Isa Stacciarini
postado em 29/05/2018 16:49
;O que fizeram com meu filho foi uma selvageria. Cometeram uma atrocidade por engano;, desabafou o pai do adolescente de 17 anos espancado até a morte em uma festa no Parque da Cidade. Depois de sepultar o filho, Victor Martins Melo, no cemitério da Cidade Ocidental, o comerciante Irís de Melo, 47, relembrou as últimas horas do jovem vivo.
Ele contou que o estudante pediu autorização da mãe para ir ao evento com os amigos. ;Naquele dia, ele encontrou os colegas do colégio na rodoviária e, por volta das 16h, ligou para a mãe pedindo para ir à festa. Disse que chegaria às 19h30, 20h. A mãe deixou, mas jamais pensava que poderia acontecer uma coisa dessas;, lamentou.
O crime aconteceu na noite de sábado, durante uma festa de música eletrônica no Estacionamento 11 do Parque da Cidade. Testemunhas contaram à polícia que Victor foi linchado por um grupo de 20 pessoas. Além de baterem no jovem com chutes e pontapés, os agressores o espancaram com garrafadas. A vítima ainda ficou ferida com marcas de facadas. A festa não tinha autorização para acontecer.
A polícia trabalha com duas linhas de investigação: a primeira é a possibilidade de Victor estar envolvido em um possível furto de celular. A segunda hipótese é ele ter sido confundido com outro suspeito. ;Uma das testemunhas é a jovem que teve o celular roubado. Ela contou que uma pessoa a abordou e tentou puxar o celular da mão dela. Como não conseguiu levar, um segundo suspeito teria tentado segurá-la por trás. Essa pessoa, segundo depoimento da adolescente, seria Victor;, explicou o delegado-adjunto da 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul), Ataliba Neto.
Mas o pai do menino refuta essa ideia. Irís contou que o jovem estudava e trabalhava com ele na loja da família. ;Ele ia de casa para o trabalho, do trabalho para a casa. Essa tinha sido a primeira festa que ele foi. O menino era obediente, não sabia responder as pessoas. Pode perguntar para os professores;, relatou.
Agora, o pai clama para que novas testemunhas procurem a polícia. Até agora, investigadores da 1; DP não conseguiram identificar ninguém. ;Hoje em dia, todo mundo filma com o celular. Qualquer coisa pode ajudar. Peço que procurem a polícia. Quem fez isso são animais. Não se dá nome para o que fizeram com meu filho. Não se faz isso com ninguém, que dirá com um ser humano;, desabafou.
Victor morava com a família e outros dois irmãos, um jovem mais velho, de 21 anos, e uma adolescente de 14. ;Ele não gostava de confusão, não era de brigar. Era um filho exemplar. Ouvia todo mundo e não mexia com coisa errada. Tudo isso que aconteceu foi uma covardia;, reforçou.
Investigação
Policiais da 1; DP já ouviram três testemunhas para tentar identificar os suspeitos do espancamento. Mas as versões dos depoimentos prestados por jovens são contraditórias, porque, segundo a Polícia Civil, eles estavam bêbados durante a festa.
Segundo o delegado, no local do crime não há câmeras de segurança que possam ter flagrado a ação. Agora, a polícia procura por pessoas que estavam com a vítima quando tudo aconteceu. ;As testemunhas que prestaram depoimento não têm nome de ninguém, nem apelido, nada. Elas não trouxeram nenhuma informação que pudesse identificar os agressores. Inclusive, estamos pedindo mais detalhes por meio de telefonemas anônimos para o 197;, explicou Ataliba.
Procuradas, a Secretaria de Esporte, Turismo e Lazer e a Administração de Brasília se limitaram a informar que o descumprimento das regras gera multa de R$ 5 mil a R$ 35 mil aos organizadores, além de sanções, como a proibição de concessão de novas licenças para a realização de eventos. A Secretaria alegou, ainda, que ;tem trabalhado para coibir festas clandestinas no Parque da Cidade;, mas não informou, por exemplo, quais ações são feitas e por que não interromperam a festa ilegal onde o crime aconteceu.