Cidades

A busca continua: DNA descarta parentesco de Rita e família Espírito Santo

O resultado do exame de DNA entristeceu a todos. Mas os laços criados durante a espera serão mantidos. E juntos, eles vão continuar a busca pelos familiares desaparecidos

Pedro Grigori - Especial para o Correio
postado em 27/06/2018 10:50
Rita abraça Iolanda: exame mostrou que as duas não são irmãs
A história dos supostos irmãos cearenses que se reencontraram 50 anos depois em Brasília teve um novo capítulo na noite de terça-feira (26/6). O resultado do exame de DNA atestaria se Rita Maria da Silva era, na verdade, Terezinha, a irmã caçula da família Espírito Santo, perdida desde os anos 1960. Em uma casa simples do Recanto das Emas, 20 netos, dez bisnetos e três tataranetos se reuniram para descobrir se o mistério do paradeiro de Terezinha teria chegado ao fim. Mas o resultado não foi o esperado. Rita Maria não é a criança perdida.

A história começou em 1959, quando a viúva Maria das Dores deixou Acaraú, no interior do Ceará, e mudou-se para Brasília com quatro filhos em busca de uma vida melhor, tendo que deixar para trás as duas caçulas. Ela voltou à cidade natal em 1967 para buscar as filhas, mas só encontrou uma das meninas. O paradeiro da mais nova era um mistério, pois os cuidadores dela haviam morrido, e ninguém sabia o que teria acontecido com a criança de 10 anos.

O Correio acompanhou o encontro dos supostos irmãos em 11 de junho deste ano. Diversas coincidências nas histórias, além das semelhanças físicas, levantaram a suspeita de que eles talvez fossem parentes. Enquanto a família Espírito Santo procurava Terezinha, Maria Rita tentava encontrar algum parente biológico após ter sido deixada pelos pais também em Acaraú.

Cléia Maria, Francisco Inácio, Zélia, José e Iolanda - os cinco irmãos Espírito Santo, receberam Maria Rita em casa, e ficaram absorvidos pela esperança de terem reencontrado a irmã. Trazida para Brasília por cuidadores, ela não tinha certidão de nascimento, então não sabe o nome dos pais e nem mesmo a idade que tem. Maria Rita lembra de poucos detalhes da vida no Nordeste. Entre eles, o motivo da morte do pai - que é o mesmo do da família Espírito Santo, e o nome de dois irmãos: Francisco e José. Que por coincidência, é o nome dos dois filhos de Maria da Dores.

Bárbara Cabral/Esp. CB/D.A Press - 26/6/2018

O resultado negativo decepcionou os familiares que prepararam uma festa para comemorar o reencontro com Terezinha. "Eu queria muito que eles fossem a minha família, eu gostei tanto das meninas, é um povo tão bom. Mas não vamos perder o contato, já me convidaram para um churrasco e vamos manter essa amizade e iremos nos ajudar encontrar nossas famílias", diz Rita.

Zélia abraçava Maria Rita na hora que o resultado do exame de DNA foi anunciado. "No dia que avistei ela pela primeira vez já fiquei muito emocionada, achei que era minha irmãzinha. Mas não vamos abandoná-la, ela é uma pessoa incrível. É uma pena que ela não seja a nossa Terezinha", conta.

Maria das Dores, hoje com 83 anos, acompanhou toda movimentação sentada em uma cadeira de balanço. A mulher, que tem alzheimer, não parecia entender o que estava acontecendo, e no momento de abrir o exame, chegou a perguntar se era a hora de cantar parabéns. "A mamãe não estava entendendo. Quando disse que talvez tivéssemos achado a Terezinha, ela respondeu que ia cuidar direitinho dela, achando que ela ainda era a criança que ela perdeu no Ceará", afirma Zélia.

O encontro

Foram mais de 50 anos sem notícias que levassem ao paradeiro de Terezinha ou da família de Maria Rita. A esperança surgiu quando a advogada Pâmella Cristina de Oliveira, 25, bisneta de Maria da Dores, encontrou uma postagem em uma rede social de Leânia Rangel, 35, filha de Rita, que buscava informações sobre famílias que tivessem deixado uma criança em Acaraú (CE).

Mesmo com o resultado negativo, as duas famílias prometeram não se separarem e nem pararem de procurar os parentes perdidos. "Eu creio que não vou morrer antes de conhecer algum parente de sangue. Dói muito não saber de onde eu vim, nem porque meus pais me deixaram. Preciso saber o que aconteceu", conta dona Rita.

Relembre os fatos


1959
Maria das Dores vem com quatro filhos para Brasília, deixando duas filhas no Ceará

1967
Maria volta para o Ceará para buscar as filhas, mas só encontra uma

1967
Rita vem para Brasília com um casal

2015
Leânia, filha de Rita, posta na internet a história da mãe na esperança de encontrar a família biológica

Maio de 2018
Pâmella, bisneta de Maria das Dores, encontra o relato de Leânia e marca um encontro entre as famílias

10 de junho de 2018
Rita se encontra com a família Espírito Santo. Os irmãos acreditam ter encontrado a caçula perdida, e decidem fazer um exame de DNA para confirmar o parentesco

26 de junho de 2018
Resultado do exame de DNA mostra que Rita não é filha de Maria das Dores. Buscas recomeçam

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