O bispo Paulo Mendes Peixoto, interventor em Formosa (GO), pediu à Justiça a liberação da participação dele como testemunha do julgamento de Dom José Ronaldo e outros párocos acusados de desvio milionário do dízimo de fiéis da cidade. O julgamento está agendado para 9 de agosto.
O religioso alega sigilo de ofício para a dispensa em juízo. ;O conhecimento de qualquer situação que envolva qualquer dos réus se deu no âmbito do desempenho das funções canônicas a ele confiadas, sendo tais informações revestidas de sigilo de ofício;, diz o documento anexado ao processo pelo advogado Lucas Furtado, representante legal de Paulo Mendes. O bispo evoca um acordo internacional assinado entre o Brasil e a Santa Sé como justificativa da recusa.
Além disso, o documento informa que Dom Paulo Mendes não poderá comparecer à data indicada ;pois possui um compromisso inadiável em sua Arquidiocese de origem, Uberaba, que durará dos dias 1; a 15 de agosto do corrente ano;. O juiz ainda deve decidir se acata ou não o pedido da testemunha. Dom Paulo Mendes foi arrolado no rol de testemunhas por Dom José Ronaldo.
Dom Paulo Mendes Peixoto está responsável pela Arquidiocese de Formosa desde 21 de março, quando o responsável pela região, Dom José Ronaldo, foi preso na Operação Caifás, que investiga desvio de dízimo em Formosa (GO). Ele foi designado pelo papa Francisco para gerir a Diocese goiana durante o período em que Dom José Ronaldo estiver afastado. Antes de assumir a intervenção, Paulo Mendes era bispo visitador da diocese.
Quando assumiu, Paulo Mendes se mostrou preocupado com os desafios que enfrentaria, mas também se dizia otimista, com esperança e confiança. ;Nesse dia, 21 de março, o Papa Francisco, ele me nomeou administrador apostólico da Diocese de Formosa, no estado de Goiás. Fico feliz pela confiança, mas, ao mesmo tempo, preocupado com os desafios que, certamente, terei que enfrentar naquela diocese. Ainda não conheço nada daquela realidade, a não ser o que tem sido transmitido pelos meios de comunicação;, afirmou, à época.
Entenda o caso
O bispo dom José Ronaldo Ribeiro, quatro padres e o vigário-geral de Formosa deram um prejuízo superior a R$ 2 milhões aos cofres da Igreja Católica em Formosa (GO), segundo apontam as investigações do Ministério Público de Goiás (MPGO). O dinheiro desviado de dízimos, doações e de taxas de celebrações foi usado na compra de uma fazenda de gado e uma casa lotérica, entre outros bens, de acordo com as denúncias de fiéis e de padres que não faziam parte do esquema. Alguns bens estavam em nome de laranjas.
Policiais civis e militares prenderam o bispo, cinco padres, dois empresários e um funcionário da Cúria durante a Operação Caifás, deflagrada em março deste ano. Na casa do monsenhor, apreenderam dinheiro escondido no fundo falso do guarda-roupa, além de dezenas de relógios e aparelhos eletrônicos e importados.
As investigações começaram em 2015. No ano passado, fiéis denunciaram ao MPGO que as despesas da casa episcopal de Formosa, onde o bispo mora, passaram de R$ 5 mil para R$ 35 mil. Todos negam o envolvimento no esquema. Eles tiveram prisão preventiva decretada, ficaram presos por um período, mas conseguiram habeas corpus e aguardam o julgamento em liberdade.