pronunciaram publicamente ou como testemunhas nesses autos. Esse motivo, só por ele, é capaz de evidenciar o prejuízo para a instrução probatória em se permitindo a liberdade dos clérigos processados nesta ação penal", considera o magistrado em um trecho da decisão.

Em outro ponto, o juiz frisa que, "em relação aos clérigos, há indícios de que praticaram o delito de associação criminosa, como já constou na decisão que decretou a prisão temporária. (...) Ainda se constatam indícios de autoria referentes a José Ronaldo, Mário Vieira e Tiago Wenceslau de que teriam falsificado o conteúdo de documentos contábeis para dar respaldo a essas fraudes".

"(...) Considero absolutamente ilógico não reconhecer que os fatos sob apuração representem efetiva e veemente violação à ordem pública. A aparente audácia dos acusados em questão a respeito dos crimes investigados autoriza reconhecer, nessa análise preliminar, a falta de qualquer limite para a realização de crimes (e de maneira aparentemente sistemática), logo de quem se espera ; e se autoproclama ; seja um dos alicerces morais e religiosos da sociedade", escreveu o juiz.

Oitivas no Ministério Público

Os depoimentos começaram na terça-feira (20/3). Chegury ressalta que as conversas foram marcadas por "incoerências, contradições e inconsistências". Além disso, por orientação da defesa, os suspeitos não responderam todas as perguntas dos investigadores. "Quando eram questionados sobre algo que podia os prejudicar, eles diziam não lembrar do ocorrido", comenta o promotor.
Na quinta-feira (22/3), policiais civis conduziram o bispo dom José Ronaldo Ribeiro ao Ministério Público de Formosa. Ele é acusado de ser um dos chefes do esquema. Além dele, o vigário-geral monsenhor Epitácio Cardozo Pereira e o juiz eclesiástico padre Thiago Wenlescau foram ouvidos individualmente.
A suspeita é de que o esquema tenha faturado mais de R$ 2 milhões dos cofres da igreja

Furto milionário

O dinheiro dos padres era investido em propriedades, como uma fazenda e uma lotérica, além de joias, duas caminhonetes e dinheiro em espécie, nacional e estrangeiro. Os agentes encontraram os bens nas residências de alguns dos suspeitos. Eles devem responder por associação criminosa, adequação indébita, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. A pena varia de 10 a 27 anos, mas pode ser aumentada, de acordo com a participação de cada um.

Confira a lista de presos:

José Ronaldo Ribeiro, bispo de Formosa (GO)
Monsenhor Epitácio Cardozo Pereira, vigário-geral da Diocese de Formosa
Padre Moacyr Santana, pároco da Catedral Nossa Senhora Imaculada Conceição, Formosa
Padre Mário Vieira de Brito, pároco da Paróquia São José Operário, Formosa
Padre Thiago Wenlescau, juiz eclesiástico
Padre Waldson José de Melo, pároco da Paróquia Sagrada Família, Posse (GO)
Antônio Rubens Ferreira, empresário, acusado de ser laranja da quadrilha
Pedro Henrique Costa Augusto, empresário, acusado de ser laranja da quadrilha

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