Cidades

Documentos comprovam que padres sabiam de deficit de R$ 900 mil em Formosa

Os relatórios contábeis estão assinados por alguns dos religiosos alvos da Operação Caifás, deflagrada em 19 de março, que investiga desvios de mais de R$ 2 milhões dos cofres da Igreja Católica

Walder Galvão - Especial para o Correio
postado em 30/04/2018 21:33
A Operação Caifás, deflagrada em 19 de março, investiga desvios de mais de R$ 2 milhões dos cofres da Igreja Católica
Promotores do Ministério Público de Goiás (MPGO) encontraram documentos que mostram o desfalque de mais de R$ 900 mil no caixa da Diocese de Formosa. Os relatórios contábeis estão assinados por alguns dos religiosos alvos da Operação Caifás, deflagrada em 19 de março, que investiga desvios de mais de R$ 2 milhões dos cofres da Igreja Católica. No total, nove pessoas foram presas, incluindo o bispo dom José Ronaldo Ribeiro.

O promotor à frente do caso, Douglas Chegury, explica que os religiosos registravam apenas a entrada de dinheiro no caixa da Cúria de Formosa, mas não davam baixa nos valores gastos. "Quando um contador foi fazer a análise financeira, constatou vários desfalques. Ele produziu um documento, especificando essas quebras, e pediu para os religiosos assinarem. Isso indica que eles sabiam da falta do dinheiro", afirma.

Um dos documentos está em nome do pároco da Catedral Nossa Senhora da Imaculada Conceição de Formosa, Moacyr Santana. O relatório, assinado em março de 2016, aponta que o religioso sabia que faltavam R$ 207.241,38 do caixa da Cúria. Ele responde por apropriação indébita qualificada, lavagem de dinheiro e associação criminosa. No início da investigação, o MPGO encontrou notas promissórias que ligam o sacerdote a uma casa lotérica em Posse (GO), avaliada em R$ 500 mil.

Em nome do vigário-geral Epitácio Cardozo Pereira, os investigadores encontraram dois relatórios contábeis. Um deles, de dezembro de 2015, mostra o desfalque de R$ 357 mil. O outro, de fevereiro do ano passado, mostra outra quebra de caixa, de mais de R$ 72 mil. Epitácio também responde por apropriação indébita qualificada e associação criminosa. Na casa dele, a Polícia Civil de Goiás apreendeu mais de R$ 70 mil em dinheiro, relógios de luxo e equipamentos eletrônicos em um fundo falso no guarda-roupas.

O último documento, assinado em março de 2016 pelo bispo dom José e pelo padre Waldson José de Melo, pároco da Paróquia Sagrada Família, em Posse, mostra que faltavam R$ 274 mil do total arrecado pela Cúria. O bispo é apontado pela investigação como o líder do esquema criminoso. Ele e Waldson respondem por apropriação indébita e associação criminosa. Dom José também é acusado de falsidade ideológica.

Chegury esclarece que esse dinheiro supostamente desviado vinha de dízimos, doações e eventos realizados pela igreja, como casamentos e batizados. "Os documentos foram encontrados na Cúria de Formosa e fazem parte da denúncia", diz.
O advogado de defesa dos padres Waldson, Moacyr e do vigário-geral Epitácio, Bruno Opa, afirma que essas acusações constam na denúncia e que irão prova que não há nada de irregular nos documentos assinados. O advogado do bispo, Lucas Rivas, disse que não irá comentar o caso.

Operação Caifás

Uma investigação do MPGO resultou na prisão de nove pessoas ligadas a Diocese de Formosa. Eles são acusados de desviar mais de R$ 2 milhões dos cofres da Igreja Católica. No total, 11 pessoas são investigadas e oito permaneceram presas de 19 de março até 17 de abril, quando o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) decidiu conceder o habeas corpus a sete dos réus. O juiz eclesiástico Tiago Wenseslau conseguiu a liberdade no dia seguinte.

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