Cidades

Caso L4 Sul: réu confirma que estava a 110km/h na hora do acidente

Ao ser questionado pela promotora do Juri Yara Veloso Teixeira, Eraldo José Cavalcante Pereira, 35 anos, confirmou o laudo que consta nos autos do processo. No documento, há indicação de que ele estava a 110 km/h na hora da batida. Noé também prestou depoimento em audiência de instrução

Isa Stacciarini
postado em 10/04/2018 20:23
Segundo laudo pericial, os réus disputavam um racha
Quase um ano após acidente na L4 Sul que terminou com a morte de mãe e filho, o sargento do Corpo de Bombeiros Noé Albuquerque Oliveira, 43 anos, e o advogado Eraldo José Cavalcante Pereira, 35, prestaram depoimento no Tribunal do Júri. Eles são réus no processo de homicídio qualificado e tentativa de homicídio provocados por racha ilegal na Avenida das Nações. Uma mulher também deu a versão dos fatos como uma das testemunhas que teria visto os motoristas conduzirem em alta velocidade.
O próximo passo, agora, é a audiência de pronúncia, momento em que o magistrado decide se o caso permanece no Tribunal do Júri ou se é redistribuído a outra vara. A audiência ocorreu na tarde desta terça-feira (10/4) e durou pouco mais de três horas, sob o comando do juiz Evandro Moreira da Silva. Questionado pela promotora do Juri Yara Veloso Teixeira, Eraldo confirmou a veracidade do laudo que consta nos autos do processo. No documento, há indicação que ele estava a 110km/h na hora da batida.
Ele conduzia um Jetta e bateu no carro onde estava Cleusa Maria Cayres, 69 anos, e, Ricardo Clemente Cayres, 46, além de outras duas pessoas: o marido de Cleusa e pai de Ricardo, Oswaldo Clemente Cayres e Helberton Silva Quintão. Mãe e filho morreram na hora. ;Eu estava em um carro que poderia chegar a 250km/h e estava a 75km/h, 80km/h. No momento em que fiz a ultrapassagem do veículo que estava a minha frente na faixa do meio, o automóvel empreendeu velocidade. Jamais disputaria um racha;, defendeu Eraldo.
O advogado contou que estava com a mulher em uma confraternização de família em uma lancha no Lago Paranoá. Depois que a festa acabou, por volta das 19h de 30 de abril de 2017, ele saiu no Jetta, Noé em uma Range Rover e a irmã de Noé em um Cruze prata. "No retorno para acessar a L4 Sul, o Cruze estava na minha frente. Esperei e, depois, segui. Atrás de mim estava o Noé. Ao ultrapassar o carro que estava na minha frente, fui para a esquerda e, nesse momento, o Ford Fiesta à frente freou por causa do radar que tinha no trecho", explicou.
Segundo consta nos autos do processo, o carro em que a família Cayres estava, o Fiesta, circulava a 60km/h. ;Com a batida, o capô do meu carro abriu, o airbag estourou e eu não consegui ver mais nada;, explicou Eraldo. Ele alegou que desceu do carro e, ao ouvir sirenes de ambulância e perceber que Noé tinha parado para ajudar no socorro, caminhou até um ponto de táxi da Asa Sul para pedir ajuda.
;Pedi que um dos taxistas passasse um rádio para outro motorista saber como estava a situação. Depois, liguei para minha irmã e fui para a casa de outro irmão na Vila Planalto;, explicou. Um dia depois, em 1; de maio, ele e Noé se apresentaram na 1; Delegacia de Polícia (Asa Norte), na companhia do advogado. ;Eu daria a minha vida por essas pessoas (vítimas);, alegou.

Trânsito intenso no domingo

Noé prestou depoimento fardado e relembrou o dia do acidente. Também contou que estava com a família em uma confraternização no Lago Paranoá. Segundo o militar, a festa terminou por volta das 19h e ele se despediu de Eraldo. No caminho de casa, ao seguir pela L4 Sul com a mulher e o filho de 16 anos no carro, percebeu uma nuvem preta de fumaça a 300 metros a frente. ;O trânsito estava intenso para um domingo;, explicou.

Ao se aproximar, viu o acidente. Percebeu que o veículo era o Jetta do cunhado Eraldo, mas não soube dizer se era ele quem conduzia o automóvel. ;Parei à margem da via para socorrer as vítimas. Pedi que minha mulher e meu filho saíssem do carro, me aproximei do Fiesta, fiz contato verbal com as vítimas que estavam no banco da frente e percebi que elas estavam conscientes. Depois, liguei para o 193 e chamei socorro;, alegou.

Após a chegada do socorro, Noé disse que continuou o caminho para casa. Ele levaria a mulher ao hospital, porque ela tinha se machucado durante a tarde. No fim do depoimento, o sargento chorou ao lembrar do caso. ;Eu estava em um carro que chega a 240km/h, mas dirigia a 80km/h. A minha única participação foi para prestar socorro, porque essa é uma doutrina dos bombeiros. Em nenhum momento recebi voz de prisão, tive meu veículo ou a chave do carro apreendida;, disse em referência ao depoimento de um agente do Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER-DF).

Família presente

O irmão de Ricardo e filha de Cleusa, Renato Clemente Cayres, 46 anos, acompanhou a audiência com o pé esquerdo enfaixado, mas, ao ouvir a declaração de Eraldo, deixou a sala onde aconteciam os depoimentos. Antes da sessão, ele ressaltou o desejo de Justiça da família. ;O grande desejo é que isso não fique em vão", destacou.

Renato contou que fez questão de estar presente para honrar a memória dos familiares. "Desde o dia do acidente ficou uma lacuna que não se fecha. Somos obrigados a conviver com isso. Tem dia que melhora, mas o sentimento sempre vem a tona, principalmente nesses momentos que ocasiona uma lembrança dolorosa", ressaltou.

Essa foi a terceira audiência de instrução a respeito do caso.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação